Com o seu lançamento no Natal de 2021 e as suas primeiras imagens oficiais reveladas hoje (12), nós já estamos tão acostumados com a cobertura do telescópio espacial James Webb no noticiário mundial que, facilmente, nos esquecemos que ele quase não existiu.

Na verdade, mesmo quando estava em pleno desenvolvimento, o épico projeto da NASA, por várias vezes, teve que lidar com a possibilidade de um corte definitivo, não fosse o trabalho de um homem chamado Greg Robinson. Vamos detalhar mais abaixo mas, basicamente, ele consertou falhas do telescópio e do time por trás dele – e olha que ele nem queria fazer isso.

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Greg Robinson, inicialmente, relutou em assumir a liderança do desenvolvimento do telescópio espacial James Webb. Anos depois de ser convencido a pegar o posto, ele se orgulha de ter encabeçado o lançamento de um dos maiores projetos da NASA
Greg Robinson, inicialmente, relutou em assumir a liderança do desenvolvimento do telescópio espacial James Webb. Anos depois de ser convencido a pegar o posto, ele se orgulha de ter encabeçado o lançamento de um dos maiores projetos da NASA (Imagem: NASA/Bill Ingalls/Reprodução)

Em meados de 2018, o projeto do James Webb parecia estar saindo dos trilhos novamente: todas as suas peças estavam completas, mas dificuldades apareceram na hora de montá-las e testá-las, forçando a NASA a pedir por mais tempo para completar o objeto, efetivamente adiando de novo o lançamento, o que acarretou na necessidade de mais dinheiro – isso, em meio a um governo estadunidense que já havia afundado, literalmente, bilhões de dólares em financiamento próprio e incentivo à iniciativa privada.

Foi neste momento que o Dr. Thomas Zurbuchen, administrador associado de Ciências da NASA, pediu que Greg Robinson tomasse as rédeas do projeto. “Eu gostava do meu trabalho da época”, disse Robinson em entrevista ao New York Times, quando falou sobre sua inicial recusa ao convite. Zurbuchen insistiu.

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“Ele tinha essa união de duas expertises”, disse Zurbuchen, também ao jornal. “A primeira é a de que ele já tinha visto e passado por muitos projetos, incluindo alguns bem problemáticos. A segunda é uma capacidade interpessoal de conquistar confiança. Ele pode entrar em uma sala, sentar-se em uma cafeteria e, na hora em que ele for embora, ele já conhece metade das pessoas do local”.

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Foi só em março de 2018 que Robinson, um homem de pele negra que, entre pouquíssimos, ascendeu a um cargo de direção na mais conhecida agência espacial do mundo, concordou em assumir o projeto. “Certamente, temos muitos”, ele disse ao NYT quando questionado sobre o volume de profissionais negros na NASA, “mas definitivamente não tantos quanto deveríamos”.

Formado em Matemática pela Universidade de Virginia Union graças a uma bolsa esportiva – a faculdade tinha um bom histórico no futebol americano (aquele da “bola” oval e que você joga com as mãos) -, Robinson ingressou à NASA em 1989, onde já ocupou posições como Diretor Geral do Centro Glenn de Pesquisas em Cleveland, e engenheiro chefe adjunto.

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Quando assumiu o desenvolvimento do James Webb, o telescópio já amargava um novo adiamento – de 2019 para maio de 2020. Logo no início de seu novo trabalho, um teste desastroso revelou vários problemas que precisavam ser resolvidos o quanto antes, incluindo um onde, basicamente, um time de engenheiros literalmente chacoalhou – com as mãos – o telescópio, e vários parafusos que seguravam seus imensos espelhos ficaram frouxos.

Se um time de técnicos com as próprias mãos fizeram isso, imagine o que fariam as vibrações extremamente violentas de um lançamento de foguete. “Esse único detalhe nos atrasou mais 10 meses”, disse Robinson, que agora viu mais um adiamento – desta vez, para março de 2021 – o quinto em um projeto que começou lá em 2002.

Depois disso, uma revisão técnica feita por auditoria independente enviou uma lista de 32 recomendações – incluindo uma que mencionava “uma revisão de toda a nave de transporte e do telescópio, em busca de ‘problemas incorporados’” – uma forma pomposa de se referir a possíveis imprevistos que o time poderia não ter visto (e que, invariavelmente, envolvia até mesmo a revisão do trabalho de empresas terceirizadas, como a Northrop Grumman, responsável pelos “parafusos frouxos”).

Ao final de tudo, a eficiência do time havia caído abaixo de 55%, segundo Robinson, pelo fato de que todas as mentes brilhantes do projeto estavam “com o pé atrás” sobre possíveis críticas: convenhamos, um projeto que começou na década anterior e que já havia multiplicado seu custo orçamentário pelo menos oito vezes tende a atrair o tipo errado de atenção quando erros começam a aparecer.

Segundo Zurbuchen, foi Robinson quem mudou as coisas após perceber que boa parte dos problemas vinha de erros humanos evitáveis. Com melhores práticas de comunicação e uma gestão mais participativa não só no que era bom, mas também nas partes ruins, em poucos meses a eficiência subiu para quase 95%.

Felizmente, uma série de novos problemas – um erro no fechamento do compartimento do foguete Ariane 5 que transportaria o telescópio e uma “coisinha à toa” chamada “pandemia” – não reduziram o ritmo de avanços do projeto, que singrou os céus em 25 de dezembro de 2021.

E como uma espécie de “saldo positivo de carma”, não apenas a partida do foguete foi sem nenhum percalço, o processo de comissionamento dos instrumentos do telescópio espacial também ocorreu sem problemas, e um orgulhoso Robinson finalmente pode dizer que entregou um trabalho longevo, que ainda vai perdurar anos a fio e influenciar a comunidade científica de várias maneiras.

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