Cientistas da Academia Chinesa de Tecnologia do Espaço argumentam a favor de um calendário de exploração espacial “livre de religiões”, afirmando em estudo que o uso de mecanismos centralizados em conceitos de fé – como calendários “antes” ou “depois de Cristo”, entre outras marcações, criam desafios desnecessários para analisar a passagem do tempo em outros planetas.

Segundo o estudo, os especialistas da academia afirmam a necessidade de se criar um método livre de dogmas de fé, baseando o “início do tempo” na frequência de sinal de um pulsar, nome mais específico comumente usado para se referir a uma estrela de nêutrons.

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Marcações de tempo e datas relacionadas à nossa rotina dogmática na Terra provavelmente não nos servirão no espaço, então cientistas chineses pedem pela implementação de um calendário livre de religiões
Marcações de tempo e datas relacionadas à nossa rotina dogmática na Terra provavelmente não nos servirão no espaço, então cientistas chineses pedem pela implementação de um calendário livre de religiões (Imagem: Min C. Chiu/Shutterstock)

Pode parecer um assunto minoritário, mas isso é porque a passagem do tempo é algo perfeitamente medido para nós – desde que dentro dos padrões da Terra. Fazer isso em Marte, por exemplo, é mais complicado: um sinal de rádio de lá para cá leva, em média, oito a 22 minutos para completar a viagem. Fora isso, a velocidade relativa dos dois planetas está em constante mudança, o que complica ainda mais o processo de medir o tempo.

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Desta forma, os cientistas sugerem usar como mecanismo de contagem o centro de massa do sistema solar como ponto de origem de coordenadas para determinar localizações no espaço. Desta forma, um pulso emitido por uma estrela de nêutrons pode ajudar a definir o começo da contagem de tempo a partir do momento em que este pulso chega ao centro de massa.

Isso porque, na Terra, usamos alguns padrões que servem para nós, que estamos dentro deles: o meridiano de Greenwich nos ajuda a controlar fusos-horários, um sistema de coordenadas baseado em latitude e longitude nos permite cruzar referências de tempo e posição, e o calendário gregoriano – determinado pelo nascimento de Jesus Cristo – “zerou” a contagem de anos e inverteu o que veio antes (é por isso que contamos os anos de “a.C” em ordem regressiva; e o “d.C” na ordem progressiva).

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“O ponto inicial do tempo usado pelo calendário gregoriano é relacionado à uma religião”, disseram os pesquisadores por trás do estudo. “Um novo tipo de [marcação do] tempo é necessário para os cálculos fora da Terra”. O único problema, de acordo com os especialistas, seria escolher o pulso específico de uma estrela de nêutrons para servir como elemento constante.

Segundo os autores, adotar um calendário livre de religiões pode ser ainda mais preciso, além de mais amplo, nos ajudando a determinar a posição de objetos fora do sistema solar com mais exatidão.

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Se afastar do esquema gregoriano é algo que tem ocupado a mente de vários cientistas, com um ou outro esforço tomando forma, ainda que de forma bem sutil: em países de idioma inglês, por exemplo, tornaram-se comuns as siglas “BCE” e “CE” – respectivamente “Before the Common Era” (“antes da Era Comum”) e “Common Era” (“Era Comum”), na tradução literal -, efetivamente abandonando o “antes” e o “depois” de “Cristo”.

Segundo Jonathan McDowell, astrofísico do Museu Smithsonian, na Universidade de Harvard, cientistas planetários já usam sistemas fora do que chamou de “esquema terracêntrico” para medir métricas de tempo em estudos pertinentes ao espaço. “São sistemas altamente precisos”, ele comentou.

O estudo foi publicado no Journal of Electronic Measurement and Instrumentation

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