Além da apreensão geral da comunidade astronômica sobre o crescente número de satélites na órbita baixa da Terra, cientistas e pesquisadores de defesa planetária também têm suas preocupações com o assunto.
Um estudo feito pela Apollo Pesquisas Acadêmicas em parceria com a Escola de Engenharia Franklin W. Olin, no estado norte-americano de Massachusetts, consultou especialistas em defesa planetária sobre uma série de tópicos relacionados a cometas e asteroides próximos à Terra (NEO, na sigla em inglês).
Todos os 34 profissionais entrevistados disseram estar pelo menos um pouco preocupados com o efeito da superlotação de satélites na detecção de asteroides, e 24% deles expressaram preocupação extrema.
“Estudos mostraram que os satélites na órbita baixa da Terra podem afetar severamente observações feitas durante o crepúsculo, e esse é um parâmetro importante para a pesquisa NEO”, escreveu um participante que não quis se identificar.
Cristina Thomas, da Universidade do Norte do Arizona, também participante do levantamento, apontou a questão do lançamento de missões de mitigação – por exemplo, o defletor de asteroides DART, da NASA – atravessando o que ela chama de “inundação de satélites artificiais”.
“Acho absolutamente terrível que nada concreto esteja sendo feito para combater essa questão”, escreveu. “Isso só vai piorar e causar muitos problemas para as descobertas terrestres”.
Alguns especialistas apontaram sistemas de observação baseados no espaço – o telescópio espacial NEO Surveyor, por exemplo, que a NASA espera lançar em 2028 – como o futuro do monitoramento de possíveis ameaças. “Os ativos espaciais são o avanço correto da descoberta do NEO. Os ativos de pesquisa baseados no solo são de menor importância”, observou outro participante anônimo.
Segundo o site Space.com, um dos programas de observação de asteroides com mais detecções, de acordo com a NASA, é o Catalina Sky Survey. “Estimei que uma megaconstelação Starlink totalmente incorporada pode degradar a eficiência de detecção da Catalina Sky Survey em alguns décimos de um por cento”, revelou Eric Christensen, da Universidade do Arizona, que atua como principal pesquisador do programa. “Mas outras pesquisas astrofísicas podem ser mais suscetíveis a ‘ruídos’ adicionais de trilhas de satélite”.
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Uma pesquisa divulgada em dezembro do ano passado revelou que se as coisas continuarem como estão, em breve, um em cada 15 pontos de luz no céu será um satélite. “Isso será devastador para a pesquisa em astronomia e mudará completamente o céu noturno em todo o mundo”, lamenta a autora do estudo Samantha Lawler, Ph.D. em Astronomia pela Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá.
Só a SpaceX já tem mais de 3 mil satélites implantados na órbita baixa da Terra, na megaconstelação da Starlink, o serviço de internet banda larga da empresa. Isso a torna uma das maiores responsáveis pela “superpopulação” de espaçonaves que podem prejudicar as observações astronômicas e a defesa planetária.
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