Os rovers da NASA em Marte não devem esperar detectar biomarcadores na superfície do Planeta Vermelho, de acordo com um novo estudo baseado em experimento a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS), que sugere que a radiação ultravioleta quebrará essas moléculas após apenas um ano ou dois.

Tanto Curiosity quanto Perseverance utilizam espectrômetros Raman para identificar compostos orgânicos e, potencialmente, moléculas biológicas na superfície de Marte.

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Um espectrômetro Raman usa um laser para excitar moléculas, e então a maneira como essas moléculas excitadas espalham a luz diz aos cientistas que tipo de moléculas são. Em particular, eles são sensíveis a compostos orgânicos, razão pela qual são uma ferramenta chave para ambos os rovers.

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No entanto, uma nova pesquisa, publicada nesta quarta-feira (7) na Science Advances, realizada na ISS e liderada por Mickael Baqué, do Centro Aeroespacial Alemão (DLR), colocou dúvidas sobre a utilidade dos instrumentos em Marte. Por causa de sua fina atmosfera e falta de blindagem magnética, Marte é inundado por uma torrente de luz ultravioleta do sol, que pode ser prejudicial às células biológicas.

Expose-R2 fica fora da ISS e hospeda materiais biológicos e organismos para teste (Imagem: Divulgação/Roscosmos)

A equipe de Baqué expôs amostra de sete tipos diferentes de biomoléculas em condições semelhantes a Marte por 469 dias no Biology and Mars Experiment (BIOMEX), que está instalado na plataforma Expose-R2 do lado de fora da ISS.

A temperatura, os ciclos de luz diários e os níveis de radiação ionizante foram adaptados para imitar Marte e a amostra foi colocada entre o regolito simulado de Marte. As biomoléculas envolvidas no experimento foram todas comumente encontradas em organismos: betacaroteno, clorofilina, naringenina, quercetina, melanina, celulose e quitina.

Normalmente, a espectroscopia Raman pode detectar todas essas sete biomoléculas. No entanto, ao final do experimento, a equipe de Baqué descobriu que apenas três – clorofilina, quercetina e melanina – permaneciam detectáveis e até mesmo seu sinal havia enfraquecido entre 30% e 50%.

A luz ultravioleta à qual as moléculas foram expostas as degradou a ponto de a Raman não poder reconhecê-las. Essas detecções implicam que Perseverance ou futuras missões rover ainda podem identificar biomarcadores enterrados na superfície. “A radiação ultravioleta penetra apenas nos primeiros micrômetros a milímetros da superfície marciana, portanto, compostos orgânicos e biomoléculas potenciais devem ser protegidos além dessas profundidades”, disse Baqué ao Space.com.

Enquanto isso, o rover Rosalind Franklin ExoMars, da Agência Espacial Europeia, levará broca robótica a Marte que será capaz de cavar dois metros na superfície. O lançamento desse rover foi adiado porque a Europa não cooperará mais com a Rússia por conta da invasão da Ucrânia, sendo que era a Rússia que iria deixar a broca em Marte.

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Testes na ISS indicam que os rovers marcianos precisam cavar fundo para achar vida (Imagem: Juergen Faelchle/Shutterstock)

Mesmo enfrentando lançamento não antes de 2028, o rover Rosalind Franklin oferece a melhor chance de encontrar vida em Marte desde as missões Viking, dizem os cientistas. Se o Rosalind Franklin encontrar evidências de vida microbiana, esses micróbios terão evoluído em ambiente muito hostil.

“A superfície marciana parece muito deletéria para os compostos orgânicos por causa da radiação ultravioleta, mas também (por causa de) substâncias oxidativas e, finalmente – mas o mais importante para a preservação a longo prazo ao longo de bilhões de anos – radiação ionizante”, disse Baqué.

Curiosamente, os resultados diferem daqueles de experimentos BIOMEX semelhantes que expuseram organismos intactos, vivos e mortos, a condições semelhantes banhadas em radiação ultravioleta.

Esses experimentos descobriram que as biomoléculas dentro do organismo permanecem intactas. Baqué disse que atribui essa discrepância à capacidade da vida de proteger suas próprias células.

“Assim como o regolito pode proteger moléculas diretamente expostas da fotodegradação pela radiação ultravioleta, outros componentes celulares podem desempenhar o mesmo papel nos organismos”, disse o pesquisador.

Os resultados significam, no entanto, que a Raman pode desempenhar papel menor na busca por vida marciana, parcial ou presente, do que os cientistas esperavam.

A equipe de Baqué concluiu que qualquer biomarcador na superfície se degradaria dentro de alguns anos, no máximo, o que significa que, a menos que Marte esteja repleto de vida suficiente para reabastecer constantemente esses biomarcadores, a superfície parecerá morta – o que pode ou não ser a verdadeira imagem.

Via Space.com

Imagem destacada: NASA/JPL–Caltech/MSSS

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