Um novo estudo publicado na Science apontou que alguns pontos de inflexão climática – também conhecidos como “pontos sem retorno”-, que destacam componentes-chave do clima, já foram alcançados e outros podem ser desencadeados por temperaturas muito mais baixas do que alguns cientistas pensavam.

Um exemplo de ponto de inflexão é quando a temperatura atinge um patamar capaz de afetar de forma irreversível a floresta amazônica, ou o manto de gelo da Groenlândia. Uma vez alcançado esse patamar, alguns efeitos nocivos para o planeta podem ser desencadeados, e mesmo que a temperatura retorne a um ponto anterior, os danos causados não são passíveis de reversão.

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No estudo, foram reavaliados dados de mais de 200 artigos sobre o tema dos pontos de inflexão publicados desde 2008. A partir desse escrutínio, os pesquisadores aumentaram os elementos-chave, que antes eram nove, para dezesseis. Quase todos os elementos podem chegar ao ponto de não retorno se o aquecimento global mantiver a temperatura da Terra em 1,5º C acima dos níveis pré-industriais.

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De acordo com a pesquisa, se o ritmo de aumento continuar como está, a previsão é de que esse número aumente para até 3ºC, o dobro do que se encontra hoje. Em um comunicado, o diretor do Instituto potsdam para pesquisa de impacto climático na Alemanha e coautor do estudo, Johan Rockström, disse que essa situação “coloca a Terra no caminho para cruzar vários pontos de inflexão perigosos que serão desastrosos para as pessoas em todo o mundo”.

Outro coautor do estudo, Tim Lenton, que também é diretor do Instituto de Sistemas Globais da Universidade de Exeter, no Reino Unido, declarou que “desde que avaliei pela primeira vez os pontos de inflexão climática em 2008, a lista cresceu e nossa avaliação do risco que eles representam aumentou drasticamente”. Lenton foi o autor principal do artigo original de pontos de inflexão, publicado em 2008, na revista PNAS, quando foram identificados os nove elementos-chave que poderiam atingir tal limiar devido às mudanças climáticas causadas pelo homem.

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Algum ponto de inflexão climática já foi atingido?

De acordo com o estudo, dois pontos estão na zona de perigo: as camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida Ocidental. Elas já estão além de seus pontos de inflexão potenciais mais baixos de 0,8º e 1ºC acima dos tempos pré-industriais, respectivamente. Para os pesquisadores, ambos os sistemas estão no fim do seu estoque.

Os outros 11 pontos de inflexão foram listados como “prováveis” ou “possíveis”, caso o aquecimento continue. A atual publicação refutou as estimativas feitas pelo Sexto Relatório de Avaliação das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, publicado em 2021 e 2022. Nesse documento, a humanidade teria um pouco mais de tempo para preparar estratégias de mitigação e adaptação, pois o ponto de inflexão só seria atingido com uma temperatura maior do que a prevista pelos cientistas.

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Esses dados mais acurados só surgiram porque os modelos climáticos utilizados foram melhorados e agora mostram que a queda de um ponto de inflexão poderia aumentar a probabilidade de colapso de outro, ou seja, trata-se de um sistema integrado.

Caso o permafrost ártico derreta devido ao aumento das temperaturas, isso liberará mais carbono na atmosfera. Essa situação elevará ainda mais a temperatura da superfície em terra e dos oceanos, o que acelera o derretimento das principais camadas de gelo. Um verdadeiro efeito dominó.

Os pesquisadores dizem que é necessário investir em ações que reduzam a emissão de gases de efeito estufa. Isso precisa ser feito antes de que os pontos de inflexão sejam atingidos e essa reação irreversível em cadeia comece. Caso contrário, a Terra poderá perder a estabilidade de suas condições habitáveis.

As esperanças de reversão são baixas

De acordo com os dados atuais, que demonstram o fraco progresso no combate às mudanças climáticas, pode ser inalcançável atingir, ao menos 50% de chance de limitar o aquecimento global e as emissões de gases de efeito estufa pela metade até 2030 e atingir o zero líquido até 2050.

A situação fica ainda mais desanimadora após observar como os países estão lidando com o caso. Em junho, a Suprema Corte dos EUA limitou severamente a capacidade do governo federal de regular as emissões de gases de efeito estufa, por exemplo.

Outra estratégia está em gerar forte conscientização social, capaz de forçar governos e grandes corporações a tomar medidas climáticas drásticas. O único problema é que essa conscientização precisa ser alcançada depressa.

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