Em maio, o Olhar Digital noticiou que a NASA havia decidido encerrar até o fim deste ano os trabalhos da sonda InSight, que investiga Marte desde novembro de 2018. A aposentadoria do equipamento será em razão do grande acúmulo de poeira nos painéis solares do módulo de pouso, que atualmente está produzindo menos de um décimo de sua capacidade total de energia.

Sonda InSight, da NASA, projetada para detectar abalos sísmicos em Marte, está com os dias contados, mas pode ganhar um fôlego extra. Imagem: NASA

Na ocasião, a agência espacial norte-americana revelou que os instrumentos seriam desligados ao longo do ano, com o “último off” acionado até dezembro, colocando um fim definitivo a essa missão histórica, que vem fornecendo medições sem precedentes sobre a atividade sísmica em Marte e até mesmo imagens fascinantes (como a de um nascer do Sol no Planeta Vermelho).

Acontece que a NASA resolveu estender os serviços da sonda, que ganhou um pouquinho mais de tempo para continuar registrando “martemotos” — e até mesmo tremores causados por impactos de meteoritos, como vimos esta semana.

De acordo com as novas estimativas, o equipamento deve continuar em operação até o fim de janeiro de 2023. “No entanto, se tivermos uma tempestade de poeira ou algo assim, então poderá ser mais cedo”, disse Chuck Scott, gerente de projetos da InSight no Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA. 

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Scott explicou ao site Space.com que a quantidade de energia que a InSight pode produzir a cada dia marciano (chamado de sol), depende de dois fatores: a poeira acumulada em seus painéis solares e aquela existente na atmosfera marciana. 

Imagens de antes e depois mostram o módulo de pouso InSight, da NASA, logo após seu pouso, em 2018 (à esquerda), e em maio deste ano, após a poeira acumulada nas matrizes solares cortar os níveis de energia do lander para apenas um décimo do que estavam no início da missão. Crédito: NASA/JPL-Caltech

Outros exploradores de Marte enfrentaram o mesmo problema. Embora os rovers Perseverance e Curiosity usem energia nuclear, seus antecessores, os rovers Spirit e Opportunity, também lutaram contra o acúmulo de poeira.

Esses motorcrafts, no entanto, contaram com a ajuda inesperada de rajadas de vento (ironicamente, causadas por tempestades de poeira), para “limpar” as matrizes solares, o que aumentou a produção de energia.

Segundo o JPL, a sonda InSight não teve a mesma sorte, e as tentativas de sacudir a poeira e simular um “evento de limpeza” não foram o bastante.

Agora, a área do planeta em que a sonda atua está entrando em uma estação durante a qual os cientistas geralmente observam algumas tempestades regionais de poeira, que eles pensavam que acelerariam o desligamento do aterrissador. No entanto, a temporada está começando mais suavemente do que no passado, o que dá esperanças à equipe InSight de continuar trabalhando com o equipamento.

“Esperávamos que houvesse algumas tempestades de poeira regionais e isso causaria um problema para nós”, disse Scott. “Mas, ao olhar para o clima este ano, acreditamos que não veremos nenhuma tempestade regional ainda por mais algumas semanas”.

Quando pousou, a sonda InSight poderia gerar 5.000 watts-hora cada sol (que é cerca de 40 minutos mais longo do que um dia terrestre). De lá para cá, a capacidade vem caindo. “Toda vez que houver uma tempestade ou algo assim em Marte, ela vai diminuir”, disse Scott. 

Segundo ele, algumas tempestades derrubaram 100 watts-horas de produção, outras chegaram a despencar até mil. “Isso varia dependendo do tamanho da tempestade”.

A espaçonave está atualmente produzindo cerca de 400 watts-hora cada sol, ou seja, menos de um décimo da capacidade que tinha no início. “O lander precisa fazer cerca de 300 watts-hora cada sol para manter o sismômetro, comunicações e funções básicas funcionando”, disse Scott.

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Em algum momento, quando o aterrissador já não conseguir atingir essa marca, ele se colocará no que o pessoal da missão chama de “ônibus morto”, que será quando sua bateria vai se esgotar por completo. “Chegará a um ponto em que a bateria falhará e não haverá como ela se reiniciar”, disse Scott.

Mesmo com o “ônibus morto” se aproximando, a equipe está trabalhando para obter todos os dados que puder da InSight. Por enquanto, o lander está usando cerca de metade do dia para carregar sua bateria e a outra metade para executar seu sismômetro. À medida que as fontes de alimentação forem se esgotando, essa proporção mudará, até que o módulo de pouso observe por oito horas de cada vez, com dois dias de recarga entre as sessões.

“Ainda estamos recebendo dados e ainda podemos ver coisas ocorrendo no sismômetro”, disse Scott, informando que o lander capturou um martemoto no fim de agosto. “Esperamos que isso continue até o fim da missão. Estamos nos esforçando para obter o máximo de ciência que pudermos do veículo, até que ele realmente morra”.

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