“Coitadinho, ele vai se sentir sozinho… vou deixar a TV ligada para dar a impressão de ter gente em casa”. Esse é o pensamento de muitos tutores quando precisam sair e deixar seu cachorro sem companhia em casa. Mas, será que essa medida é realmente benéfica para o animal?

Segundo a geneticista Camilli Chamone, palestrante, consultora em bem-estar e comportamento canino, editora das mídias sociais “Seu Buldogue Francês” e criadora da metodologia neuro compatível de educação para cães no Brasil, os peludos não percebem as imagens da televisão como nós enxergamos.

Camilli Chamone, geneticista, palestrante, consultora em bem-estar e comportamento canino, editora das mídias sociais “Seu Buldogue Francês” e criadora da metodologia neuro compatível de educação para cães no Brasil. Imagem: Seu Buldogue Francês

“A visão de um humano capta um vídeo na frequência de 60 hertz. Para o cachorro, essa frequência teria que ser 80 hertz. Então, na verdade, o que ele enxerga é um monte de imagens ao mesmo tempo e que não formam um vídeo contínuo – é como se fossem fotos sobrepostas, passando em uma supervelocidade”, explica Camilli.

Dessa forma, o estímulo visual intenso pode provocar ansiedade no animal. “Ao ser bombardeado com todas essas imagens, ocorre, no cérebro do cão, uma hiperestimulação visual, que gera a liberação de um neurotransmissor chamado noradrenalina – que, por sua vez, produz hiperestimulação do sistema nervoso central”, explica a geneticista. “Isso deixa o peludo ainda mais agitado, com comportamentos hiperativos (como latir demais, destruir objetos, se lamber de forma compulsiva ou dar corridas malucas pela casa, especialmente ao final do dia) e dificuldade para relaxar”.

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Ao produzir aceleração mental, essa hiperestimulação, segundo a profissional, atrapalha o foco e a concentração do bichinho. Por isso, ainda que o cachorro demonstre “interação” com a TV (mexer as orelhas ou a cabeça para um lado, levantar, arregalar os olhos, latir, abanar o rabo, etc), isso não indica diversão. Assistir TV, portanto, é uma necessidade humana de distração, mas não para o cachorro. 

Os cães são muito pouco desenvolvidos cognitivamente quando comparados aos seres humanos – por exemplo, se olham a sua própria imagem refletida no espelho, não conseguem compreender que são eles próprios. “Com a tela, é a mesma lógica”, explica Camilli. “Ele não entende que há, ali, imagens fictícias, podendo, inclusive, enxergar aquilo como uma situação de risco, dependendo do cenário”.

Para as pessoas, maratonar uma série pode ser legal e relaxante, mas os cães não fazem a mesma associação. “Não existe benefício cientificamente comprovado de colocar o cachorro ‘assistindo’ à televisão. Por isso, é fundamental respeitar essa espécie tão linda e diferente que trouxemos para casa”, recomenda a geneticista.

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Ela sugere que, em vez de ligar a TV, uma forma simples de estimular o cachorro positivamente é deixá-lo farejar, um comportamento natural para ele e que envolve o olfato, seu principal sentido.

“O dono pode enriquecer o ambiente ao esconder petiscos pela casa, por exemplo, colocando o olfato do peludo para trabalhar. Ao contrário da hiperestimulação visual, a estimulação olfativa produz relaxamento do sistema nervoso central. Se você quer um cachorro calmo, estimule o olfato, e não a visão”, assegura Camilli. “Quando sair sem o cachorro, substitua as telas por uma atividade dentro de casa que dê a ele a oportunidade de farejar”. 

Ela recomenda que, sempre que possível, as pessoas troquem a tarde na TV por um passeio no parque, com muita natureza e cheiros diferentes. “Corpos e mentes (de cachorros e de humanos) agradecem”.

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