Você já ouviu falar do gás do riso? Também chamado de gás hilariante, o componente é utilizado em muitos países durante procedimentos dentários ou partos, por exemplo. Segundo o Instituto Nascer, projeto gerenciado por um grupo de obstetras de Belo Horizonte (MG), o uso da substância, que é chamada de óxido nitroso (N2O), é comum no Canadá, Austrália e Reino Unido. Em doses baixas, obtém-se um efeito ansiolítico, que diminui a ansiedade, e analgésico, que ameniza a dor.

Representação de uma festa do “gás do riso” no século 19. Imagem: Science Museum Group, London, UK

Ao inalar o gás do riso, a pessoa entra em um estado de relaxamento e felicidade, uma sensação semelhante à que nos toma quando exageramos um pouco na bebida. Ainda não se sabe precisamente qual é o mecanismo de ação do gás, que foi descoberto em 1772 pelo químico inglês Joseph Priestley, segundo a revista Superinteressante.

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Alguns anos depois, percebeu-se que a substância provocava uma sensação agradável ao ser inalada. Não demorou muito para que passasse a ser “cheirada” em festas. E seu efeito anestésico foi descoberto exatamente assim.

Em 1844, o dentista americano Horace Wells estava em uma confraternização, quando reparou que um dos convidados que havia inalado o óxido nitroso se machucou, mas não aparentava sentir dor. Curioso, o dentista resolveu testar a substância e foi o primeiro paciente a ter um dente extraído após inalar o gás. 

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Em alguns países, como o Brasil, o óxido nitroso é permitido apenas para fins medicinais, servindo como ansiolítico, analgésico e anestésico. Imagem: Nourinet – Shutterstock

O continente europeu luta contra seu uso recreativo há alguns anos. Na Holanda e na França, o consumo já é proibido. Alemanha e Reino Unido também já demonstraram preocupação. No mês passado, o gás entrou na lista de substâncias psicoativas proibidas em Portugal, onde sua venda vai passar a ser tratada com tráfico de entorpecentes, conforme decisão publicada no Diário da República.

Aqui no Brasil, o óxido nitroso é permitido apenas para fins medicinais, tendo seu uso regulamentado pela Resolução 70/2008 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

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E parece que a existência do gás do riso não se restringe aos limites do nosso planeta. Uma equipe de cientistas da Universidade da Califórnia Riverside (UCR), nos EUA, sugere, em um artigo publicado este mês no Astrophysics Journal, que ele pode ser encontrado também no espaço.

Se isso for verdade, não seria algo simplesmente curioso (e divertido), mas também poderia indicar, segundo os autores do estudo, se um planeta é ou não habitável.

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“Poucos pesquisadores consideram seriamente óxido nitroso”, disse o astrobiólogo da UCR Eddie Schwieterman, principal autor da pesquisa, em um comunicado à imprensa. “Mas achamos que isso pode ser um erro”.

James Webb
O Telescópio Espacial James Webb, que veio para revolucionar as pesquisas em astronomia, pode detectar óxido nitroso em atmosferas de exoplanetas. Imagem: Dima Zel/Shutterstock

Schwieterman e sua equipe calcularam como organismos vivos regulares produzem óxido nitroso e inseriram esses dados em um modelo planetário. Eles, então, determinaram que exoplanetas habitáveis com atmosferas ricas em óxido nitroso poderiam ser detectados pelo Telescópio Espacial James Webb (JWST).

“Em um sistema estelar como o TRAPPIST-1, o melhor e mais próximo sistema para observar as atmosferas de planetas rochosos, você poderia detectar óxido nitroso em níveis comparáveis ​​ao CO2 ou metano”, disse Schwieterman.

Embora existam algumas situações não biológicas capazes de gerar óxido nitroso, como a pequena quantidade liberada por raios, a equipe da UCR contabilizou essa possibilidade em sua modelagem.

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Segundo o site Futurism, alguns cientistas apontam que o componente não existe em altas quantidades na atmosfera da Terra, apesar das incontáveis formas de vida aqui existentes. Schweiterman tem uma justificativa para isso. “Essa conclusão não explica períodos na história da Terra nos quais as condições oceânicas teriam permitido uma liberação biológica muito maior de óxido nitroso”, disse o astrobiólogo. “As condições nesses períodos podem espelhar as de um exoplaneta hoje”.

Schweiterman acredita que as observações do JWST, que apresenta as maiores capacidade de coleta de dados de todos os tempos, podem ajudar a “abrir a cabeça” desses cientistas para a hipótese de óxido nitroso como bioassinatura.

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