Uma equipe internacional de pesquisadores, liderada pelo Instituto Federal de Tecnologia (ETH) de Zurique, na Suíça, analisou um conjunto de mais de 20 tremores de terra recentes detectados pela sonda InSight, da NASA, em Marte.

Sonda InSight, da NASA, projetada para detectar abalos sísmicos em Marte, identificou região com atividade vulcânica de menos de 50 mil anos. Imagem: NASA

Esses “martemotos”, como são chamados, se originaram no sistema Cerberus Fossae — uma região que consiste em uma série de fendas relativamente profundas no solo marciano. 

publicidade

A partir dos dados sísmicos coletados, os cientistas concluíram que os tremores de baixa frequência indicam uma fonte potencialmente quente que poderia ser explicada pela presença de lava derretida nessas cavidades, sugerindo atividade vulcânica recente em Marte. 

Quando compararam dados sísmicos com imagens observacionais da mesma área, eles também descobriram depósitos mais escuros de poeira não apenas na direção dominante do vento, mas em múltiplas direções ao redor de Cerberus Fossae.

publicidade
Uma das fraturas que compõem o sistema Cerberus Fossae. As fendas cortam colinas e crateras, indicando sua relativa juventude. Imagem: ESA/DLR/FU Berlin, CC BY-SA 3.0

“A sombra mais escura da poeira significa evidências geológicas de atividade vulcânica mais recente — talvez nos últimos 50 mil anos — relativamente jovem, em termos geológicos”, explica Simon Staehler, cientista sênior do ETH Zurique e autor principal do estudo, descrito em um artigo publicado quinta-feira (27) na revista Nature Astronomy

Conforme destaca o site Phys.org, explorar nossos vizinhos planetários não é uma tarefa fácil. Marte é o único planeta, além da Terra, no qual os cientistas conseguiram pousar rovers, sondas e drones para coletar e transmitir dados. Todas as outras explorações planetárias, até o momento, se baseiam em imagens orbitais, feitas por satélites.

publicidade

“O SEIS, da InSight, é o sismômetro mais sensível já instalado em outro planeta”, diz Domenico Giardini, pesquisador de sismologia e geodinâmica do ETH Zurique, referindo-se ao instrumento Seismic Experiment for Interior Structure (Experimento Sísmica de Estrutura Interna, em tradução livre). “Ele oferece aos geofísicos e sismólogos a oportunidade de trabalhar com dados atuais mostrando o que está acontecendo em Marte hoje — tanto na superfície quanto em seu interior.” Dados sísmicos, juntamente com imagens orbitais, garantem um maior grau de confiança para inferências científicas, segundo Giardini.

Marte é um referencial importante para entender processos geológicos semelhantes na Terra. O Planeta Vermelho é o único que conhecemos, até agora, que tem uma composição central de ferro, níquel e enxofre que poderia ter suportado um campo magnético. Evidências topográficas também indicam que Marte já teve vastas extensões de água e, possivelmente, uma atmosfera mais densa. 

publicidade

Cientistas já descobriram que a água congelada, embora em forma de gelo seco, ainda existe nas calotas polares marcianas. “Apesar de serem necessárias pesquisas mais aprofundadas, a evidência de potencial magma em Marte é intrigante”, disse Anna Mittelholz, bolsista de pós-doutorado na ETH Zurique e na Universidade de Harvard.

Olhando para imagens da vasta paisagem marciana seca e empoeirada é difícil imaginar que cerca de 3,6 bilhões de anos atrás Marte era extremamente vivo, pelo menos no sentido geofísico. 

Ele expeliu detritos vulcânicos por tempo suficiente para dar origem à região dos Montes Tharsis, o maior sistema vulcânico do nosso Sistema Solar, e ao Monte Olimpo, um vulcão com quase três vezes a elevação do Monte Everest.

Os tremores vindos do sistema Cerberus Fossae — assim batizado em referência a uma criatura da mitologia grega conhecida como o “cão infernal de Hades”, que protege o submundo — sugerem que Marte ainda não está morto. 

Leia mais:

Segundo o estudo, que envolveu cientistas da ETH Zurique, de Harvard, da Universidade de Nantes (França), do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) de Paris, do Centro Aeroespacial Alemão (DLR) e do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), o peso da região vulcânica está afundando e formando fendas paralelas que empurram a crosta marciana para fora, assim como as rachaduras que aparecem no topo de um bolo enquanto está assando. 

Para Staehler, “é possível que o que estamos vendo sejam os últimos remanescentes desta região vulcânica outrora ativa ou que o magma esteja agora se movendo em direção leste para o próximo ponto de erupção”.

Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!