Na última semana, a Netflix lançou um novo plano em seu serviço, o Básico com anúncios. Como o nome já diz, esta nova faixa do streaming é diferente das demais por incluir propaganda durante os conteúdos, com a contrapartida de ser mais barata do que todos os demais planos da Netflix. Mas pagar um pouco a menos compensa neste caso? O serviço vale a pena?

Pensando nesta questão, o Olhar Digital testou o plano Básico com anúncios da Netflix, uma experiência com altos e baixos. A assinatura do plano segue o padrão de qualquer assinatura do serviço, que apenas adicionou mais uma faixa de preço aos três demais já existentes.

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Também é possível migrar o seu plano sem anúncios para este, com a vantagem de ser R$ 7,00 mais barato que o plano Básico comum, sem anúncios. Para fazer o teste, criamos uma conta no novo plano do serviço para testar o funcionamento e a experiência de assistir à Netflix com anúncios.

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Imagem: Netflix

Impressões do Básico com anúncios

A primeira impressão é familiar para quem já assina ou assinou o serviço. No entanto, a diferença aparece logo que você escolhe algo para assistir e abre o player. Imediatamente, surge um anúncio na grande maioria dos conteúdos – embora em alguns poucos momentos não tenha surgido o anúncio no começo.

A quantidade e tamanho dos anúncios variam bastante. Cheguei a me deparar com nenhum, um ou dois anúncios apresentados ao começar a execução de um conteúdo. Este tipo de anúncio, antes do começo de um filme ou série, não é incômodo, principalmente para aqueles acostumados com anúncios em plataformas de vídeo como o YouTube.

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Imagem: Captura de Tela/Netflix

Nenhum anúncio oferece a opção de pular após alguns segundos, no entanto. Durante o anúncio, é apresentado no canto superior direito da tela o número de propagandas que serão exibidas naquele momento, e uma contagem regressiva para o fim dela.

No computador, a exibição da peça publicitária é interrompida ao trocar a guia no navegador, mas continua quando uma janela diferente é aberta. Ao deixar o conteúdo durante um anúncio e retornar à página inicial da Netflix, ao iniciar ele novamente logo em seguida outro anúncio é exibido desde o começo.

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Assim, não é possível assistir ao anúncio, sair do conteúdo, e voltar a assistir sem o anúncio inicial. Mas, como já mencionado, este anúncio inicial não atrapalha a experiência em nada, apenas atrasa um pouco o começo da exibição dos títulos.

Entretanto, existem também anúncios durante os conteúdos do catálogo da Netflix, que interrompem a exibição em momentos aleatórios – apesar de, pelo menos nos diversos anúncios assistidos por nós, isto acontecer durante cortes, não quebrando cenas ao meio.

Ao contrário dos anúncios iniciais, estes que pausam o conteúdo durante a exibição são bastante incômodos, e alguns são longos demais, com até quatro anúncios em seguida com um total de 75 segundos (pelo menos que tenhamos visto).

Quebrar um conteúdo em momentos aleatórios torna a experiência de assistir ao streaming menos interessante e é, sem sobra de dúvidas, um grande ponto negativo de se assinar o plano com anúncios.

Muitas vezes, produções como “Dahmer: Um Canibal Americano”, um dos conteúdos escolhidos para o teste, são pausados em momentos tensos para a exibição de uma publicidade, quebrando um pouco o encanto e a tensão de conteúdos de suspense ou terror, por exemplo.

Por outro lado, o número de 4 a 5 minutos de anúncios por hora em média divulgado pela Netflix, aparenta ser obedecido, e não foi ultrapassado em nenhum momento durante os nossos testes. Em alguns momentos, inclusive, a minutagem de anúncios por hora ficou bem abaixo desta média.

Os momentos em que a minutagem ficou bem abaixo aconteceram durante a exibição de novos filmes originais. Ao assistir aos filmes “Enola Holmes 2” e “Nada de Novo no Front”, com 2h10 e 2h28 de duração, respectivamente, nenhum anúncio interrompeu as produções, sendo exibidos apenas no começo das obras.

Confirmamos que este fato não é exclusivo de filmes, levando-se em consideração que o romance natalino original Netflix de 2019 “Deixe a Neve Cair” teve interrupções por anúncios. Assim, tanto séries quanto filmes possuem pausas para exibição de peças publicitárias.

Além das pausas que interrompem conteúdos em momentos inesperados, outro pequeno incômodo foi um fator que a Netflix afirmou que evitaria: a repetição de alguns anúncios. Este foi um ponto destacado pela companhia na apresentação em que anunciou o lançamento do serviço, mas a repetição das mesmas peças publicitárias em conteúdos consecutivos aconteceu algumas vezes.

O que o plano tem de diferente dos demais?

A plataforma da Netflix com anúncios é exatamente a mesma em relação aos demais planos. Os Perfis estão presentes, a exibição dos conteúdos é a mesma e até mesmo o player em que assistimos aos conteúdos segue igual.

Mas, além dos próprios anúncios, existe algo bem significativo que é diferente entre os planos: a disponibilidade de alguns conteúdos. A Netflix já havia afirmado que nem todo o seu catálogo estaria disponível no plano com anúncios, devido a “restrições de licenciamento”, fato apresentado aos usuários durante a assinatura do plano.

Os conteúdos não disponíveis aparecem sinalizados com um cadeado vermelho no canto superior direito, como é possível ver em alguns conteúdos na captura de tela abaixo, como as séries “Vikings” e “Suits” e o filme “1917”:

Imagem: Captura de Tela/Netflix

Ao abrir um destes conteúdos, o usuário se depara com uma mensagem que explica que aquela série ou filme está indisponível para o plano Básico com anúncios, com a Netflix sugerindo a troca de plano para assistir ao conteúdo desejado, como é possível visualizar abaixo:

Imagem: Captura de Tela/Netflix

Vale a pena assinar a Netflix com anúncios?

Com as semelhanças com os demais planos e alguns pontos negativos, a pergunta que fica é se vale mesmo assinar a Netflix com anúncios. A resposta fica longe de um sim ou não retumbante.

A economia de R$ 7,00 mensais que pode ser feita pelos assinantes do plano Básico ao migrar para o Básico com anúncios é de R$ 84,00 ao ano, um valor que pode ser significativo, dependendo do poder aquisitivo do assinante. Além disso, os anúncios não incomodam tanto quanto o imaginado inicialmente.

Existem alguns momentos em que a quebra de produções deve irritar os usuários? Certamente. Ao assistir ao episódio inicial de “Dahmer: Um Canibal Americano”, que possui 49 minutos de duração, a Netflix exibiu dois anúncios no começo e houve duas interrupções durante o episódio, uma com quatro anúncios que totalizaram 75 segundos, e outra de dois anúncios que ocuparam 45 segundos.

Outro ponto a se levar em consideração é a restrição de alguns conteúdos relevantes, que estão disponíveis nos planos sem anúncios, mas não no que inclui a exibição de propaganda.

Para aqueles usuários que não se importam com algumas ausências levando em consideração o catálogo volumoso da Netflix, e que aceitariam a publicidade em troca de alguns reais gastos a menos por mês, acredito que vale a pena assinar este novo plano.

Além disso, o usuário eventual, que assina a Netflix apenas para maratonar algum conteúdo específico, pode encontrar no plano Básico com anúncios uma opção bastante viável, reduzindo o custo com uma perda bem pequena, que é a exibição de anúncios.

Mas, existem sim um número considerável de pontos negativos que podem fazer com que muitos optem por permanecer no plano Básico. Já para quem assina os planos Padrão e Premium, tanto pela qualidade de imagem superior quanto pelo número de telas simultâneas para dividir com outras pessoas em sua casa, o Básico com anúncios não compensa.

Soma-se a este público aqueles que se incomodam com anúncios, os que não querem ter os conteúdos interrompidos ao meio, e também quem não deseja ter seu catálogo limitado por restrições de licenciamento.

Concluindo, se os R$ 7,00 mensais não fizerem muita diferença na sua vida, permaneça na Netflix sem anúncios. Agora para quem tem um poder aquisitivo inferior, ou é um usuário eventual do streaming, o Básico com anúncios é uma opção bastante viável, e em alguns momentos passa desapercebido.

No final das contas, os anúncios são bem menos incômodos do que assistir a um conteúdo em um canal de TV, por exemplo, em que as interrupções são mais constantes e, muitas vezes, mais longas.

Como a Netflix chegou aqui?

A adição de anúncios nos streamings é uma discussão antiga, e já está presente em alguns serviços nos Estados Unidos.

No Brasil, o Prime Video possui anúncios antes da execução de conteúdos, mas apenas internos, sobre outras produções do próprio streaming. Lá fora, esta modalidade de plano já é mais comum, com serviços como o Hulu e o Peacock oferecendo opções mais baratas para aqueles que aceitem a inclusão de propaganda no conteúdo.

A Netflix relutou bastante até chegar ao ponto de lançar este novo plano. Em janeiro de 2020, o CEO da Netflix, Reed Hastings, afirmou que o serviço permaneceria sem anúncios. Mas isto não durou muito, principalmente com a queda em número de assinantes no começo de 2022.

“Acreditamos que, com o nosso modelo, conseguiremos receita maior, lucros maiores e capitalização de mercado maior porque não temos a exposição a algo em que estamos estrategicamente em desvantagem”, disse Hastings na época.

No entanto, com a perda de mais de 200 milhões de assinantes, a Netflix retrocedeu e decidiu lançar o plano com anúncios. “Está bem claro que está funcionando para o Hulu, a Disney está fazendo isso, a HBO fez isso. Não temos dúvidas de que funciona”, disse Hastings já em 2022.

Em junho deste ano, a companhia confirmou a criação do plano financiado por anúncios, e houve até mesmo especulações de que poderia ser lançado um plano gratuito, mas isto não se concretizou. Já em outubro, a Netflix anunciou o lançamento do serviço para 3 de novembro, oferecendo os detalhes sobre o novo plano.

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