O que diz a mensagem escrita mais antiga do mundo?

Descoberta arqueológica em Israel traz a mensagem escrita mais antiga de que se tem notícia gravada em um pente de marfim
Por Flavia Correia, editado por Lucas Soares 10/11/2022 14h06, atualizada em 17/11/2022 14h16
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Um artigo publicado no periódico científico Jerusalem Journal of Archaeology descreve a descoberta da mensagem escrita mais antiga do mundo, que foi grafada em um tipo de pente de marfim com um alfabeto que, posteriormente, evoluiria para o que conhecemos hoje.

O instrumento de dentes finos foi encontrado há vários anos em Tel Lachish, uma antiga cidade cananeia que ficava a cerca de 40 km a sudoeste de Jerusalém, mas só pouco tempo atrás é que os cientistas notaram a existência de 17 letras minúsculas.

O pente de marfim com letras canaanitas e dentes quebrados descoberto a 40 km de Jerusalém. Créditos: Dafna Gazit, Autoridade de Antiguidades de Israel

Juntas, as marcas quase imperceptíveis formam sete palavras separadas, “ytš ḥṭ ḏ lqml ś(r w]zqt”, que se traduz aproximadamente em: “Que esta presa arranque os piolhos do cabelo e da barba”.

“Esta é a primeira frase encontrada na língua cananeia em Israel”, segundo Yosef Garfinkel, professor de arqueologia pré-histórica e de arqueologia do período bíblico da Universidade Hebraica de Jerusalém.

Isso é importante porque a escrita canaanita (também conhecida como alfabeto fenício) é o mais antigo exemplo conhecido de um alfabeto, que seria adaptado e adotado por culturas em todo o mundo. A maioria dos abecedários modernos provém dessas letras originais e antigas, incluindo o árabe, o grego, o hebraico, o latim e o russo.

Essa é a mensagem escrita mais antiga encontrada

“A inscrição do pente é uma evidência direta para o uso do alfabeto em atividades diárias há cerca de 3.700 anos. Este é um marco na história da capacidade humana de escrever”, disse Garfinkel para o site Science Alert.

O pente é feito de presa de elefante e tem apenas 3,66 centímetros de comprimento e 2,51 centímetros de largura. A inscrição rasa em seu corpo é ainda menor. Algumas letras não passam de um único milímetro. Outras sumiram ao ponto de serem praticamente ilegíveis, tornando-as difíceis de interpretar sem seus vizinhos para o contexto.

Um lado do pente contém os restos de seis dentes grandes, provavelmente para escovar os cabelos, enquanto o outro lado apresenta restos de 14 dentes finos, provavelmente para a remoção de piolhos e lêndeas.

Restos de uma lêndea entre dois dentes quebrados do pente de marfim antigo. Imagem: Vainstub et al., Jerusalem Journal of Archaeology

No lado mais fino do pente, um dos dentes apresentava restos de lêndea de um tipo de piolho muito antigo. Embora esta não seja a evidência mais remota de piolhos já encontrados – algumas amostras descobertas em cabelos humanos datam de pelo menos 10 mil anos – o material do objeto sugere que mesmo os cananeus ricos estavam irritados com esses incômodos rastejantes.

Isso porque o marfim usado para fazer o pente foi provavelmente importado de elefantes do Egito, o que indica que o utensílio era pertencente a alguém rico o suficiente para adquirir um luxo estrangeiro. 

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A datação radiométrica do pente não teve sucesso, mas com base em outros artefatos encontrados anteriormente na mesma área, pesquisadores suspeitam que a ferramenta foi inscrita na Idade do Bronze, por volta de 1.700 AEC*.

Além disso, a julgar pelo estilo das letras arcaicas, especialistas acham que as palavras foram escritas no “estágio mais antigo do desenvolvimento do alfabeto”, não muito tempo depois que o abecedário canaanita veio a se estabelecer.

*Era Comum (EC) e Antes da Era Comum (AEC) são as nomenclaturas atualizadas para os termos Depois de Cristo (D.C.) e Antes de Cristo (A.C.)

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Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.