Nos últimos dias, uma sucessão de avistamentos de objetos voadores não identificados (os chamados OVNIs) na região sul do Brasil vem intrigando os pilotos de aviões, a comunidade científica e a população em geral. Afinal, o que de fato seriam as luzes observadas em movimento tanto a partir das cabines de comando de aeronaves quanto registradas e compartilhadas nas redes sociais por observadores ao chão?

Tudo isso pode ter relação com a SpaceX. Mas, primeiro, para entendermos todo o contexto, vale recapitular os estranhos acontecimentos que vêm sendo relatados desde as últimas semanas de outubro.

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Relato de avistamento de OVNIs em 22 de outubro de 2022

Na noite do dia 22, um sábado, pilotos da Azul Linhas Aéreas que conduziam um voo comercial de São Paulo (SP) para Porto Alegre (RS) disseram ter avistado uma luz estranha ao passar sobre Santa Catarina, semelhante ao farol de um avião. No entanto, não havia qualquer outra aeronave nos radares na mesma região.

Duas semanas depois, também em um sábado (5), tanto pilotos da Azul quanto da Latam comunicaram novas aparições à torre de controle do Aeroporto Internacional Salgado Filho, na capital gaúcha. 

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Escutas aéreas feitas pelo canal Câmera Aeroporto Salgado Filho na noite de sábado (5) e na madrugada de domingo (6)

Esses avistamentos, no entanto, não começaram naquela região. “Na verdade, a gente está vendo essas luzes desde lá de Confins (MG). São três luzes girando em espiral entre elas aqui, bem forte”, descreveu o comandante do voo Azul 4657.

Três dias depois, na última terça-feira (8), pilotos de quatro aeronaves distintas relataram a mesma coisa: o surgimento de luzes atípicas um pouco acima da linha do horizonte. Eles foram orientados a “efetuar filmagens, a fim de permitir análise do padrão de movimento do objeto avistado”.

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OVNIs não são, necessariamente, objetos extraterrestres

É importante reforçar o significado da sigla OVNI: objeto voador não-identificado. Ou seja, tudo aquilo que se vê voando no céu, mas que não se pode ter certeza do que é. Não, necessariamente, seriam naves alienígenas ou coisa parecida.

Inclusive, de acordo com vários funcionários do Departamento de Defesa dos EUA (DoD), que falaram anonimamente ao The New York Times na última semana, grande parte das aparições reportadas no mundo todo trata-se, em sua maioria, de balões meteorológicos e dispositivos de vigilância.

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Segundo essas fontes, mesmo as imagens mais impressionantes, que parecem desobedecer às leis da física, são provavelmente resultados de ilusões de ótica.

Para o colunista do Olhar Digital Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) e diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON), essas luzes podem estar relacionadas a reflexos de raios do Sol nos painéis solares de satélites.

“A hipótese que estamos trabalhando, e que me parece mais coerente, é o que chamamos de ‘flyers de satélite’, que são reflexos da luz do Sol nos painéis de satélites que passam a milhares de quilômetros de distância”, disse Zurita. No Olhar Espacial desta sexta-feira (11), o especialista deu mais detalhes. Confira:

Ok, mas e a SpaceX?

É aí que entra a SpaceX. Mais especificamente, o fenômeno está sendo chamado, na verdade, de “Starlink-Racetrack Phenomenon” ou “Starlink Flare“, tendo em vista a enorme população de equipamentos da megaconstelação de satélites de internet banda-larga da empresa de Elon Musk, que já passam de três mil. Muitos deles podem ser vistos a olho nu. 

Zurita destaca um vídeo gravado pelo astrofotógrafo Gabriel Zaparolli, morador do município de Torres, no extremo norte do litoral Atlântico do Rio Grande do Sul, na divisa com Santa Catarina.

Embora análises preliminares das imagens captadas por Zaparolli apontem com quase 100% de certeza que se tratam mesmo de satélites Starlink refletindo a luz solar, isso continua sendo apenas a hipótese mais provável. “O que temos são suposições, que envolvem também a possibilidade de serem drones ou aeromodelos iluminados de alguma forma diferente. Mas, não parece ser nada que esteja brilhando ao passar pela atmosfera não”, explicou Zurita, afirmando que um dos trabalhos da BRAMON é justamente proceder com a análise de registros captados por câmeras de segurança, observatórios ou enviados por cinegrafistas amadores.

Além dos avistamentos relatados pelos pilotos e do vídeo gravado pelo astrofotógrafo de Torres, dezenas de outros registros têm circulado nas redes sociais. Para Zurita, eles não necessariamente têm relação entre si. “Certamente, vai ser muito difícil a gente identificar todos esses fenômenos observados no sul, porque, provavelmente, eles têm causas e origens diferentes uns dos outros. Desde a notícia dos primeiros relatos dos pilotos passando sobre Santa Catarina em direção a Porto Alegre, essas observações começaram a se multiplicar, acredito que por estarem todos em alerta e muito atentos ao céu, esperando registrar alguma coisa”. 

Segundo Zurita, a questão é que, para esses casos, a explicação encontrada pode desanimar aqueles que esperam que sejam confirmados extraterrestres passando pelo nosso planeta. “A princípio, muitos casos não poderão ser explicados, por falta de dados mesmo. E, para aqueles que contém dados, as análises indicam aviões em alguns dos registros, em outros, satélites. Até mesmo foram confirmados fenômenos puramente óticos, como reflexos na lente ou coisas do tipo”.

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FAB se pronuncia sobre os avistamentos dos pilotos

Em comunicado, a Força Aérea Brasileira (FAB) declarou que, nos últimos dias, o controle do espaço aéreo ocorreu dentro da normalidade e que não houve registro de ocorrência aeronáutica no Rio Grande do Sul. “Nenhum objeto desconhecido foi identificado pelos radares de defesa aérea”.

Essa série de relatos de aparições (que vem também do Uruguai e da Argentina), além dos vídeos feitos pelos pilotos, estão sob análise do Observatório Astronômico Cosmos, em Itaara, na região central do estado. “Isso mostra que estamos diante, no momento, de um fenômeno aéreo não identificado”, disse ao G1 o diretor da entidade, Hernan Mostajo. “Veja bem, não quer dizer que daqui a uma semana ou um mês não possamos identificar”.

Segundo Mostajo, o material foi enviado a pesquisadores da NASA, a agência espacial norte-americana, que avaliam fenômenos aéreos não identificados (UAPs, na sigla em inglês).

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