Você está pronto para viver em Marte? No que depender das ambições do excêntrico bilionário Elon Musk, isso pode se tornar realidade em um futuro não tão distante quanto se pensa. O empresário sul-africano-canadense, naturalizado norte-americano, pretende colonizar o Planeta Vermelho e estabelecer por lá uma cidade autossustentável, que pode servir de lar para um milhão de pessoas, tornando a humanidade multiplanetária.

Colonizar Marte dentro das próximas três décadas talvez esteja no topo da lista dos projetos mais ambiciosos de Musk. Entre os planos do fundador da SpaceX, CEO da Tesla, vice-presidente da OpenAI, presidente da SolarCity e agora novo proprietário do Twitter, está também implantar chips nos cérebros das pessoas por meio da Neuralink, empresa da qual é fundador e CEO. 

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Em 2016, quando anunciou seu grande objetivo de criar uma colônia humana em Marte, Elon Musk esperava ver uma missão tripulada ao nosso vizinho planetário acontecer logo em 2024. Mais adiante, ele recalculou seus planos para 2026 e, depois, cravou 2029 como meta. Se isso se concretizar, a primeira viagem tripulada a Marte acontecerá 60 anos depois do primeiro pouso humano na Lua, em 1969. 

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Principal desafio para alcançar Marte, segundo Elon Musk

Segundo Musk, o principal obstáculo a ser superado é o financeiro. Ele afirma que sua Starship é a espaçonave mais complexa já construída “por uma ordem de magnitude”, e que seu principal critério de otimização é o custo por tonelada para a órbita terrestre e, eventualmente, até Marte. 

“Há um custo por tonelada para a superfície de Marte a partir do qual podemos arcar com o custo de manter uma cidade autosustentável”, disse o executivo durante uma entrevista ao podcast de Lex Friedman, em janeiro deste ano. “Hoje, você não conseguiria voar até Marte nem por US$ 1 trilhão, então temos que superar isso”.

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Elon Musk investigado por autioridades federais nos Estados Unidos pela compra do Twitter
O bilionário Elon Musk, que há pouco tempo concluiu a compra do Twitter, pretende criar uma cidade autossustentável em Marte. Imagem: Goodread Bio/Flickr

Na ocasião, ele também enfatizou que a estratégia para Marte é diferente do programa Apollo, da NASA, que levou seres humanos à Lua entre 1969 e 1972. “Com Marte, nosso objetivo não é deixar pegadas e bandeiras e não retornar por 50 anos. Precisamos ser uma espécie multiplanetária”, disse o bilionário, usando o termo que ele costuma adotar para se referir ao fato de que os humanos poderão não apenas visitar Marte, como, ainda, optar viver por ali.

Voo de teste orbital da Starship não decola

No entanto, para tudo isso vir a ser possível, primeiro a Starship deve sair do chão. E, até agora, isso vem se mostrando cada vez mais difícil de acontecer.

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A Starship consiste em um enorme propulsor de primeiro estágio chamado Super Heavy e uma espaçonave de 50 metros de altura também batizada de Starship. Ambos os elementos serão totalmente reutilizáveis, e os dois serão alimentados por motores Raptor de próxima geração da SpaceX, sendo 33 para o propulsor e seis para a cápsula.

Para levar astronautas a Marte, a SpaceX criou o maior sistema de lançamento espacial na história, com 120 metros de altura, formado pelo propulsor Super Heavy e a espaçonave de estágio superior Starship. Imagem: NasaSpaceFlight

Se tudo correr de acordo com o plano, o próximo teste de voo orbital será conduzido pelos protótipos Booster 7 e Ship 24. A SpaceX tem realizado testes de motores com ambos os veículos nos últimos meses na Starbase, a instalação da empresa no Sul do Texas. 

Esse voo de teste vai decolar da Starbase, enviando a cápsula Ship 24 em uma viagem orbital que terminará com um mergulho de pouso no Oceano Pacífico, perto da ilha havaiana de Kauai. O Booster 7 deverá cair no Golfo do México, ao largo da costa do Texas, pouco depois do lançamento.

Embora a licença de espectro de rádio tenha sido emitida pela Comissão Federal de Comunicações dos EUA (FCC) em agosto, pouco depois da conclusão da análise ambiental feita pela Administração Federal de Aviação (FAA) , essa não é a única aprovação necessária para autorização do voo.

A SpaceX ainda está aguardando a licença para o lançamento, documento regulatório que deve ser expedido pela FAA – o mesmo órgão responsável pela concessão da licença ambiental da Starbase, conforme dito acima (e que levou quase seis meses para ser concluída).

É importante destacar que a data de vencimento do documento emitido pela FCC vai até 3 de janeiro do ano que vem. Portanto, se a licença para o lançamento for despachada após essa data, a SpaceX deve solicitar uma renovação da licença de espectro de rádio. Ou seja, as datas precisam se alinhar, do contrário, a Starship não decola.

Pelo menos, não da Starbase. Mas a SpaceX está trabalhando para construir um outro local de lançamento para o colossal veículo. A empresa está modificando a histórica Plataforma de Lançamento 39A, no Centro Espacial Kennedy (KSC), da NASA, na Flórida, para acomodar os lançamentos de seu megafoguete, que será o maior e mais poderoso veículo espacial já lançado.

Viver em redomas de vidro

Vamos seguir adiante e imaginar que todo esse processo envolvendo a Starship já tenha sido superado. Que as primeiras viagens tripuladas a Marte já tenham sido feitas com sucesso. E que, agora, os seres humanos podem morar no Planeta Vermelho. Certo, e como isso se daria?

Entre as Montanhas Vermelhas, concepção artística representando uma colônia em Marte - Imagem HP Mars Home Planet
“Entre as Montanhas Vermelhas”, concepção artística representando uma colônia em Marte. Imagem: HP Mars Home Planet

Elon Musk explica que a vida em Marte vai começar com redomas de vidro que serão terraformadas “para suportar vida, como a Terra”. A terraformação é um processo de modificação de atmosfera, temperatura, ecologia e topografia de um planeta para suportar um ecossistema como o da Terra. Vale lembrar que, pelo menos por enquanto, esse conceito é apenas hipotético.

O empresário reconhece que o processo “será lento demais para ser relevante em nossa vida”. E completa: “No entanto, podemos estabelecer uma base humana lá enquanto estamos vivos. Pelo menos uma futura civilização espacial, descobrindo nossas ruínas, ficará impressionada com o quão longe os humanos chegaram”.

E quando comenta que esse processo será lento, o empresário tem razão. Em uma análise recente, especialistas concluíram que podem ser necessárias 3.500 ogivas nucleares explodindo diariamente para aumentar a pressão atmosférica de Marte a níveis respiráveis.

No entanto, mesmo que isso seja possível um dia, há um grande obstáculo nesse processo. A radiação resultante tornaria a superfície completamente inabitável. Mesmo ciente disso, Musk não parece ter a menor intenção de desistir da ideia de formar uma cidade em Marte. 

Por que construir uma cidade em Marte

Musk planeja construir uma cidade em tamanho real na superfície de Marte, a ser habitada por pessoas comuns, não apenas cientistas e pesquisadores.

De acordo com o site Inverse, interessados em se mudar para Marte poderiam custear suas despesas de voo com um empréstimo. Uma vez lá, as pessoas poderiam pagar o empréstimo trabalhando em qualquer coisa, desde fundições de ferro até pizzarias. 

O projeto da cidade de Marte desenvolvido pela SpaceX. Imagem: Divulgação/SpaceX

Ainda de acordo com a publicação, a cidade seria livre para governar-se em seus próprios termos. Isso parece estar em contradição com o Tratado Espacial Exterior de 1967, que afirma que o país de origem de lançamento é responsável pelas atividades espaciais subsequentes. 

Segundo Paul Wooster, principal engenheiro de desenvolvimento de Marte da SpaceX, a empresa poderia construir não somente uma, mas várias cidades. “A ideia seria expandir-se, começar não apenas com um posto avançado, mas crescer em uma base maior, não apenas como há na Antártida, mas realmente uma aldeia, uma cidade, crescendo em uma metrópole e, depois, várias cidades em Marte”, disse ele na 21ª Convenção Anual da Sociedade Internacional de Marte, em agosto.

O objetivo declarado – e ousado – de Musk com isso é expandir a existência da humanidade no universo. Ele sempre cita diversas razões para isso. 

Um dos pontos é que um novo evento de extinção massiva na Terra poderia significar o fim da humanidade – que poderia sobreviver se fosse capaz de estabelecer base em um novo planeta, como Marte. “A Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos, mas a vida ainda não é multiplanetária e é extremamente incerto quanto tempo falta para se tornar assim”, escreveu Musk no Twitter em novembro de 2021. 

Segundo ele, esse cenário catastrófico pode ser provocado tanto pelas mudanças climáticas quanto por um ataque de asteroides.

Em fevereiro deste ano, Musk também declarou que uma razão para a humanidade se tornar multiplanetária é porque somos “guardiões da vida, e as criaturas que amamos não sabem construir naves espaciais, mas nós sabemos e podemos trazê-las conosco”.

Musk não é a primeira pessoa a pedir que colonizemos outro planeta. Em 2017, o físico Stephen Hawking disse que os humanos precisariam se expandir dentro de 100 anos se desejassem sobreviver. 

Para o astrofísico britânico e professor emérito na Universidade de Cambridge, Martin Rees, a ideia é uma “ilusão perigosa” e “lidar com as mudanças climáticas na Terra é nada em comparação a tornar Marte habitável”.

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