Derivado de Cannabis na dieta das vacas pode ter efeito na qualidade do leite; entenda

Os cientistas concluíram que a alimentação de vacas leiteiras com cânhamo pode representar um risco para a saúde de certos grupos
Por Isabela Valukas Gusmão, editado por Lucas Soares 18/11/2022 07h30, atualizada em 21/11/2022 14h10
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Após introduzir cânhamo industrial na alimentação de vacas leiteiras, pesquisadores observaram a ocorrência de várias mudanças físicas e comportamentais nesses animais. As alterações mais proeminentes estavam relacionadas com o bocejo, salivação e movimentos.

De acordo com os cientistas, esse estudo foi feito para tentar relacionar consequências do cânhamo na saúde humana, já que a popularidade de produtos com esse tipo de cannabis, cresceu nos últimos anos, em uma variedade incrível produtos, como cosméticos, alimentos, biocombustíveis, plásticos biodegradáveis, materiais de construção, alimentos e ração animal.

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O cânhamo é uma das plantas de crescimento mais rápido da Terra e tem sido cultivado por seres humanos há milhares de anos. Apesar de pertencer à mesma espécie de planta que a Cannabis sativa, o cânhamo tem níveis muito mais baixos do canabinoide THC, uma substância psicoativa, e altos níveis de canabidiol, que tem um grande potencial farmacológico.

Alguns grupos veterinários, da indústria de alimentos para animais e de segurança animal, alertaram contra a alimentação de animais com produtos de cânhamo até que uma pesquisa demonstre a segurança de usar esse tipo de produto na dieta dos animais. Após esse alerta, os pesquisadores decidiram analisar os efeitos de dar ração contendo cânhamo industrial a 10 vacas leiteiras.

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Imagem: Fotografia de uma vaca. Créditos: Alena Demidyuk/Shutterstock

Para compreender os efeitos, os cientistas analisaram o leite, o sangue e as fezes dessas vacas, além de observar outras questões mais pontuais e comportamentais. Dentre as alterações notadas estava o aumento do bocejo, salivação, movimentos instáveis, secreções nasais, jogo pronunciado da língua e uma vermelhidão da membrana nictitante – uma terceira pálpebra transparente presente em alguns animais – bem como outros efeitos.

Além disso, foram observadas mudanças significativas na frequência respiratória e cardíaca, bem como uma redução da ingestão de ração e da produção de leite. Todas as alterações observadas desapareceram dentro de dois dias após a interrupção da alimentação com o cânhamo.

Análise da composição do leite após a ingestão de Cannabis

A análise do leite que as vacas produziram mostrou uma transferência de Cannabis, incluindo THC, do cânhamo para o produto lácteo. A quantidade de THC no leite atingiu níveis que poderiam exceder a dose aguda de referência em alguns grupos de consumidores se fosse ingerida por seres humanos. A dose aguda de referência é a quantidade estimada de uma substância que pode ser ingerida num período de 24 horas sem quaisquer riscos identificáveis para a saúde.

“Níveis mais altos de ingestão são indesejados, uma vez que podem ocorrer efeitos adversos”, disse Robert Pieper, autor do estudo que está no Instituto Federal Alemão de Avaliação de Risco de Berlim, à Newsweek. “Esses níveis de exposição podem afetar especialmente o sistema nervoso central – por exemplo, aumento da sedação, desempenho prejudicado da memória de trabalho e alterações de humor”.

Logo, os cientistas concluíram que a alimentação de vacas leiteiras com cânhamo pode representar um risco para a saúde de certos grupos de consumidores. Ainda são necessários mais estudos para avaliar os impactos da Cannabis.

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Isabela Gusmão é estagiária e escreve para a editoria de Ciência e Espaço. Além disso, ela é nutricionista e cursa Jornalismo, desde 2020, na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.