A China deve anunciar uma flexibilização de seus protocolos de quarentena da COVID-19 nos próximos dias e uma redução nos testes em massa, o que significa uma mudança marcante na política de restrições mais duras que alimentaram protestos generalizados por várias cidades no país.

Manifestações desse porte nunca haviam sido vistas na China e atingiram recordes, e as mudanças ocorrem no momento que algumas cidades estão suspendendo bloqueios, e especialistas locais informaram que a capacidade do vírus de causar doenças está enfraquecendo.

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As autoridades de saúde que anunciaram a flexibilização em suas áreas não mencionaram os protestos – a maior demonstração de desobediência civil na China em anos – que variaram de vigílias à luz de velas em Pequim a confrontos de rua com a polícia em Guangzhou.

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As medidas a serem divulgadas incluem uma redução no uso de testes em massa, bem como medidas para permitir que casos positivos e contatos próximos se isolem em casa sob certas condições, disseram as fontes familiarizadas com o assunto.

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Isso está muito longe dos protocolos usados anteriores e que causaram revolta na população, pois comunidades inteiras foram bloqueadas, às vezes por semanas, após apenas um caso positivo.

A irritação passou dos limites na semana passada em demonstrações de desafio público sem precedentes na China continental desde que o presidente Xi Jinping assumiu o poder em 2012. A agitação ocorre quando a economia está prestes a entrar em uma nova era de crescimento muito mais lento do que o visto em décadas.

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Teste positivo para Covid-19. Imagem: Shutterstock

Na noite da última quinta-feira (24), passageiros de um trem em Xangai relataram terem recebido um documento não identificado em seus smartphones dizendo que a vida na China só melhoraria se houvesse uma remoção total dos bloqueios e que Xi renunciasse – uma tática aparentemente nova em meio a uma forte presença policial em algumas cidades antes do fim de semana.

Mudança de regras

Menos de 24 horas após os violentos protestos em Guangzhou na terça-feira (29), as autoridades em pelo menos sete distritos do extenso centro industrial disseram que estavam suspendendo os bloqueios temporários. Um dos distritos disse que permitiria a reabertura de escolas, restaurantes e empresas, incluindo cinemas. Cidades como Chongqing e Zhengzhou também anunciaram flexibilização.

O vice-primeiro-ministro Sun Chunlan, que supervisiona os esforços do COVID, disse em uma reunião de especialistas da linha de frente que a variante Omicron estava enfraquecendo em sua capacidade de causar doenças, permitindo que a China melhorasse os esforços de prevenção.

“Depois de quase três anos lutando contra a epidemia, o sistema médico e de saúde de nosso país resistiu ao teste”, disse ele em comentários publicados pela agência oficial de notícias Xinhua.

“A taxa de vacinação de toda a população excede 90% e a conscientização e qualidade da saúde pública melhorou significativamente”, disse ela.

A mídia estatal informou que Sun disse um dia antes que a China estava enfrentando uma “nova situação” em sua resposta ao COVID e pediu mais “otimização” das políticas de teste, tratamento e quarentena.

A menção ao enfraquecimento do COVID contrasta com as mensagens anteriores sobre a letalidade do vírus.

“O discurso (anterior) de Sun, além da notável flexibilização das medidas de controle do COVID em Guangzhou ontem, envia mais um forte sinal de que a política de zero-COVID terminará nos próximos meses”, disseram analistas da Nomura em nota. “Esses dois eventos talvez apontem para o início do fim do COVID-0 zero”, finalizaram.

Em Pequim, algumas comunidades começaram a se preparar para as mudanças. Um grupo no leste da cidade realizou uma pesquisa online nesta semana sobre a possibilidade de isolamento de casos positivos em casa, disseram moradores.

“Eu certamente saúdo a decisão de nossa comunidade de realizar esta votação independentemente do resultado”, disse o residente Tom Simpson, diretor-gerente para a China no China-Britain Business Council.

Ele disse que sua principal preocupação era ser forçado a entrar em uma instalação de quarentena, onde “as condições podem ser no mínimo sombrias”.

subvariantes Ômicron
Imagem: shutterstock/Fit Ztudio

O proeminente comentarista nacionalista Hu Xijin disse em um post de mídia social na quarta-feira que muitos portadores assintomáticos de coronavírus em Pequim já estavam de quarentena em casa.

Reabertura?

Cresceram as expectativas em todo o mundo de que a China, embora ainda tente conter infecções, possa reabrir suas fronteiras em algum momento do próximo ano, assim que atingir melhores taxas de vacinação especialmente entre seus idosos, que hesitam em tomar a vacina.

Especialistas em saúde alertam sobre o elevado risco de doenças e mortes generalizadas caso as restrições de COVID sejam flexibilizadas antes que a vacinação seja intensificada.

As ações e os mercados chineses em todo o mundo caíram inicialmente após os protestos do fim de semana em Xangai, Pequim e outras cidades, mas depois se recuperaram na esperança de que a pressão pública pudesse levar a uma nova abordagem das autoridades.

Mais surtos de COVID podem pesar sobre a atividade econômica da China no curto prazo, disse o Fundo Monetário Internacional nesta última quarta-feira (30), acrescentando que vê espaço para uma recalibração segura das políticas que podem permitir a retomada do crescimento econômico em 2023.

As rígidas medidas de contenção da China reduziram a atividade econômica doméstica este ano e se espalharam para outros países por meio de fortes interrupções na cadeia de suprimentos. Dados pessimistas apontaram que a atividade fabril foi reduzida pelo quarto mês consecutivo.

Embora a mudança de tom em relação ao COVID pareça uma resposta ao descontentamento público com medidas rígidas, as autoridades também procuram interrogar os presentes nas manifestações.

O China Dissent Monitor, administrado pela Freedom House e financiada pelo governo dos EUA, estimou que pelo menos 27 manifestações ocorreram em toda a China de sábado até segunda-feira. O think tank australiano ASPI estimou 51 protestos em 24 cidades.

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