Conforme noticiado pelo Olhar Digital na última semana, a startup aeroespacial sul-coreana Innospace vai lançar seu primeiro foguete a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), espaçoporto da Agência Espacial Brasileira (AEB) localizado na costa atlântica norte do Brasil, no estado do Maranhão, também chamado de Base de Alcântara.

Startup sul-coreana Innospace deve lançar foguete a partir da Base de Alcântara ainda este ano. Créditos: Innospace

Um Boeing 747-400, a cargo da companhia norte-americana National Airlines, pousou no Aeroporto Internacional Marechal Cunha Machado, em São Luís, na noite de 3 de dezembro, um sábado, trazendo o foguete a bordo. 

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Após aterrissar no Brasil, o foguete seguiu para a cidade de Alcântara, a cerca de 30 km da capital maranhense, em uma viagem que durou 40 horas – entre trajeto fluvial e terrestre.

Mas, por que a Innospace escolheu a Base de Alcântara?

Esta será a primeira vez desde sua inauguração, em 1º de março de 1983, que a Base de Alcântara sediará a decolagem de um foguete de uma empresa privada, colocando à prova o potencial do cosmódromo brasileiro para lançamentos espaciais.

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Créditos: Força Aérea Brasileira (FAB)

Vantagens do Centro de Lançamento de Alcântara:

  • Base de lançamento mais próxima da Linha do Equador (apenas 2 graus e 18 minutos), fazendo com que os voos partindo de lá cheguem mais rápido ao espaço devido à velocidade de rotação da Terra, o que gera economia de até 30% combustível;
  • A disposição da península de Alcântara permite lançamentos em todos os tipos de órbita, desde as equatoriais (em faixas horizontais) às polares (em faixas verticais), e a segurança das áreas de impacto do mar que foguetes de vários estágios necessitam;
  • Não há tráfego marítimo e aéreo, oferecendo segurança e proteção, principalmente por estar fora de áreas residenciais;
  • O clima estável, o regime de chuvas bem definido e os ventos em limites aceitáveis tornam possível o lançamento de foguetes em praticamente todos os meses do ano;
  • Devido a essas características, é o único concorrente à altura do Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa.

O presidente da AEB, Carlos Moura, revelou ao site Tilt que a expectativa para o lançamento é de que ocorra entre esta sexta (16) e a segunda-feira (19). Segundo ele, o processo depende ainda de algumas questões logísticas. “O que esperamos é que o lançamento ocorra provavelmente à 1h da madrugada”.

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O lançamento vai acontecer apenas três meses após a assinatura do contrato com a Força Aérea Brasileira (FAB), que se deu em 29 de setembro. Trata-se de um voo de teste, e o foguete não vai ultrapassar 100 km de altitude. Assim, o veículo não entrará em órbita, sendo o voo classificado como suborbital. 

Segundo o presidente da AEB, o contrato assinado entre os sul-coreanos e brasileiros tem duração de 5 anos e prevê que a partir de 2023 outros foguetes sejam lançados de Alcântara, com percurso orbital maior e configurações evoluídas, para implantar satélites no espaço.

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Em seu site, a Innospace diz que a Base de Alcântara faz parte de uma meta de ter plataformas de lançamentos em todos os continentes. No caso do CLA, a demanda vai atender aos países da América do Sul. 

“O papel da FAB e CLA é muito similar ao de um aeroporto. Eles proveem toda a infraestrutura de solo, os apoios logísticos e depois, para o lançamento, o sistema de rastreio, de terminação de voo e o acompanhamento de toda essa missão, depois que o foguete já estiver voando”, explica Moura. “Cabe à empresa as operações específicas com o foguete e depois com a análise dos dados”, completa. 

Em relação aos custos dessa operação para o Brasil, o presidente da AEB disse apenas que esta não é ainda uma ação de caráter comercial. “Ela se enquadrou como uma cooperação internacional. Então, a empresa tem a oportunidade de usufruir dos serviços de apoio de lançamento oferecidos pelo espaçoporto de Alcântara”.

Para Moura, o lançamento do foguete sul-coreano pode colocar o Brasil na rota de países usados para decolagem de voos aeroespaciais. “É só uma questão de tempo para que as empresas possam começar a estabelecer bases produtivas no Brasil”. 

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50 lançamentos, seis falhas e um acidente grave

Dos 50 lançamentos já feitos a partir da Base de Alcântara, seis falharam. O mais recente deles aconteceu em 23 de outubro deste ano, com o foguete VSB-30, produzido pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), que concluiu a missão com sucesso. A decolagem se deu às 14h20, chegando ao apogeu com 4 minutos e 1 segundo, com altitude de 227 km.

Imagem de uma câmera de vigilância na base de lançamento em Alcântara mostra o incêndio que sucedeu a explosão do VLS-1. Créditos: CTA

Três dias antes do 32º lançamento, em 22 de agosto de 2003, o Veículo Lançador de Satélites VLS-1 V03, brasileiro, explodiu por volta das 13h30 (hora local), matando 21 técnicos, engenheiros e cientistas. 

Após cerca de um ano, investigações apontaram como causa da explosão uma descarga elétrica de origem indeterminada. O objetivo da missão era colocar o microssatélite meteorológico SATEC, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o nanossatélite Unosat, da Universidade do Norte do Paraná, em órbita circular equatorial a 750 km de altitude.

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