*Por Mara Marques
O que você faz nos dias livres? Provavelmente busca conexão com a natureza – seja em uma praia distante ou em um parque na cidade onde mora. Essa característica de escolher um ambiente natural para descansar está em nosso DNA e foi ela que consolidou os jardins zoológicos modernos como opções de lazer.
Alternativa para inserir os visitantes em meio à flora e a à fauna, mesmo em centros urbanos, os zoológicos agregaram diferentes funções desde o seu surgimento. De coleções particulares da Idade Média eles passaram a focar exclusivamente em pesquisas para só depois assumirem o papel de promotores da diversão. Hoje, entretanto, a missão desses equipamentos é bem mais ampla: serem reconhecidos como espaços de aprendizado e refúgios de conservação.
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À missão de entreter e pesquisar, soma-se a responsabilidade de sensibilizar para questões ambientais, já que a educação é o caminho mais propício para criar consciência e aumentar o engajamento. Afinal, a maior propensão de agir em favor de um assunto que entendemos e com o qual temos uma conexão emocional é outra característica humana.
Um exemplo que ilustra bem é o conjunto de áreas expositivas criadas para alertar sobre impactos ambientais do Zoo Zurich, na Suíça. Um dos recintos foi dedicado a contrastar a importância do Pantanal com as consequências do tráfico de animais. Isso comove e ensina.
Outro case vem do Zoo de Beauval, na França, que apoia projetos de proteção a espécies ameaçadas e mostra que essa iniciativa tem relação direta com a venda de ingressos. Isso traz aos visitantes não somente transparência sobre a destinação do dinheiro como o sentimento de que eles fizeram algo para cuidar desses animais.
Essas iniciativas são parte de muitas outras e ganharam força recentemente, quando o Zoológico de São Paulo recebeu, no final de novembro, durante o Congresso Brasileiro de Zoológicos de Aquários, especialistas de diversas nacionalidades comprometidos no compartilhamento de histórias que permitam que os equipamentos sigam cumprindo esse novo papel. E aqui peço licença para sinalizar dois pontos que são extremamente relevantes para o Brasil neste ano e que foram luz neste rico encontro.
O primeiro deles é a renovação do termo de Cooperação Técnica assinado entre o Zoológico de São Paulo e a Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (Azab) para programas de conservação de 20 espécies ameaças de extinção. Cada programa de conservação pode envolver diferentes zoológicos e aquários nacionais e, em diversos casos, internacionais também. O Zoológico de São Paulo já atuava nestes programas, porém com a mudança de gestão e renovação do parque, o acordo foi renovado e ganhou tração na área técnica.
Já o segundo é o marco institucional que o Congresso representou: ele ocorreu exatos 30 anos depois da primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Conferência Eco-92 ou Rio-92, realizada no Rio de Janeiro no ano de 1992, nos mostrando que ainda há muito a ser feito.
O fato é que, hoje, estes profissionais trabalham, nós trabalhamos para que, mais do que diversão, os visitantes saiam dos zoológicos com conhecimento e vontade de mudar. Afinal, a gente não tem a perspectiva de olhar pelo retrovisor. Isso nos dá a base de quem nós fomos, mas estamos preocupados com o que nós queremos ser. O passado é a nossa marca, mas a gente olha para a frente.
*Mara Marques é bióloga da Fundação Parque Zoológico de São Paulo e presidente da Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (Azab)
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