Um remanescente de supernova é uma nuvem em expansão de gás e poeira que marca a última fase da vida de uma estrela, depois de explodir. Até agora, o número de restos de supernovas detectados pelos astrônomos com radiotelescópios é muito baixo – cinco mil vezes menor do que o previsto em modelos computacionais.

Número de remanescentes de supernovas detectados por radiotelescópios é cinco mil vezes menor do que a quantidade verdadeira existente na Via Láctea. Imagem: janceluch – Shutterstock

Então, onde estariam os demais? Combinações de dados de dois dos principais radiotelescópios da Austrália, o Australian Square Kilometer Array Pathfinder (ASKAP) e o Parkes/Murriyang, foram usadas por pesquisadores canadenses para responder a essa pergunta – revelando, de quebra, rádio imagens únicas da Via Láctea que, juntas, trazem a visão mais detalhada já obtida da galáxia. 

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No registro, é possível notar filamentos finos e nuvens aglomeradas associadas ao gás hidrogênio preenchendo o espaço entre as estrelas. Vemos também os locais em que novas estrelas estão se formando, além dos remanescentes de supernovas. 

Visão normal (à esquerda) em comparação com a visão combinada de imagens de rádio da Via Láctea. Créditos: R. Kothes/NRC/E. Carretti/INAF

Apenas na região analisada, que corresponde a cerca de um por cento de toda a Via Láctea, foram detectados mais de 20 possíveis remanescentes de supernovas até então desconhecidos (onde somente sete já haviam sido identificados).

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Mapeando a Via Láctea com o EMU

Andrew Hopkins, astrofísico de renome internacional e atual presidente da Sociedade Astronômica da Austrália, lidera o Programa do Mapa Evolutivo do Universo (EMU, na sigla em inglês), “um projeto ambicioso com a ASKAP para fazer o melhor atlas de rádio do Hemisfério Sul”.

Segundo ele, o EMU medirá cerca de 40 milhões de novas galáxias distantes e buracos negros supermassivos, para ajudar os astrônomos a entender como as galáxias mudaram ao longo da história do Universo.

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Área da Via Láctea que será coberta pelo EMU em sua totalidade, formando um Emu no céu. Imagem: Evolutionary Map of the Universe 

Em um artigo publicado no site The Conversation, Hopkins diz que, para qualquer telescópio, a resolução de suas imagens depende do tamanho de sua abertura. “Interferômetros como o ASKAP simulam a abertura de um telescópio muito maior. Com 36 pratos relativamente pequenos (cada um com 12 metros de diâmetro), com uma distância de 6 km conectando o mais distante deles, o ASKAP atua como um único telescópio com um prato de 6 km de largura”.

Isso, explica Hopkins, dá ao ASKAP uma boa resolução, “mas vem à custa da falta de emissão de rádio nas maiores escalas”. 

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Para compensar a falta dessa informação, a equipe de Hopkins recorreu a um projeto complementar chamado PEGASUS, liderado por Ettore Caretti, do Instituto Nacional de Astrofísica da Itália.

Imagem combinada ASKAP/EMU mais Parkes/PEGASUS. Créditos: R. Kothes/NRC/E. Carretti/INAF.

O PEGASUS usa o telescópio Parkes/Murriyang de 64 metros de diâmetro – um dos maiores radiotelescópios de prato único do mundo – para mapear o céu.

Mesmo com um prato tão grande, Parkes tem uma resolução bastante limitada. “Ao combinar as informações de Parkes e ASKAP, cada um preenche as lacunas do outro para nos dar a melhor imagem de fidelidade desta região da nossa galáxia Via Láctea”, disse Hopkins.

Tal combinação revela a emissão de rádio em todas as escalas para ajudar a descobrir os restos de supernova desaparecidos.

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A ligação entre os conjuntos de dados do EMU e do PEGASUS vai permitir aos astrônomos revelar mais joias ocultas. “Nos próximos anos teremos uma visão sem precedentes de quase toda a Via Láctea, cerca de cem vezes maior do que esta imagem inicial, mas com o mesmo nível de detalhe e sensibilidade”, garante Hopkins.

Segundo ele, as estimativas apontam que pode haver até 1.500 ou mais novos remanescentes de supernovas ainda a serem descobertos. “Resolver o quebra-cabeça desses restos desaparecidos abrirá novas janelas para a história da nossa Via Láctea”.

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