Os mortos do Antigo Egito geralmente passavam por um meticuloso e detalhado processo de mumificação. Agora, a análise sobre resíduos de cerâmicas usados em uma antiga oficina de embalsamentos pode mostrar aos pesquisadores um pouco mais sobre esse processo.

O estudo recentemente publicado na revista Nature já analisou o resíduo de 31 vasos, usando cromatografia gasosa e espectrometria de massa para identificar quais materiais eram usados nos embalsamentos. 

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Além disso, muitos dos recipientes em que eles estavam foram conservados, preservando o nome dos seus ingredientes e suas instruções de uso. Isso permitiu que os pesquisadores vinculassem em que parte do corpo era usado cada substância.

A oficina em que os recipientes com os resíduos foram encontrados, datam de 664 a 525 AEC. Eles foram encontrados em 2018 no complexo funerário de Saqqara, por uma equipe de pesquisadores egípcios e alemães. 

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Na oficina, também foram encontrados utensílios como copos medidores e tigelas com escritas sobre o seu conteúdo e uso. Além disso, foram encontradas múmias, canopos contendo seus órgãos e estatuetas ushabati, que os egípcios acreditavam que seriam usados para servir aos mortos na pós-vida.

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Uso dos componentes

Maxime Rageot, que liderou a pesquisa, explicou que vários dos componentes dos resíduos foram completamente inesperados. Ingredientes que eles acreditavam se tratar de uma coisa, na verdade eram outras completamente diferentes. 

A substância rotulada pelos antigos egípcios como antiu há muito foi traduzida como mirra ou incenso. Mas agora conseguimos mostrar que na verdade é uma mistura de ingredientes amplamente diferentes

Maxime Rageot, em resposta a Sciencealert

No caso do antiu, a análise revelou que na verdade tratava-se de uma mistura que continha óleo de cedro, óleo de cipreste e gordura animal, mas que o mesmo nome poderia indicar outras combinações em diferentes lugares e períodos.

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Nos recipientes, instruções como “usar na cabeça”, “enfaixar ou embalsamar” e “tornar seu odor agradável” mostrou que resina de pistache e óleo de rícino eram ingredientes usados apenas na cabeça do morto. Geralmente esse dois ingredientes eram encontrados em misturas junto com outros ingredientes.

  • cabeça: resina de pistache e óleo de rícino, em misturas que também podiam conter resina de elemi, óleo vegetal, cera de abelha e óleos de árvores.
  • pele: gordura animal e cera de abelha
  • bandagens: óleos de árvores ou alcatrões, juntamente com óleo vegetal ou gordura animal
  • mau cheiro: gordura animal e resina de Burseraceae

Comércio global

A composição dos resíduos também mostram como o comércio global funcionava naquele período. Pistache, óleo de cedro e betume provavelmente são componentes que vieram de Levante na costa leste do Mediterrâneo e próximo ao Egito.

Já outros ingredientes como o elemi e o dammar vieram de regiões mais longes do globo, eles cresceram no Sudeste Asiático e provavelmente vieram de lá. Os pesquisadores destacam que essas longas distâncias percorridas para conseguir esse componente podem ter ajudado a estabelecer uma extensa rede comercial do globo.

Os outros recipientes encontrados na oficina continuam a ser estudados e os pesquisadores acreditam que podem aprender muito sobre os egípcios decifrando os componentes desses resíduos.

Graças a todas as inscrições nos vasos, no futuro seremos capazes de decifrar ainda mais o vocabulário da química egípcia antiga que não entendíamos suficientemente até o momento

Philipp Stockhammer, arqueólogo e um dos autores do estudo, em comunicado

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