Ocorrida em 1986, a explosão da usina de Chernobyl – maior acidente nuclear da história – iniciou uma série de eventos catastróficos, levando à contaminação ambiental generalizada e de longo prazo nas áreas próximas.

Enquanto as pessoas foram evacuadas da cidade de Pripyat (norte da Ucrânia) e de toda a área num raio de 30 quilômetros do local do acidente, muitos cachorros continuaram por lá, resultando na diferenciação genética entre eles, segundo um novo estudo.

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Cachorro de rua na antiga cidade abandonada de Pripyat, arruinada após o desastre nuclear de Chernobyl. Imagem: Sergii Blinov – Shutterstock

Com o passar do tempo, esses animais começaram a ser abatidos pelas autoridades locais. Alguns dos que escaparam continuaram circulando pela região radioativa, o que os tornou “geneticamente diferentes”. Estima-se que atualmente existam cerca de 800 cachorros vivendo dentro da zona de exclusão radioativa.

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Alterações genéticas dos cães de Chernobyl

No estudo, publicado no início do mês na revista Science Advances, um grupo de pesquisadores avaliou o genoma de cães em três regiões diferentes próximas a usina de Chernobyl: a própria usina, a cidade de Chernobyl (a cerca de 15 quilômetros da explosão) e a cidade de Slavutych (a 45 quilômetros do local).

Ao todo, foram analisados os materiais genéticos de 302 cachorros (132 da usina, 154 de Chernobyl e 16 de Slavutych). Com isso, foram descobertas 15 famílias diferentes, com a maior delas vivendo na região de exclusão radioativa, o que indica que houve migração entre os animais da usina e da cidade de Chernobyl.

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Cachorro vivendo em Chernobyl com o sarcófago que isola a usina ao fundo. Imagem: Edison Veiga/ Shutterstock

Esperava-se que, pelos animais circularem e se reproduzirem pelas três regiões, eles tivessem a mesma composição genética. No entanto, o estudo descobriu que os cachorros que vivem mais perto do local da explosão são diferentes dos que estão mais longe. Os que vivem na usina apresentam algumas características de pastores alemães, enquanto os outros são uma mistura de outras raças modernas.

Esse estudo apresenta a primeira caracterização de uma espécie doméstica em Chernobyl, estabelecendo sua importância para estudos genéticos sobre os efeitos da exposição à radiação ionizante de baixa dose e de longo prazo.

Autores do estudo “Os cães de Chernobyl: Insights demográficos sobre as populações que habitam a zona de exclusão nuclear”

Embora os pesquisadores não apontem uma conexão direta entre as diferenças genéticas dos cachorros e a exposição à radiação, eles acreditam que o estudo pode mostrar os efeitos da exposição contínua à radiação em mamíferos de grande porte. Agora, os cientistas acreditam que novas análises podem indicar como a alteração genética pode ter ajudado os cães a sobreviver a esse ambiente radioativo hostil.

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