No início desta semana, quatro gigantes do meio automotivo suspenderam a produção no Brasil em algumas instalações por conta da desaceleração do mercado. Com a demanda apontando para baixo, o posicionamento das montadoras é que não faz sentido continuar repondo estoque nos pátios.

Relembre o caso

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  • Nos últimos dias, Volkswagen, GM, Stellantis e Hyundai, a agora a Mercedes-Benz, suspenderam a produção e decidiram conceder férias coletivas aos funcionários.
  • A decisão foi tomada em meio à desaceleração nas vendas de automóveis no Brasil. 
  • As montadoras dizem que vão ajustar a produção conforme a nova realidade do mercado, que sofre com juros e financiamento nas alturas.
Venda de carros
Imagem: shutterstock/Odua Images

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Com queda na procura e carros “sobrando”, havia esperança de um eventual reajuste nos preços, como dita a famosa lei da oferta e da demanda. No entanto, não é dessa vez que isso acontecerá e um dos culpados é a pandemia.

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O consenso é que as montadoras não vão abdicar das margens por conta dos últimos anos difíceis. O economista do FGV IBRE, André Braz e a professora de economia do Insper, Juliana Inhasz, falaram mais sobre o tema aqui no Olhar Digital e como a indústria automotiva chegou ao seu momento atual. 

Tudo começou com a pandemia, aponta o especialista.

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Os preços subiram nos últimos anos em função de gargalos na estrutura produtiva. A partir da Covid, não chegava a indústria nacional componentes necessários para montar os carros. Então, começou a ter falta de veículo no mercado e o preço disparou (…) Os custos de produção, metais de modo geral, resinas plásticas, tudo que você imagina que faz parte de um automóvel, também subiu de preço na pandemia. Isso ajudou os carros a ficar muito mais caros de 2020 para cá

Para piorar a situação, 2022 praticamente começou com a guerra na Ucrânia, que trouxe novos desafios nos preços de materiais essenciais para a indústria automotiva. Outro vilão foi a aceleração da inflação no país, que fez a taxas de juros subir.

Hoje, nós temos uma taxa de juros de 13,75%. Isso faz com que os juros de financiamento automotivo também fiquem mais caros e que as famílias adiem esse consumo

Um dos efeitos colaterais do juro alto, é justamente a queda nas vendas, apontou Braz.

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Se as vendas vão desacelerando, a indústria também paralisa para não ficar com pátios lotados de veículos. É uma forma de também regular preços. Se não oferta muitos carros, ela (a indústria) retarda a queda de preços

André Braz, economista do FGV IBRE

Como contexto, dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) mostram que 2023 começou lento e com baixa de 34% nos emplacamentos de automóveis frente a dezembro de 2022. Em fevereiro houve nova queda de 9% em relação a janeiro. 

A professora de economia acrescentou que a crise dos chips gerou um aumento expressivo dos preços tanto de novos quanto usados.

No entanto, com a regularização das cadeias produtivas, essas produções se regularizaram, o que já reduziu por si só a demanda por carros usados (afinal as pessoas no geral preferem os novos). Além disso, o aumento das taxas de juros inviabilizaram para muitos os financiamentos de automóveis

O preço elevado dos combustíveis, em conjunto com a queda no poder de compra dos brasileiros, também desestimularam a compra de carros, disse a especialista.

Por fim, há uma tendência de aumento da utilização de carros de aplicativo e de outras formas de locomoção (que foram prejudicados durante a pandemia). Esses elementos somados explicam a queda da demanda.

No fim, essa combinação de fatores — juro alto, falta de peças e demanda reprimida, sem contar com o financiamento mais caro — acabou levando a paralisação das empresas.

Existe espaço para os carros baixarem de preço no Brasil? 

Depende, apesar da queda de preço de insumos e derivados do petróleo, os gargalos continuam afetando as montadoras no Brasil. “A indústria continua reclamando da falta de microchips depois de quase três anos do início da pandemia”, diz Braz.

A professora de economia também sugere que os preços podem diminuir, “dependendo do tamanho do descompasso entre oferta e demanda” no longo prazo. “No entanto, é importante pontuar que há um processo de reajustes de preços generalizado por conta dos custos de produção. O mais plausível nesse cenário é que ocorram aumentos mais comedidos nesses bens”.

O valor praticado também é impactado pelos custos de produção, ou seja, mão de obra, matéria-prima e mais, pontua Juliana. Os custos de manutenção (combustíveis, revisões, IPVA, e mais), também interferem na procura pelo bem.

No fim, entra na conta do consumidor os custos de transportes alternativos (uber, metrô, ônibus) e o acesso a outras formas de locomoção. “É razoável pensar que a expansão de linhas de metrô e a melhoria da locomoção nas cidades aumente a demanda por meios alternativos de locomoção, impactando ainda mais no futuro as demandas por automóveis”, conclui Juliana.

Imagem principal: OneSideProFoto/Shutterstock

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