Nesta quinta-feira (23), foi realizado a audiência com o CEO do TikTok, Shou Zi Chew, nos Estados Unidos. O executivo depôs ao Comitê de Energia e Comércio da Câmara para evitar possível proibição da rede social no país.

Na audiência, autoridades abordaram como a rede social é regulada, as práticas de segurança de dados da empresa, o impacto do TikTok para crianças e a relação da ByteDance, controladora do app, com o Partido Comunista Chinês.

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Como foi a audiência

Os legisladores não apresentaram evidências de que o TikTok prejudica os interesses de segurança nacional dos EUA, mas Chew enfrentou questionamentos combativos e fortes ataques, já que legisladores de ambos os partidos parecem incomumente unidos na desconfiança do CEO e preocupações sobre laços da empresa com a China.

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Chew procurou distanciar o TikTok da China em seus comentários iniciais, destacando seus laços pessoais com os Estados Unidos e enfatizando que o aplicativo não pertence ou é controlado pelo governo chinês.

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CEO do TikTok em audiência nos EUA
CEO do TikTok, Shou Zi Chew, enfrenta questionamento combativo em audiência nos EUA nesta quinta-feira (23) (Imagem: Reprodução/The Washington Post)

Em seguida, legisladores de ambos os partidos rejeitaram imediatamente a proposta de Chew para o “Projeto Texas”, plano que ele disse que deixaria efetivamente dados dos estadunidenses no país, deixando-os, portanto, fora do alcance do governo chinês.

Ainda acredito que o governo comunista de Pequim controlará e influenciará o que você faz. Essa ideia, esse Projeto Texas, simplesmente não é aceitável.

Deputado Frank Pallone Jr., principal democrata do Comitê de Energia e Comércio da Câmara

A presidente do comitê, a deputada Cathy McMorris Rodgers (R-Wash.), também não estava convencida de que o plano resolveria as preocupações sobre o TikTok. Ela alegou que a rede social é “arma” do governo chinês e reiterou que a proibição seria uma maneira de lidar com o TikTok a curto prazo. A longo prazo, disse ela, os Estados Unidos precisam de novas leis de privacidade.

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Além disso, pelo menos duas vezes na audiência, os legisladores perguntaram ao CEO se ele estaria disposto a se comprometer a não vender dados de usuários a corretores de dados.

Em momentos separados, o deputado Frank Pallone Jr. e a deputada Debbie Dingell pressionaram Chew sobre a venda de dados. Em ambas, sua resposta foi a mesma: o TikTok não vende dados dos usuários.

“Não acreditamos que o TikTok irá abraçar os valores americanos”, disse McMorris Rodgers. “O TikTok escolheu repetidamente o caminho para mais controle, mais vigilância e mais manipulação. Sua plataforma deveria ser banida.”

“Ataque à liberdade de expressão”

Durante seu argumento, Chew afirmou que banir o TikTok dos EUA seria um “ataque à liberdade de expressão”.

A rede social chinesa atende a várias pequenas empresas e criadores de conteúdo, que assim como em outras redes, como o Instagram e YouTube, ganham a vida vendendo produtos e via patrocínios.

O CEO da empresa afirmou que o app tem 150 milhões de usuários e 7 mil funcionários, somente nos EUA.

Os legisladores, contudo, estavam céticos quanto aos argumentos de Chew. Muitos deles relembraram a oposição da China quanto à venda da plataforma (o país asiático disse preferir que o TikTok seja banido dos EUA do que ser comprado por uma empresa do país), apresentando tal argumento como suposta prova da intervenção do governo chinês.

Não estou convencido de que os benefícios superem os riscos que isso representa para os americanos em sua forma atual. A combinação da propriedade do TikTok com base comunista na China e sua popularidade exacerba seu perigo para nosso país e para nossa privacidade.

Deputado Frank Pallone Jr., principal democrata do Comitê de Energia e Comércio da Câmara

Preocupação com crianças e adolescentes

Os legisladores também citaram preocupações sobre o TikTok e os jovens estadunidenses. O aplicativo é usado por 67% dos adolescentes locais, segundo o Pew Research Center. O TikTok enfrentou críticas de que é muito viciante e que seu algoritmo pode bombardear os adolescentes com vídeos que os colocam em situações perigosas e até letais.

“O TikTok poderia ser projetado para minimizar os danos às crianças, mas foi tomada a decisão de viciar agressivamente as crianças em nome dos lucros”, disse a deputada Kathy Castor, democrata da Flórida, durante a audiência.

Chew disse aos legisladores que o TikTok havia trabalhado para limitar a repetição de vídeos sobre tópicos, como exercícios extremos, e que as diretrizes do aplicativo não permitiam conteúdo que promovesse automutilação ou distúrbios alimentares.

Ele também apontou para novos limites de tempo de tela de 60 minutos, que os pais podem controlar, para usuários de 12 anos ou menos, e prompts, que, agora, aparecem após 60 minutos para crianças de 13 a 17 anos.

Contudo, os legisladores não foram convencidos. A representante Lisa Blunt Rochester, democrata de Delaware, disse que o testemunho de Chew consolidou as preocupações sobre os laços da empresa com a China, violações de privacidade de dados e como o aplicativo trata crianças.

“Acho que isso realmente resume por que você vê tanto consenso bipartidário e preocupações sobre sua empresa”, disse ela. “E imagino que não vá embora tão cedo.”

Trajetória até audiência com Shou Zi Chew

O início da repreensão ao TikTok nos EUA começou ainda no governo de Donald Trump. O ex-presidente chegou a anunciar o bloqueio da rede social junto ao WeChat das lojas de aplicativos, mas a decisão foi suspensa pelo Departamento de Comércio do país.

A rede social voltou ao centro das discussões com nova proposta apresentada pelo senador Marco Rúbio, que alegou que a rede social envia dados de usuários do país ao Partido Comunista Chinês.

A repreensão aumentou no final de dezembro com a confirmação que a rede social estava rastreando dados de jornalistas de BuzzFeed, Financial Times e Forbes.

Dias depois, os EUA confirmaram a proibição do TikTok em celulares de deputados. A medida foi seguida por outros países, como Reino Unido, Bélgica, EUA e Nova Zelândia, que determinaram proibição da rede social nos dispositivos de autoridades do governo.

Antes de depor na audiência, Chew divulgou declaração de abertura à comissão abordando alguns pontos sobre as preocupações da comissão. Confira:

A ByteDance não é um agente da China ou de qualquer outro país. No entanto, pelas razões discutidas acima, você não precisa simplesmente acreditar na minha palavra. Em vez disso, nossa abordagem tem sido trabalhar de forma transparente e cooperativa com o governo dos EUA e a Oracle para projetar soluções robustas para lidar com as preocupações sobre a herança do TikTok.

Com informações de Yahoo, The Verge, The Washington Post e The New York Times

Imagem destacada: daily_creativity/Shutterstock.com

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