Uma das maiores empresas do mundo, a Amazon parece não saber o que fazer com sua plataforma de streaming, o Prime Video. Apesar de ter em seu catálogo franquias de grande nome, como The Boys, O Senhor dos Anéis e o próximo Fallout, além de séries premiadas, como Fleabag e The Marvelous Mrs. Maisel, a empresa de Jeff Bezos não consegue derrubar seus concorrentes de indústria.

Segundo fontes anônimas entrevistadas pelo The Hollywood Reporter, o problema é a lógica mercadológica da big tech.

publicidade

Leia mais:

Contexto

Não é nenhum segredo que há muito tempo Jeff Bezos ansiava por seu próprio Game of Thrones, um sucesso estrondoso que marcasse o nome do streaming do Prime Video. A tentativa da Amazon de alcançar esse status foi O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder, que, apesar do orçamento gigante — a série é considerada a mais cara já feita — não atingiu os resultados esperados.

publicidade

A empresa forneceu dados limitados sobre a produção, mas fontes internas confirmaram que a série teve uma taxa de conclusão doméstica (pessoas que assistiram à série inteira, nos Estados Unidos) de apenas 37%; globalmente, a taxa foi de 45%. Uma taxa de conclusão de pelo menos 50% seria satisfatória — mas não boa.

A chefe da Amazon Studios, Jennifer Salke, negou que o desempenho aquém do esperado tenha motivado conversas internas e descreveu Os Anéis do Poder como “uma grande oportunidade”.

publicidade

Amazon Prime Video ficou para trás

  • Dados da Nielsen mostram que, quando se trata de séries originais, em 2022, a Amazon ficou para trás em relação aos concorrentes.
  • A Netflix conquistou os 10 primeiros lugares para séries de streaming originais.
  • The Boys, do Amazon Prime Video, ficou em 11°.
  • O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder ficou em 15°.
  • Em 2021, nenhuma das 15 primeiras posições do ranking foram para séries da Amazon.
  • Atuais e ex-executivos da Amazon, assim como showrunners, acreditam que a posição não é por acaso e que a Amazon Studios é confusa para fazer negócios, em parte por não ter uma filosofia de produtos.
  • As fontes dizem que a empresa não tem uma visão única do material que se enquadra como “produção original” e que as decisões são aleatórias.

Lógica de big tech

A lógica de Jennifer Salke faz sentido com a abordagem big tech da Amazon: eles produzem o que se encaixa no amplo escopo da empresa.

Nunca fui de dizer ‘Precisamos de cinco programas de franquia de ação e três comédias de situação no local de trabalho.’ Esse é o beijo da morte. Você não faz engenharia reversa da verdadeira visão criativa. Estamos programando para mais de 250 milhões de lares em todo o mundo. Diríamos que temos um público grande e amplo e estamos procurando conteúdo que entretenha os quatro quadrantes (masculino e feminino, acima e abaixo dos 35 anos)

Jennifer Salke

Outros casos de choque cultural entre uma companhia voltada para Hollywood e uma big tech envolvem a forma com que os funcionários são tratados.

publicidade

Diferentemente de outras empresas de entretenimento, que têm um status elevado e um ambiente de trabalho de acordo com o encanto hollywoodiano, os funcionários da Amazon — com exceção dos executivos de alto escalão — trabalham em escritórios de cubículos e com armários pequenos.

A remuneração também não agrada. A Amazon limita o pagamento em US$ 350 mil com opções de ações. Isso é muito diferente de como Hollywood trabalha. A Netflix, por exemplo, deixa os funcionários escolherem qual a porcentagem da remuneração em dinheiro e em ações.

Métricas do streaming

Para além da disposição dos escritórios e do sistema de remuneração, a lógica da big tech se estende nas métricas: o streaming tem se pautado somente por números.

As plataformas baseadas em tecnologia têm permitido que as métricas é que tomem as decisões, ao invés de chefes e departamentos criativos. Enquanto isso, em Hollywood, os instintos do que pode fazer sucesso são mais valorizados.

Um exemplo disso é o Thursday Night Football, a incursão de esportes ao vivo da Amazon. Com o gasto de US$ 1 bilhão por ano, o resultado é um número recorde de assinantes no Prime na transmissão de estreia.

Apesar de isso ser bom para o streaming e alavancar números, os chefes criativos de TV e filmes têm se perguntado por que precisam investir tempo para produzir, quando a plataforma não os valoriza e prefere gastar em esportes exclusivos.

Como noticiado pelo The Hollywood Reporter, especialistas dizem que o sucesso dos esportes ao vivo mudou como a empresa vê a TV e os filmes.

Conteúdos originais Amazon

De acordo com o relatório de lucros da empresa, de US$ 16,6 bilhões gastos em música e vídeo no ano passado, a Amazon investiu US$ 7 bilhões em “originais da Amazon, esportes ao vivo e conteúdo de vídeo licenciado de terceiros incluído no Prime”.

O valor corresponde à metade de sua maior rival, a Netflix: a empresa gastou cerca de US$ 16,84 bilhões em 2022.

Apesar dos investimentos bilionários, o serviço de streaming soma motivos para não disparar na frente de seus concorrentes. Resta à Amazon descobrir como lidar com o Prime Video.

Com informações de The Hollywood Reporter

Imagem: Diego Thomazini/Shutterstock

Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!