Uma pesquisa publicada na segunda-feira (24) no periódico científico Proceedings of the National Academy of Science desvenda, pela primeira vez, um grande segredo escondido no coração de Marte. Isso, graças a análises de dados obtidos pelo módulo de pouso InSight, da NASA, aposentado no fim de 2022.

Abreviação de “Exploração de Interiores usando Investigações Sísmicas, Geodésia e Transporte de Calor”, a sonda InSight permaneceu por quase cinco anos examinando os eventos ocorridos abaixo da superfície marciana, que originam os “martemotos”, como são conhecidos os tremores de terra no Planeta Vermelho.

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A sonda InSight trabalhou por quatro anos, 11 meses e 16 dias em Marte coletando dados da parte interna do planeta. Crédito: joshimerbin – Shutterstock

Alguns desses abalos sísmicos foram detectados muito mais profundamente que outros, quase do lado oposto ao que estava a sonda. Isso significa que eles precisaram atravessar as entranhas de Marte, sendo capazes de fornecer aos cientistas as ferramentas necessárias para investigar a composição química do núcleo.

Liderada pela cientista planetária Jessica Irving, da Universidade de Bristol, no Reino Unido, a equipe descobriu que o coração marciano é uma liga de ferro líquido, com quantidades surpreendentemente grandes de enxofre e oxigênio misturados.

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“Em 1906, cientistas descobriram pela primeira vez o núcleo da Terra, observando como as ondas sísmicas dos terremotos eram afetadas ao viajar através dele”, disse o geólogo Vedran Lekic, da Universidade de Maryland, coautor do estudo, em um comunicado. “Mais de cem anos depois, estamos aplicando nosso conhecimento de ondas sísmicas em Marte. Com o InSight, estamos finalmente descobrindo o que está no centro de Marte e o que o  torna tão semelhante, mas distinto da Terra”.

Entre os mais de 1,3 mil abalos sísmicos detectados pelo lander da NASA, dois em específico foram cruciais para tornar a análise do núcleo possível. Um deles foi um martemoto de 4,2 de magnitude, detectado em agosto de 2021 (o maior evento do tipo registrado por lá – até ser superado em maio de 2022 por um de magnitude 5). O outro foi provocado pelo poderoso impacto de um meteorito, em dezembro daquele mesmo ano.

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Representação artística do caminho percorrido por ondas sísmicas através do núcleo marciano. Créditos: NASA/JPL e Nicholas Schmerr

Como esses eventos estavam no lado do planeta oposto à InSight, a sonda pôde analisar diferentes ondas – aquelas que viajaram ao redor de Marte e aquelas que correram através dele, sendo essas as primeiras ondas sísmicas de que se tem notícia a passar pelo núcleo marciano. Essas ondas revelam a densidade e a compressibilidade dos diferentes materiais com os quais têm contato, o que tornou possível compreender a composição do núcleo.

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Diferentemente do núcleo da Terra, formado por um núcleo externo líquido, um intermediário sólido e, em seguida, um caroço interno ainda mais denso, o coração de Marte aparenta ser líquido por completo. 

Cerca de 20% de seu peso é composto por elementos leves, predominantemente enxofre, com quantidades menores de oxigênio, carbono e hidrogênio. Isso significa que o núcleo marciano é menos denso e mais compressível do que o núcleo da Terra, o que poderia ajudar os cientistas a entender melhor as diferenças gerais entre os dois planetas.

Pesquisas anteriores, em que os cientistas simularam o núcleo marciano, sugeriram que a presença de elementos mais leves poderia ter desempenhado um papel significativo no desaparecimento do dínamo e do campo magnético do planeta. 

Conforme destaca o site Science Alert, com as novas informações detalhadas sobre o que realmente existe lá dentro, os cientistas podem reconstruir a história de Marte com mais precisão.

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