Conforme antecipado pelo Olhar Digital, a sonda InSight, da NASA, será definitivamente desligada, colocando fim a uma missão histórica que revelou segredos escondidos abaixo da superfície de Marte.

Cientista da equipe InSight preparando o equipamento para um dos últimos testes feitos em Terra antes da sonda ser lançada a Marte. Imagem: NASA / JPL-Caltech / Lockheed Martin

Há meses, a NASA vinha alertando que o lander provavelmente não resistiria até o meio deste ano. Nesta quarta-feira (21), a agência oficializou o fim da missão.

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“Após mais de quatro anos, 1.300 martemotos e incontáveis descobertas científicas, nosso módulo InSight chegou ao fim de sua missão”, publicou a agência, ressaltando que a sonda “pode estar se aposentando, mas seu legado – e suas descobertas do interior profundo de Marte – continuarão a viver”.

Em janeiro, uma grande tempestade de poeira regional cobriu seus painéis solares, o que acionou automaticamente o modo de segurança. Isso já havia acontecido repetidas vezes em 2021, gerando um acúmulo de poeira e reduzindo sua fonte de energia.

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Em maio, a agência anunciou que o desligamento total da sonda InSight aconteceria em dezembro, o que está se confirmando. Na segunda-feira (19), o perfil oficial da missão no Twitter chegou a deixar uma mensagem de despedida.

“Minha energia está muito baixa, então esta pode ser a última imagem que posso enviar. Mas não se preocupe comigo: meu tempo aqui foi produtivo e sereno. Se eu puder continuar falando com minha equipe de missão, eu continuarei – mas estarei encerrando aqui em breve”, diz a postagem, que finaliza agradecendo. “Obrigado por ficar comigo”.

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Desligamento gradativo

Devido a preocupações de peso e potência, InSight não carrega um sistema suplementar para limpar a poeira, como motores ou escovas. Então, usando um furo no braço robótico, a equipe responsável pelo lander reduziu um pouco a poeira em um painel, e ganhou vários impulsos de energia, mas essas atividades vinham se tornando cada vez mais difíceis à medida que a energia disponível diminuía.

Para preservar a potência da sonda da melhor forma possível, esse braço robótico foi colocado em uma “pose de aposentadoria”, em uma posição invertida em forma de V para ter vistas do sismômetro uma vez que ele não é mais ordenado a se mover da Terra. Isso aconteceu no fim de junho.

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A partir de então, o sismômetro passou a funcionar intermitentemente até agosto (sendo ligado e desligado de tempos em tempos), assim como outros instrumentos. O “último off” deve ser acionado nos próximos dias, colocando um fim definitivo a essa missão histórica.

Seu legado, no entanto, permanece. Bruce Banerdt, principal investigador da missão no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA (JPL), enfatizou que a equipe científica continuará ocupada por pelo menos mais seis meses em tarefas imediatas da missão, mesmo após o lander concluir sua coleta de dados. 

“Estamos recebendo produtos de dados finais, como nosso catálogo final de terremotos em Marte e nossos modelos finais do planeta”, disse ele.

Segundo Banerdt, a equipe enviará suas últimas parcelas de dados para um arquivo público, onde essas informações permanecerão disponíveis para sempre, adicionando ao catálogo de dados de missões espaciais aposentadas, que podem ser revisitados para investigações futuras.

Melhores momentos da sonda InSight em Marte

O Olhar Digital selecionou 10 momentos de destaque do curto (mas intenso e proveitoso) período de trabalho da InSight no Planeta Vermelho.

1- Chegada transmitida ao vivo

A sonda InSight (abreviação, em inglês, para “Exploração de Interiores usando Investigações Sísmicas, Geodésia e Transporte de Calor”) pousou em Marte no dia 26 de novembro de 2018, pouco mais de seis meses depois de ter sido lançada a bordo de um foguete Atlas V, da United Launch Alliance (ULA).

Assim como o lançamento, o pouso foi transmitido ao vivo pela NASA, com o orbitador Odyssey mostrando o lander se aproximando do planeta, por volta das 17h50 (pelo horário de Brasília), abrindo seus paraquedas (para reduzir a velocidade e amenizar o impacto) e tocando a superfície marciana poucos minutos depois. A partir dali, InSight deu início a quatro anos e um mês de atividades importantíssimas para a ciência planetária.

2- Primeira imagem transmitida para a Terra

Horas depois de descer, a sonda enviou a primeira imagem que captou do Planeta Vermelho para a Terra: um pedaço da Elysium Planitia, região perto do equador marciano selecionada como local de pouso entre 22 áreas candidatas.

Créditos: NASA/JPL-Caltech

3- Primeiro tremor de terra captado em Marte

O módulo conta com quatro instrumentos científicos, entre eles, um conjunto supersensível de sismômetros, projetado para registrar e caracterizar os terremotos marcianos – chamados pelos cientistas de martemotos.

Cinco meses depois de chegar em Marte, a sonda captou o primeiro dos mais de 1.300 abalos sísmicos que viria a registrar no planeta. A conquista foi compartilhada no Twitter oficial da missão.

4- Descoberta de um campo magnético 10 vezes mais forte que o esperado

Em março de 2020, a sonda InSight fez uma revelação interessantíssima sobre Marte: ela encontrou um campo magnético 10 vezes mais forte do que o esperado pelos cientistas. 

A descoberta, publicada na revista científica Nature Geosciences, ajudou a elucidar alguns dos principais mistérios sobre a formação de Marte e a sua subsequente evolução.

5- O tamanho do núcleo de Marte

Um dos principais feitos da sonda InSight, sem dúvida, foi revelar o tamanho do núcleo de Marte, que se tornou, assim, o único planeta do Sistema Solar, além da Terra, a ter sua camada mais profunda medida.

Graças aos dados obtidos pelo lander, os cientistas descobriram que o núcleo do nosso vizinho é maior e menos denso do que se pensava.

O módulo mostrou que o raio do núcleo marciano é de 1.810 a 1.860 quilômetros – aproximadamente a metade do tamanho do núcleo da Terra. A sonda também detectou que, além do ferro e do enxofre, o interior de Marte também é composto por elementos mais leves – podendo conter, inclusive, oxigênio (o que está em análise pela NASA).

6- Som dos tremores de terra revelam configuração do subsolo marciano

Enquanto os sismômetros da sonda InSight se ocupavam em detectar as vibrações sísmicas do planeta, um outro aparelho era responsável por registar, com precisão e nitidez, os ruídos sísmicos: o sismógrafo.

O trabalho em conjunto desses instrumentos era crucial, uma vez que a detecção dos tremores por si só, embora fornecesse uma visão geral das partes internas mais profundas  de Marte, não conseguia capturar pequenos detalhes, como a aparência da camada imediatamente abaixo da superfície.

Portanto, para examinar a geologia local, se fazia necessário analisar os sons de fundo dos martemotos que são constantemente captados pela sonda.

O que se descobriu foi que mais próximo da superfície, o solo de Marte é formado por poeira e fragmentos de rocha produzidos por impactos. Essa camada parece ter apenas 1,5 metros de espessura, embora os pesquisadores alertem que os dados são inexatos. 

Três metros abaixo da superfície, parece haver uma camada de rocha vulcânica, formada por grandes erupções no passado distante do planeta. 

Na camada de material seguinte, com cerca de 30 metros a 80 metros, os sinais sísmicos se movem lentamente. Por essa razão, os pesquisadores concluíram que é provável que essa camada seja de rocha sedimentar. Abaixo disso estão outros depósitos vulcânicos. 

E tudo isso só foi possível descobrir com o trabalho impecável da sonda InSight.

7- O começo do fim

Após três anos e dois meses em funcionamento em Marte, em janeiro deste ano o lander começou a dar sinais de fraqueza, já que a sua energia estava diminuindo gradativamente em razão do acúmulo de poeira em seus painéis solares.

A situação se agravou após repetidos episódios de tempestades de poeira no planeta, o que chegou a colocar a sonda em modo de segurança, para poupar energia. 

8- Nascer do Sol em Marte

Onde você estava quando viu o mais belo nascer do Sol da sua vida? Qualquer que seja a sua resposta, definitivamente nenhum lugar seria mais diferente e inusitado do que… outro planeta! E, graças à sonda InSight, temos agora a oportunidade de contemplar a alvorada em Marte.

Mesmo estando nos últimos meses de sua missão, o equipamento foi capaz de captar imagens impressionantes do nascer do Sol no Planeta Vermelho. Esses registros, juntos, ficam em movimento e dão uma noção de como se iniciam as manhãs no nosso vizinho.

9- Maior abalo sísmico já registrado fora da Terra

Em maio deste ano, a sonda InSigh detectou um abalo sísmico que alcançou a escala 5 de intensidade, o que representa o mais forte já observado não só em Marte como em qualquer outro lugar além da Terra

Para os padrões terrestres, um terremoto de magnitude 5 não seria grande coisa. Por aqui, tremores dessa intensidade ocorrem meio milhão de vezes por ano e raramente causam danos mais graves do que arremessar objetos das prateleiras ou rachar vidraças.

Como Marte, no entanto, é tectonicamente muito mais calmo do que a Terra, martemotos de magnitude 5 são extremamente poderosos – e era isso que os idealizadores do módulo InSight esperavam ver quando lançaram a sonda.

10- Tremores causados por meteoritos

A sonda InSight representa um divisor de águas para o estudo de Marte, principalmente por revelar, a cada coleta de dados, que o planeta é muito mais geologicamente ativo do que se pensava.

No entanto, não foram apenas tremores de terra causados pela própria atividade sísmica marciana que o lander conseguiu captar. Ele também foi capaz de registrar abalos provenientes de impactos de meteoritos.

E mais do que identificá-los, a sonda também conseguiu gravar o som dessas colisões, como mostra o vídeo abaixo.

Última selfie no Planeta Vermelho

Não se pode ter dúvidas de que a sonda InSight trouxe contribuições altamente significativas ao estudo de Marte. Os dados por ela coletados e as imagens registradas continuarão servindo de base para pesquisas futuras sobre o nosso vizinho.

Como homenagem – e despedida – deixamos aqui a última selfie feita pela espaçonave, em agradecimento por toda ciência que nos foi apresentada durante essa importante missão.

Créditos: NASA/JPL-Caltech

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