É isso mesmo o que você leu no título desta matéria. Uma mulher escocesa tem o privilégio (talvez) de, raramente, sentir dores, medos e estresses.

A mulher em questão, verdadeiro caso raro de estudo para a ciência, é Jo Cameron, 75 anos. A causa dessa raridade? Alterações em seu DNA. Pesquisadores estão estudando o genoma da senhora visando novos medicamentos e terapias com base nesse “comportamento”.

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Os cientistas da University College London (UCL), de Londres, Inglaterra, afirmam que a resistência um tanto anormal da escocesa a dores se relaciona com mutações no gene FAAH-OUT. O que deixa esse caso ainda mais curioso é que essa área específica de nosso genoma foi considerada parte do chamado DNA lixo por muitos anos – até conhecerem Cameron.

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O que é o DNA lixo?

A ciência considera como DNA lixo regiões de nosso genoma ou genes que induzem a produção de proteínas, mas que não tem muita importância para nosso organismo. Contudo, o avanço tecnológico dentro da medicina e da ciência permitem aos pesquisadores mergulharem mais afundo nesses genomas e entenderem-nas melhor.

Descoberta inesperada

A característica de resistência à dor e ao medo sempre esteve presente em Cameron, mas ela só descobriu ser “diferente” há dez anos, quando sofreu problema grave de degeneração articular.

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O comum seria ela sentir muita dor durante o tratamento, o que não aconteceu. Dali em diante, ela passou por vários médicos e especialistas até chegar no diagnóstico.

O estudo que acompanhou a escocesa foi publicado na revista Brain. Os autores frisam que a resposta está mesmo no gene FAAH-OUT, que limita a expressão e atividade de outro gene, o FAAH, que faz parte do sistema endocanabinóide e já é conhecido por desempenhar importante papel na dor, humor e memória.

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A moça também tem mutações em outros genes:

  • WNT16, relacionado à regeneração óssea;
  • BNDF, atuante na regulação do humor.

A combinação a faz bem resistente à dor. Mas há casos nos quais a mutação é boa: raramente, há quem nasça com capacidade natural de não ser infectada pelo HIV, por exemplo. Nesse caso, a mutação é no gene CCR5, chamada de CCR5-delta 32. Há casos ainda de quem é imune ao SARS-CoV-2, o vírus da Covid-19.

Essas situações ainda não são totalmente compreendidas pelos cientistas, mas sabem que, dessas mutações, novos remédios podem surgir. Cameron, por exemplo, pode, com sua resistência à dor, dar origem a sedativos.

Ao entender precisamente o que está acontecendo ao nível molecular, começamos a compreender a biologia envolvida. Isso abre possibilidades para a descoberta de remédios que poderiam ter impactos positivos para os pacientes.

James Cox, professor da UCL, em comunicado

Com informações de Brain e UCL

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