Em um artigo publicado recentemente na revista Ichnos, pesquisadores forneceram as idades de sete fósseis recém-datados de ancestrais humanos encontrados nos últimos cinco anos na costa sul do Cabo, na África do Sul. Entre esses vestígios, está a pegada mais antiga de Homo sapiens já descoberta em todo o mundo, que remonta a 153 mil anos.

Segundo os autores, os sete fósseis, cujo mais recente tem 71 mil anos, juntamente com outras evidências, incluindo o desenvolvimento de sofisticadas ferramentas de pedra, arte, joalheria e colheita de mariscos, confirma que a região foi uma área na qual os primeiros humanos anatomicamente modernos sobreviveram, evoluíram e prosperaram, antes de se espalharem da África para outros continentes.

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A pegada mais antiga conhecida da nossa espécie, levemente contornada com giz. Segundo os arqueólogos, o registro parece longo e estreito porque o hominídeo que o produziu teria arrastado o calcanhar. Crédito: Charles Helm

África tem sítios arqueológicos distintos conforme a região

De acordo com o líder do estudo, Charles Helm, pesquisador associado do Centro Africano de Paleociência Costeira, da Universidade Nelson Mandela, existem diferenças significativas entre os sítios arqueológicos distribuídos ao longo do continente africano.

Os da África Oriental são muito mais antigos: Laetoli, na Tanzânia, tem 3,66 milhões de anos, e Koobi Fora, no Quênia, 700 mil. Assim, os rastros encontrados nesses locais foram feitos por espécies anteriores ao Homo sapiens, como australopitecos, Homo heidelbergensis e Homo erectus. Na maioria das vezes, os fósseis descobertos nesses lugares tiveram que ser cuidadosamente escavados para emergir à superfície.

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Já os sítios da África do Sul, por outro lado, são substancialmente mais jovens. Todos foram atribuídos ao Homo sapiens. Nesses locais, os rastros descobertos estão totalmente expostos, em rochas conhecidas como eolianitas, que são dunas antigas petrificadas pelo vento no decorrer dos anos.

Portanto, nessa região, a escavação geralmente é dispensada, e, por causa da exposição dos locais à erosão e da natureza relativamente grosseira da areia das dunas, eles normalmente não são tão bem preservados quanto os sítios da África Oriental. 

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Embora isso limite o potencial de interpretação detalhada, uma técnica específica torna possível datar os depósitos: a luminescência opticamente estimulada.

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Segundo Helm relatou ao site The Conversation, determinar a idade dos materiais é um dos principais desafios ao estudar o paleoregistro – rastros, fósseis ou qualquer outro tipo de sedimento antigo. “Sem isso, é difícil avaliar o significado mais amplo de um achado, ou interpretar as mudanças climáticas que criam o registro geológico. No caso dos eolianitos da costa sul do Cabo, o método de datação escolhido é frequentemente a luminescência opticamente estimulada”.

Método da luminescência opticamente estimulada é fundamental para datar registros fósseis dos eolianitos da costa sul do Cabo, na África do Sul. Crédito: Geoff Duller (Aberystwyth University).

O pesquisador explica que esse método de datação mostra há quanto tempo um grão de areia foi exposto à luz solar. “Em outras palavras, há quanto tempo aquela parte do sedimento está enterrada”. 

Dada a forma como as trilhas neste estudo foram formadas – impressões feitas na areia molhada, seguidas de enterro com areia recente – esse é um bom método, segundo Helm, “pois podemos estar razoavelmente confiantes de que o ‘relógio’ de datação começou mais ou menos na mesma época em que a pista foi criada”.

E a costa sul do Cabo é um lugar propício para aplicar luminescência opticamente estimulada. “Primeiro, porque os sedimentos são ricos em grãos de quartzo, que produzem muita luminescência. E segundo, porque o sol abundante, as praias largas e o transporte de areia pronto para formar dunas costeiras significam que quaisquer sinais de luminescência pré-existentes são totalmente removidos antes do evento de sepultamento de interesse, tornando as estimativas de idade confiáveis”. 

Esta técnica, segundo Helm, tem sustentado grande parte da datação de achados anteriores na área.

O intervalo de datas geral das novas descobertas de trilhas deixadas por hominídeos é consistente com as idades informadas em estudos relatados anteriormente de depósitos geológicos semelhantes na região.

A pegada de 153 mil anos foi encontrada no Parque Nacional Garden Route, a oeste da cidade costeira de Knysna, na costa sul do Cabo. Os dois sítios sul-africanos datados anteriormente, Nahoon e Langebaan, forneceram idades de cerca de 124 mil e 117 mil anos, respectivamente.

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