Um dos maiores mistérios do Universo pode ter sido desvendado, trazendo um provável vislumbre do futuro da Via Láctea. Cientistas acreditam ter descoberto o segredo por trás da aparência sinistra da famosa “Galáxia do Olho Maligno”, apelido mais do que propício para o sistema cósmico M64.

Posicionada no vácuo abissal do espaço, a cerca de 1,4 milhão de anos-luz da Terra, essa galáxia parece lançar um brilho aterrorizante sobre o cosmos, com uma nuvem de poeira emoldurando sua periferia visível como um hematoma escuro. 

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De acordo com o site Science Alert, já era de conhecimento dos astrônomos que o disco externo rico em hidrogênio orbita na direção oposta ao disco interno de estrelas da galáxia, o que sugere origens distintas para cada um.

Agora, uma nova pesquisa descobriu que o gás hidrogênio do disco externo veio de uma galáxia anã satélite menor e rica em gás recentemente canibalizada pela M64 e agregada a ela. De acordo com esse estudo, é o material dessa galáxia menor que está escurecendo os contornos do tenebroso Olho Maligno.

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Via Láctea vai “engolir” galáxia satélite

Estimativas da massa e do conteúdo da vizinha devorada sugerem que ela era muito semelhante à Pequena Nuvem de Magalhães, uma galáxia anã satélite da Via Láctea que um dia será incorporada à massa maior. Isso significa que o que está acontecendo no Olho Maligno pode se repetir na nossa própria galáxia futuramente.

Via Láctea fotografada ao lado das Nuvens de Magalhães. Pesquisadores acreditam que situação observada no Olho Maligno pode se repetir na nossa galáxia dentro de milhões de anos com a futura absorção da vizinha menor. Crédito: Peter Gudella – Shutterstock

Liderado pelo astrônomo Adam Smercina, da Universidade de Washington, nos EUA, o artigo que descreve as descobertas está disponível no servidor de pré-impressão arXiv e foi aceito para publicação pelo periódico científico The Astrophysical Journal Letters.

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“Encontramos evidências de uma característica espetacular da concha e outras estruturas de maré indicativas de uma fusão radial em andamento e em estágio avançado”, diz o artigo. 

Acredita-se que as fusões galácticas sejam uma parte muito importante do crescimento e evolução das galáxias. Esses eventos não apenas aumentam a massa de uma galáxia, mas também estimulam interações materiais e gravitacionais que aumentam a formação estelar, mantendo-a viva com novas gerações de estrelas.

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O canibalismo galáctico não é algo incomum – os cientistas observam galáxias em estágios distintos do processo de fusão com frequência (e a própria Via Láctea já incorporou diversas galáxias menores ao longo de seus 13,6 bilhões de anos). Sendo assim, é bem razoável pensar que o estranho gás nas franjas de M64 seja resultado de um desses eventos.

Para testar essa teoria, a equipe de Smercina usou o instrumento Hyper Suprime-Cam do Telescópio Subaru, do Observatório Astronômico Nacional do Japão, no intuito de examinar o espaço ao redor de M64. 

Dados do Hubble ajudam a entender a “Galáxia do Olho Maligno”

Eles encontraram um halo galáctico – uma esfera difusa de matéria escura, gás e estrelas que encapsula galáxias espirais, que se acredita se formar e crescer através de fusões de galáxias. 

Também foram detectadas evidências de que a distribuição estelar da concha em torno de M64 é consistente com a absorção de uma galáxia anã satélite por um hospedeiro maior. O movimento do gás na concha aponta que a galáxia absorvida tinha uma órbita parcialmente retrógrada em torno do Olho Maligno. 

Já em relação ao centro empoeirado dotado de manchas escuras, os pesquisadores acreditam ser resultado da colisão de materiais da galáxia menor com o disco interno de gás da hospedeira.

Mapa estelar do halo da galáxia M64 (esquerda) em comparação com simulações de fusões galácticas (direita). Crédito: Smercina et al, arXiv, 2023

Para confirmar esse cenário, foram analisados dados do Telescópio Espacial Hubble, que permitiram estimar a massa e a composição da galáxia absorvida. A equipe chegou a uma massa estelar de cerca de 500 milhões de massas solares, consistente com os 300 milhões a um bilhão de massas solares da Pequena Nuvem de Magalhães.

Além disso, a massa do disco de hidrogênio em torno de M64 também é de cerca de 500 milhões de massas solares, o que também se aproxima das 400 milhões de massas solares de gás na Pequena Nuvem de Magalhães. 

Juntas, todas essas pistas parecem apontar de forma bastante convincente para um canibalismo galáctico recente o bastante para ter deixado esses rastros.

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