Inclinação da Terra é alterada por influência humana

Cientistas agora querem saber se as mudanças do polo rotacional da Terra poderiam contribuir para as mudanças climáticas a longo prazo
Por Flavia Correia, editado por Lucas Soares 19/06/2023 12h10, atualizada em 27/07/2023 09h27
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Imagm: jaya diudara80/Shutterstock
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Um estudo publicado quinta-feira (15) na revista científica Geophysical Research Letters revela que, em menos de 18 anos, a inclinação da Terra mudou em direção a 64° leste. E que por trás disso estaria a mão humana: em razão da quantidade de água que nós bombeamos do interior do planeta.

De 1993 a 2010, segundo a pesquisa, os humanos extraíram 2.150 gigatoneladas de água de reservatórios naturais na crosta terrestre. Se esse volume fosse despejado no oceano global, o nível de água subiria 6 milímetros. E o deslocamento de uma quantidade tão enorme de água impactou no eixo em torno do qual o planeta gira.

Usarando modelos computacionais, pesquisadores descobriram que a inclinação da Terra é influenciada pela quantidade de água subterrânea drenada pelos humanos. Crédito: Seo et al.

Os cientistas chegaram a essa conclusão modelando as mudanças na posição do polo de rotação da Terra, o ponto em que o eixo imaginário do planeta ficaria fora da superfície se fosse um objeto físico. A posição do polo de rotação não é idêntica com os polos norte e sul geográficos e realmente muda com o tempo, de modo que o eixo de rotação corta diferentes pontos da crosta do planeta em vários momentos no tempo.

Drenagem de água subterrânea é maior responsável pela inclinação do planeta

Desde 2016, os cientistas sabem que o polo rotacional é afetado por processos relacionados ao clima, como o derretimento de icebergs e a redistribuição da massa da água desses imensos montes de gelo

No entanto, considerar apenas esse fator não corresponde perfeitamente ao deslocamento observado. Então, os pesquisadores adicionaram aos modelos de cálculo o volume de água subterrânea bombeada, e o modelo cravou a inclinação em 78,5 centímetros.

Estação de bombeamento drenando águas subterrâneas para fora do solo. Crédito: Jantsarik – Shutterstock

“O polo rotacional da Terra realmente muda muito”, disse Ki-Weon Seo, geofísico da Universidade Nacional de Seul, autor principal do artigo, em um comunicado. “Nosso estudo mostra que, entre as causas relacionadas ao clima, a redistribuição de água subterrânea realmente tem o maior impacto na deriva do polo rotacional”.

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Inclinação do eixo da Terra pode contribuir para as mudanças climáticas

Como a inclinação do eixo da Terra pode ter um efeito sobre o clima sazonal na superfície do planeta, os cientistas agora se perguntam se as mudanças do polo rotacional poderiam contribuir para as mudanças climáticas a longo prazo.

“Observar mudanças no polo de rotação da Terra é útil para entender as variações de armazenamento de água em escala continental”, disse Seo. “Os dados de movimento polar estão disponíveis desde o final do século 19. Assim, podemos potencialmente usar esses dados para entender as variações continentais de armazenamento de água durante os últimos 100 anos. Houve alguma mudança de regime hidrológico resultante do aquecimento do clima? O movimento polar pode ter a resposta”.

No geral, o polo rotacional da Terra muda vários centímetros por ano. O quanto a drenagem dos reservatórios de água subterrânea contribui para essa mudança depende do local no planeta eles estão. O estudo mostrou que a água removida de latitudes médias tem a maior influência na inclinação do globo.

Conforme destaca o site Space.com, gerenciar como as águas subterrâneas se movem ao redor da Terra poderia, portanto, ajudar a limitar os deslocamentos do polo rotacional e, consequentemente, os potenciais efeitos climáticos que vêm com eles.

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Flavia Correia
Redator(a)

Jornalista formada pela Unitau (Taubaté-SP), com Especialização em Gramática. Já foi assessora parlamentar, agente de licitações e freelancer da revista Veja e do antigo site OiLondres, na Inglaterra.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.