Antes do surgimento dos dinossauros, o mundo era habitado por répteis chamados rincossauros, animais do tamanho de porcos que prosperaram em todo o planeta durante o período Triássico médio e tardio (225 milhões a 245 milhões de anos atrás). Embora representem 90% dos fósseis de vertebrados em escavações referentes à época, eles não são tão populares quanto os dinossauros – muito pelo contrário.

“Ninguém nunca ouviu falar deles”, disse Michael Benton, paleontólogo da Universidade de Bristol, na Inglaterra, ao jornal The New York Times.

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Segundo o pesquisador, esses “monstros esquecidos” tinham maneira peculiar de mastigar, na qual usavam um movimento semelhante a uma tesoura para triturar plantas resistentes entre uma fileira de dentes e ossos nus.

Face do Bentonyx, espécie de rincossauro dos fósseis descobertos no Reino Unido, em uma reconstrução artística digital feita pelo paleoartista e paleontologista Mark Witton. Créditos: Mark Witton/Reprodução Twitter

E essa maneira tão incomum de comer pode ter comprometido seriamente a dentição dos rincossauros na velhice. Um estudo liderado por Benton, publicado este mês na revista Palaeontology, sugere que os dentes desses animais eram progressivamente moídos e reduzidos a nada com o passar dos anos. “Incapazes de mastigar a comida, esses velhos rincossauros podem ter morrido de fome”, diz o artigo.

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Benton se dedica a investigar dentes de rincossauros desde a década de 1980. Ele conta que enquanto examinava alguns fósseis, notou que esses répteis pareciam mastigar empurrando os dentes contra suas mandíbulas – uma técnica perigosa, porque triturar comida contra ossos maxilares submete os animais ao risco de infecção. 

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Com a repetição desse processo ao longo de toda a vida, as mandíbulas deram aos rincossauros adultos uma deformação na boca, deixando-os em um “sorriso permanente”.

Hoje em dia, os répteis que mastigam de forma semelhante conseguem brotar novos dentes para substituir os danificados. Os rincossauros, no entanto, não pareciam fazer isso, pelo menos não da mesma maneira.

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Para descobrir como esses podem ter lidado com os riscos decorrentes da forma de alimentação, a equipe liderada por Benton usou raios-X para perscrutar as mandíbulas de rincossauros encontrados em Devon, na Inglaterra. Entre esses fósseis, estava a mandíbula de um rincossauro adulto que provavelmente era muito idoso quando morreu.

Um modelo 3D do crânio do rincossauro Bentonyx a partir de tomografias computadorizadas, mostrando os dentes dos maxilares superior (azul) e inferior (rosa) enraizados profundamente no osso. Crédito: Thitiwoot Sethapanichsakul/Palaeontology

Os exames revelaram que, em vez de apenas substituir os dentes que caíram, os rincossauros alargavam continuamente suas mandíbulas. A nova seção da mandíbula começaria perto da parte de trás da boca dos répteis, preenchida com novos dentes. 

Segundo os pesquisadores, esses novos dentes e o prolongamento da mandíbula então se deslocavam para frente como uma correia transportadora até ocupar o espaço dos dentes desgastados.

Idosos eram impedidos de comer pelo formato da boca

O problema é que a área antiga e danificada da mandíbula não desaparecia. Ao aumentar continuamente suas mandíbulas e empurrar seções antigas para frente, os rincossauros acabaram desenvolvendo uma curva inclinada e aparentemente sorridente em suas bocas – o que se pronunciava cada vez mais forte conforme os animais envelheciam.

Benton e sua equipe descobriram também que esse processo não durava para sempre. Em determinado momento, os rincossauros paravam de desenvolver nova camada de mandíbula e dentes.

Uma investigação no fóssil de rincossauro idoso revelou que ele havia perdido quase todos os dentes antes de morrer. Os que restaram foram desgastados quase até o osso, o que teria colocado o animal em uma situação desesperadora.

A descoberta indica que os rincossauros que sobreviveram por tempo suficiente para envelhecer podem ter morrido de fome. 

“Mas, provar essa hipótese exigirá a busca por mais evidências de fome em fósseis de rincossauros”, disse Yara Haridy, bióloga evolutiva da Universidade de Chicago, que não esteve envolvida no artigo, mas o revisou para a publicação.

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