Twitter: Cobrança por APIs prejudica trabalho de ONGs e pesquisadores

Os altos valores cobrados pela API do Twitter estão afetando trabalhos, pesquisas e investigações sobre guerras, desinformação e outros temas importantes
Por William Schendes, editado por Pedro Spadoni 20/06/2023 16h47, atualizada em 20/06/2023 16h49
Celular com logomarca do Twitter na tela colocado sobre notas de dólares para ilustrar cobrança de API do Twitter
(Imagem: Hamara/Shutterstock)
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A medida recente do Twitter de cobrar (caro) pelo acesso a API da rede social está dificultando o combate a desinformação e pesquisas sobre crimes de guerra. Atualmente, a rede social cobra mais de US$ 500 mil (aproximadamente R$ 2,4 milhões em conversão direta, na cotação atual) por ano pela ferramenta que costumava ser gratuita.

Para quem tem pressa:

  • As APIs (Interface de Programação de Aplicações) permitem que pesquisadores analisem dados sobre as postagens na rede social;
  • Esses dados são importantes para verificar informações sobre a interferência da rede social em eleições e disseminação de desinformação, por exemplo;
  • A ferramenta também possibilita coletar evidências em foto e vídeo de postagens potencialmente criminosas;
  • Conforme publicou o jornal The Washington Post, a mudança está dificultando o trabalho de ONGs, estudantes, agências políticas e pesquisadores independentes.

Em relatório recente, a International Crisis Group concluiu que a mudança na política de API do Twitter “reduzirá significativamente as informações sobre o impacto de campanhas de interferência eleitoral, assédio online de ativistas e os efeitos da desinformação sobre violência”.

Países cujo sistema institucional (estado de direito) é “frágil” devem ser mais afetados por esses efeitos negativos.

Leia mais:

Barreiras da cobrança por APIs do Twitter

Notebook com logomarca do Twitter aberta e teclado acesso com luz azul
(Imagem: Dado Ruvic/Reuters)

Em entrevista ao jornal, um investigador internacional de direitos humanos comentou sobre as dificuldades financeiras das instituições para ter acesso à ferramenta.

É uma grande preocupação. Muitas instituições importantes, inclusive nós, podem ter dificuldades para fazer um orçamento para isso.

Pesquisador, sob condição de anonimato.

Para se ter ideia da importância da API, investigadores de direitos humanos da Síria e Ucrânia afirmam que a ferramenta foi essencial para localização grupos que espalhavam desinformação sobre ataques com armas químicas do governo sírio e a invasão da Ucrânia por soldados russos. 

As evidências de crimes de guerra cometidos pela Rússia coletadas no Twitter foram submetidas a análise pelo Tribunal Penal Internacional.

No conflito da Síria, a organização Hala Systems usou a API para que as equipes de resgate pudessem se preparar para ataques quando aviões de guerra se aproximassem.

Eles estão tirando uma ferramenta que é amplamente útil para a sociedade, especialmente para aqueles que trabalham para apoiar uma realidade baseada em fatos e responsabilização por atrocidades. Não retirando-o totalmente, não desativando-o ou dizendo que viola os termos de uso, mas simplesmente colocando-o fora do alcance de organizações como a nossa e certamente de indivíduos dedicados.

Disse John Jaeger, ex-diplomata dos EUA e cofundador da Hala Systems

Outro exemplo de utilização da API do Twitter aconteceu durante os primeiros meses de conflito no Sudão, em que os pesquisadores do Laboratório de Pesquisa Forense Digital do Atlantic Council usaram o recurso para verificar as contas da rede social que amplificavam narrativas de um dos lados da guerra.

Após muitas críticas aos altos valores cobrados pela API, o Twitter deu um passo para trás e decidiu liberá-la gratuitamente para serviços verificados do governo, ou de propriedade pública que emitem alertas meteorológicos, atualizações de transporte ou noticiações de emergência.

Com informações de The Washinton Post

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Jornalista em formação pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Mesmo com alguns assuntos negativos, gosta ficar atualizado e noticiar sobre diferentes temas da tecnologia.

Pedro Spadoni
Redator(a)

Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Já escreveu para sites, revistas e até um jornal. No Olhar Digital, escreve sobre (quase) tudo.