Remédios poluem como plástico (e a automedicação pode ser um problema)

Remédios e resíduos fármacos também poluem as águas do planeta; automedicação pode piorar a situação. Entenda!
Por Vitoria Lopes Gomez, editado por Bruno Capozzi 22/06/2023 05h39
Comprimidos, cápsulas e demais tipos de remédios empilhados
Imagem: Myriam Zilles/Unsplash
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Quando pensamos em poluição, imaginamos lixo descartado em lugares inapropriados, plásticos e dejetos nas águas. Isso é verdade. No entanto, um estudo mostrou que os resíduos farmacêuticos, como restos de remédios, também contaminam o meio ambiente, principalmente rios e oceanos.

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Poluição por fármacos

Todos nós ingerimos remédios e outras substâncias químicas e farmacêuticas.

Segundo o professor Eduardo Bessa Azevedo, do Instituto de Química de São Carlos da USP, uma parte deles é absorvida pelo nosso corpo e são excretadas por nós.

Mesmo que a cidade tenha estação de tratamento de lixo, água e esgoto, um pouco desses resíduos sempre passarão.

Estudo

Um estudo publicado na revista Environmental Toxicology and Chemistry mostrou como 43,5% dos 1.056 rios examinados possuem altas concentrações de resíduos farmacêuticos.

Para piorar, o Brasil é o quinto maior produtor de lixo no mundo, de acordo com o Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Ou seja, a poluição só aumenta.

Carros poluição
Poluição pode estar na água, terra e no ar; automedicação pode piorar situação (Imagem: khunkornStudio/ Shutterstock)

Plástico vs. Remédios: qual é mais poluente?

Para Bessa Azevedo, pouco importa: os dois poluem e contaminam o meio ambiente.

Tudo é contaminação. Como eu costumo brincar com meus alunos: o que é um barril de veneno com uma gota de champanhe? Eles respondem ‘veneno’. E o que é um barril de champanhe com uma gota de veneno? Também é veneno. Eu não beberia o champanhe desse barril sabendo que ele tem uma gota de veneno. Contaminação não é uma questão de quantidade ou de que meio ela está: está contaminado, está contaminado.

Eduardo Bessa Azevedo

Porém, um fenômeno observado em microplásticos e que se repete nos resíduos farmacêuticos é a biomagnificação. Nesse processo, as substâncias se acumulam no organismo e, conforme a cadeia alimentar sobe, a contamiação vai junto com ela.

O professor alerta que mesmo que a concentração seja baixa na água, quando chega no topo da cadeia, será alta. “A gente tem que lembrar que, normalmente, quem está no topo da cadeia somos nós”.

Tartaruga nada em mar coberto por plástico
Poluição dos mares por plástico também é preocupante (Imagem: Marti Bug Catcher / Shutterstock)

O que fazer?

  • Segundo o professor, cabe à comunidade científica desenvolver melhores formas de tratar a água e os resíduos. Ele ressalta que os sistemas atuais são bons, mas não foram projetos para esse tipo de contaminação.
  • Bessa Azevedo também pede o auxílio da população: para retirar os fármacos do meio ambiente, as pessoas têm que evitar o uso desenfreado e sem necessidade. De acordo com ele, “quanto mais remédios a gente toma, mais resíduos a gente gera”.
  • Segundo dados do Conselho Federal de Farmácia até 2019, cerca de 77% dos brasileiros se automedicavam.

Futuro

Atualmente, a concentração dos fármacos na água ainda é baixa. Porém, o professor ressalta sua preocupação para o futuro se a situação não melhorar.

O que a gente quer saber é o que acontecerá conosco depois de 10, 20, 30 anos tomando água com quantidades muito pequenas de algo. Será que vai desenvolver alguma doença? Será que há alguma alteração significativa? É uma coisa que ainda será respondida.

Eduardo Bessa Azevedo

Com informações de Jornal da USP

Vitória Lopes Gomez é jornalista formada pela UNESP e redatora no Olhar Digital.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.