Uma preocupação constante para pais de crianças, sobretudo, é saber onde seus filhos estão. Alguns são mais livres para sair, outros já saem de vez em quando, e muitas vezes, acompanhados de alguém.

Crianças com menos de dez anos não costumam ter celulares, o que impede uma comunicação direta e constante com os responsáveis. Dessa forma, a preocupação sobre como encontrar o rebento é ainda mais natural. Porém, há pais que estão conseguindo driblar essa situação de uma forma, no mínimo, muito interessante e inteligente.

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Um bom exemplo é Stephanie Chin, que trabalha com Recursos Humanos. Ela sempre (isso mesmo, sempre) sabe onde sua filha está. E olhe que a garotinha de oito anos tem vida agitada: Entre a escola, atividades e amigos, ela precisa, muitas vezes, ir a vários lugares longe da casa de sua família, em Maryland (EUA).

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A qualquer momento, Chin e seu marido podem abrir seus smartphones e ver a localização recente de sua filha em um mapa. Como isso é possível? Com uma simples Apple AirTag. No caso da pequena, são duas AirTags presas à mochila da garota.

Para alguns, pode ser arrogante porque me preocupo muito, pois ela é minha única [filha]. Realmente, se resume ao que faz de você mais confortável, e eu prefiro estar segura do que lamentando.

Stephanie Chin, sobre usar a Apple AirTag para monitorar a filha de oito anos

Chin é um dos vários pais e cuidadores que usam dispositivos de rastreamento para manter as crianças muito novas para ter um celular sob controle. Pensando no custo das AirTags – US$ 29 (em média, R$ 200 no Brasil), costumeiramente utilizadas para achar chaves, por exemplo, ou uma bolsa.

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Elas conseguem rastrear objetos (e pessoas) e mostrá-las em qualquer dispositivo Apple próximo que consiga receber as informações no mapa por meio da internet.

Pais mais tranquilos com as AirTags

  • Os adultos estão colocando os rastreadores nas mochilas, bicicletas ou, diretamente, nas crianças, para precisão maior;
  • Na internet, empresas vendem centenas de prendedores para os rastreadores, todos coloridíssimos;
  • Nessa lista, há ainda pulseiras, chaveiros, cordões e alfinetes;
  • Alguns cuidadores chegam a costurá-los em jaquetas, ou amarrá-los nos sapatos para protegê-los de seus usuários “caóticos”.

Apple AirTags

Quando a Apple lançou as AirTags, em 2021, a empresa deixou claro que elas não eram recomendadas para uso em crianças ou animais, apenas em objetos inanimados. A informação, escrita em pequena etiqueta, contudo, não impediu as pessoas de contrariar a recomendação da empresa da maçã.

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Aliás, além de crianças, cuidadores também vêm usando os rastreadores em pessoas com demência e Alzheimer, e donos de animais os colocam nas coleiras de cães e animais.

Imagem: Tada Images/Shutterstock

Não são só as AirTags

Além das AirTags, as famílias usam outros rastreadores que também não são destinados a crianças, como as de Tile e Chipolo. Contudo, há um mercado emergente de dispositivos GPS desenvolvidos para crianças, como o rastreador Jiobit e o relógio Gizmo, que são mais caros, mas que possuem conexão direta com celulares para maior precisão. Por vezes, as famílias mudas para smartphones e smartwatches.

Contudo, o rastreamento de crianças é algo delicado de se debater. Seria uma cultura de vigilância exagerada, tramoia inteligente para gerenciar uma família atarefada, ou maneira de recuperar um pouco da liberdade que gerações anteriores tinham (muito pelo fato de o mundo ser menos perigoso no passado)?

Uso mais contido

Sandi Bourbeau usou a AirTag com seu filho, agora com 13 anos, por apenas três meses. Ele queria andar com sua bicicleta pelo bairro e sair com os amigos, mas ainda não podia ter seu smartphone.

Após checar por onde ele andava nos primeiros dias, Bourbeau parou de olhar, a menos que ela tivesse uma razão para isso.

Para ser honesta, me senti estranha em colocar a tag nele, então, pensei que eu poderia matar dois coelhos com uma cajadada só e colocar uma tag na bicicleta. Era um trampolim e era ótima forma de discutir limites e alternativas.

Sandi Bourbeau, sobre colocar as AirTags em seu filho

Seu filho, então, foi orientado a colocar sua localização periodicamente em seu smartphone, ou seja, não são somente dispositivos enviando atualizações. Ele também tem um cartão de débito da conta da família, cujo uso é sempre recebido por Bourbeau. O menino costuma utilizá-lo para comprar salgadinhos.

Diferente de algumas famílias que conversaram com o The New York Times, a localização dos familiares não se restringe às crianças. O adolescente de Bourbeau também consegue ver em tempo real a localização de seus pais.

Imagem: Masarik/Shutterstock

“Medo” dos smartphones dão vantagem às AirTags

Muitos adultos tentam rastrear seus filhos com as AirTags por preocupações com acesso às redes sociais, bullying online e tudo o mais de ruim que pode vir com um smartphone real. Já as AirTags oferecem a eles uma forma de baixa tecnologia para adiar o inevitável.

Impacto das restrições mais rígidas nas crianças

Há anos, especialistas se preocupam com o impacto de maiores restrições por parte dos pais no desenvolvimento e saúde mentais das crianças.

Nas últimas quatro ou cinco décadas, houve grande declínio na liberdade infantil para fazer as coisas à sua maneira. Para fazer coisas, como caminhar até a escola por conta própria, pegar transporte público sem adultos, ou mesmo ter um emprego em tempo parcial, ou brincar no parque sem serem constantemente monitorado pelos adultos.

Peter Gray, professor pesquisador de psicologia e neurociência no Boston Colledge, que estuda brincadeiras infantis

O aumento a desigualdade de renda significa que os pais estão preocupados sobre o que irá acontecer se seus filhos não forem à escola, o que faz com que alguns “transformem a infância em período de construção de currículo em detrimento da liberdade e da diversão”, disse Gray.

Há, ainda, um aumento dos perigos em histórias virais e pressão ampliada nos pais para manter seus filhos totalmente a salvo dos riscos, algo impossível e que só aumenta a já alta ansiedade.

O resultado de muito controle e monitoramento, afirmou Gray, são crianças que lutam contra ansiedade e depressão e que podem achar meio difícil de cuidarem de suas próprias vidas.

Mas as coisas não eram assim antigamente. As gerações antigas (inclusive a minha), durante a infância, costumavam ficar nas ruas até depois do entardecer, andar sozinhos e estar com cartões telefônicos para usar os clássicos orelhões (ou apenas ter como fazer uma ligação a cobrar e o número de casa).

Meus pais me queriam em casa na hora do jantar, ou quando escurecia. Eles do tipo, aqui está um relógio e uma bicicleta, contanto que você faça sua lição-de-casa.

Tara Mendola, jornalista da Filadélfia (EUA), que tem três filhos

Para pessoas como Mendola, opções de rastreamento de baixa tecnologia não são, necessariamente, ferramentas para monitorar crianças. São também forma prática de ver onde cada um está e quando estarão em casa.

E ainda não uma forma de dar às crianças um pouco da liberdade que seus pais tinha quando crianças, antes que simplesmente caminhar ao ar livre fosse perigoso e difícil.

Mendola e seu marido deram ao seu filho de 11 anos uma pulseira inteligente com uma AirTag, e, enquanto a usa, ele pode andar de bicicleta em seu bairro, ou ir a uma loja.

Recentemente, a filha deles de oito anos ganhou uma pulseira similar, porém, ela só pode andar no quarteirão deles. Ambos sabem sobre os dispositivos e concordaram em usá-los, apesar de o mais velho se irritar com isso.

“Quero que isso [rastreador] seja algo que aumenta a liberdade deles, não nossa vigilância sobre eles”, disse Mendola. Ela se diz preocupada com carros, piscinas, fogões e incêndios, mas não sequestradores.

Trabalhando a próxima geração de clientes tecnológicos

A Apple, contudo, não é contra o uso de tecnlogia para rastrear crianças. A comercializa abertamente o Apple Watch como um GPS vestível e dispositivo de comunicação para crianças que ainda não estão prontas para ter um smartphone.

Porém, há algumas diferenças entre os dispositivos, com o Watch sendo mais caro. Aqueles com a tecnologia de celular custam a partir de US$ 299 (R$ 1,4 mil). E, diferente do Watch, que precisa ser carregado quase diariamente, uma AirTag tem bateria substituível, o que deve ser feito anualmente, mais ou menos.

Mas as localizações das AirTags são menos precisas e podem ter maior atraso quando mostram a localização mais recente, fazendo com que sejam mais arriscadas de se usar em situações nas quais o tempo é fundamental.

Esses dispositivos também não têm sua própria tecnologia celular e, ao invés disso, você precisa acessar a rede circundante de outros dispositivos Apple que podem acessar à internet para transmitir as atualizações.

Se uma criança está em uma área rural ou em qualquer lugar longe de usuários de iPhone, ou iPad, a AirTag pode não conseguir enviar a localização. A Apple não quis comentar sobre o uso de AirTags com crianças.

Segurança das crianças

A segurança tem sido uma sorte inesperada para a indústria de tecnologia e está no centro de vários novos recursos das Big Techs. Além do rastreamento de localização, a indústria está focada em sistemas de vigilância domiciliar, rastreamento de bebês, alertas de queda e recursos de SOS para chamar serviços de emergência via satélite.

Chin, disse ter algumas razões reais para ficar preocupada com sua filha: desde pressão dos colegas, até lidar com estranhos. Ela fará a transição da AirTag para um smartphone quando ela for mais velha.

“Estou totalmente certa de mantê-la sob minhas rédeas até quando não puder mais. Há muitas histórias lá fora.”

Com informações de The Washington Post

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