Um artigo publicado na terça-feira (1º) no Journal of Geophysical Research Planets relata que as crateras de impacto mais antigas do mundo vêm desaparecendo. Segundo o estudo, as primeiras cicatrizes deixadas na Terra por choques de asteroides podem sumir para sempre devido às ações do tempo.

De acordo com a análise, essa é a razão pela qual nunca foram encontradas crateras com mais de 2 bilhões de anos. A erosão constante e os processos geológicos na Terra provavelmente as ocultaram completamente, deixando apenas os vestígios mais básicos, como minerais de alta pressão e rocha derretida.

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“É quase um acaso que as estruturas antigas que temos sejam preservadas”, diz o cientista planetário Matthew Huber, da Universidade do Cabo Ocidental, na África do Sul, principal autor do novo estudo. “Há muitas perguntas que seríamos capazes de responder se tivéssemos essas crateras mais antigas. Mas essa é a história normal na geologia. Temos que fazer uma história a partir do que está disponível”.

Imagem de satélite mostra o local de impacto de Vredefort. Pouco resta da cratera mais antiga do mundo. Crédito: Planet Observer/UIG/REX

Conforme destaca o site Science Alert, os primeiros anos do Sistema Solar foram muito mais turbulentos do que agora. Havia milhares de rochas espaciais voando por aí, e os planetas mais internos levaram muita pancada. Marte, Mercúrio e a Lua têm superfícies com crateras que datam de mais de 4 bilhões de anos atrás, atestando essa violência.

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É lógico que a Terra também foi atingida, mas não há qualquer registro de crateras com mais de 2 bilhões de anos. Embora se saiba que a Terra tenha coisas que os corpos citados não têm – como poderosas influências erosivas e atividade tectônica – Huber e sua equipe queriam saber exatamente o quão eficazes e eficientes esses processos são para apagar tais evidências.

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Como as crateras desaparecem da superfície

Há maneiras pelas quais os cientistas podem encontrar indícios de crateras. Um impacto maciço muda o manto abaixo do chão da cratera, por exemplo, que pode ser revelado com mapeamento gravitacional e imagens sísmicas.

Huber pretendia saber, no entanto, quanta erosão de cima para baixo é necessária para remover todas as evidências geofísicas da superfície.

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A equipe investigou Vredefort, na África do Sul, uma das crateras de impacto mais antigas conhecidas do mundo. Com cerca de 2 bilhões de anos e 300 quilômetros de diâmetro, ela se formou quando um asteroide de 20 quilômetros atingiu a Terra. O impacto mudou a forma da superfície do planeta, com um pico no centro devido a rebote e estruturas concêntricas ao seu redor.

Imagem mais aproximada do que resta do impacto Vredefort, na Província do Estado Livre da África do Sul. Crédito: Observatório da Terra da NASA/Lauren Dauphin, usando dados Landsat do Serviço Geológico dos EUA

Estima-se que a erosão vertical de cerca de 10 quilômetros de material seja suficiente para apagar até mesmo as maiores crateras. Vredefort teria experimentado de 7 a 10 quilômetros de erosão vertical. Tudo o que resta ali é um anel semicircular de colinas e algumas características menores, bem como alterações invisíveis no subsolo encontradas em levantamentos de mapeamento gravitacional.

Para entender o que aconteceu, os pesquisadores coletaram amostras de núcleo de rocha de diferentes pontos da cratera. Eles modelaram as mudanças que o impacto teria feito na rocha e compararam suas amostras, procurando diferenças de densidade, porosidade e mineralogia entre rochas impactadas e não impactadas.

Passado apagado

Os resultados mostraram que as chances não são boas para encontrar crateras mais antigas. Embora alguns minerais de impacto e derretimento pudessem ser identificados dentro da cratera, as rochas nas regiões externas eram indistinguíveis das rochas sem impacto ao seu redor.

“Esse não era exatamente o resultado que esperávamos”, diz Huber. “A diferença, onde havia, era incrivelmente silenciosa. Levamos um tempo para realmente entender os dados. Dez quilômetros de erosão e todas as evidências geofísicas do impacto simplesmente desaparecem, mesmo com as maiores crateras”.

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