Polêmica no mundo da arte. Uma galeria na cidade de Bradford, no norte da Inglaterra, colocou em exibição uma pintura que teria sido identificada pela inteligência artificial como uma obra do renascentista italiano Rafael. Pesquisadores das Universidades de Nottingham e Bradford usaram um modelo de reconhecimento facial com IA que apontou uma semelhança de 97% entre a Virgem Maria retratada na pintura De Brécy Tondo e a Madona Sistina, obra confirmada de Rafael. Mas alguns especialistas defendem que a tecnologia não consegue fazer a distinção entre obras de arte verdadeiras e cópias falsificadas.

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Polêmica

  • As exibições de pinturas de mestres renascentistas como Rafael, Michelangelo e Leonardo da Vinci geralmente são reservadas aos locais de arte mais famosos do mundo, como o Louvre em Paris, o Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque, e os Museus do Vaticano.
  • Mas essa obra de arte em específico está sendo apresentada em uma exposição de dois meses na Cartwright Hall Art Gallery, o que gerou uma grande polêmica entre especialistas da área.
  • Os pesquisadores esperam que seu uso experimental de IA acabe com um debate de décadas sobre as origens da pintura, conhecida como De Brécy Tondo, permitindo que ela seja admitida junto a outras obras de Rafael.
  • Hassan Ugail, professor de computação visual da Universidade de Bradford que desenvolveu o modelo, disse que o caso mostra que está na hora de os conhecedores de arte modernizarem seu kit de ferramentas.
  • “Foi uma grande curva de aprendizado para entender o mundo da arte e como os especialistas quase não usam evidências científicas. Os pesquisadores do modelo usaram marcos de dimensões que o olho humano não consegue ver”, disse ele.
Comparação entre as pinturas De Brécy Tondo e a Madona Sistina (Imagem: Universidade de Nottingham)

Uma obra autêntica pode valer milhões de dólares

  • A certificação da autoria de uma obra de arte pode gerar enormes riscos financeiros, segundo Richard Polsky, que dirige uma empresa de autenticação focada em artistas americanos do século 20.
  • “Digamos que haja um número muito pequeno de obras genuínas de certo artista nos museus. Você coloca mais uma obra no mercado e pode cobrar um preço enorme, porque ela esteve em mãos privadas por séculos. Não é preciso muito para alguém com dinheiro dizer: Quero isso no meu novo museu e vou pagar US$ 100 milhões”, apontou ele.
  • Alguns artistas têm um catálogo definitivo de obras atribuídas, mas outros, não.
  • Isso significa que os estudiosos e o mercado de arte precisam chegar a um consenso sobre possíveis novas peças, as quais podem render milhões e mudar a compreensão dos espectadores sobre o artista em questão.

Impactos da IA na identificação de pinturas

  • Os defensores do uso da IA dizem que ela deixará o processo de atribuição de obras de arte mais justo.
  • “A confiança no julgamento de um único especialista humano pode ser arriscada devido ao potencial de erro humano, à subjetividade ou aos vieses”, afirmou Carina Popovici, diretora executiva da empresa de autenticação de IA Art Recognition.
  • Ela explica que o algoritmo consegue detectar com precisão pinturas falsas, citando o caso do falsificador Wolfgang Beltracchi, que admitiu em 2012 ter inventado obras de cerca de 50 artistas.
  • Mas, no caso de De Brécy Tondo, estudiosos de Rafael e do Renascimento dizem que estão céticos sobre os resultados do modelo de IA.

IA é confiável?

  • Um colecionador particular comprou a pintura em 1981, percebendo sua semelhança com a Madona Sistina, e a transferiu para um fundo em 1995 para que a obra fosse estudada.
  • Alguns dizem que se trata realmente de um original de Rafael.
  • Outros, no entanto, garantem que é uma cópia feita em algum momento entre a vida do artista e o século 19.
  • Richard Polsky diz não ter certeza se um modelo de IA consegue detectar nuances que os especialistas veem quando olham para uma obra de arte.
  • “Se você está profundamente imerso no trabalho de um artista, já leu tudo sobre ele. Já esteve em todos os museus do mundo para ver originais, já esteve em exposições em galerias, talvez tenha alguma obra ou já as comprou e vendeu. Não acho que esse tipo de coisa possa ser ensinado”, observa.
  • Apesar do ceticismo dos especialistas em arte, a tecnologia está rapidamente se tornando um elemento do mundo da arte.
  • Além de distinguir obras de arte verdadeiras e falsas, os modelos baseados na inteligência artificial estão gerando novas obras de arte, além de mais polêmicas.
  • Um grupo de artistas processou várias empresas neste ano alegando que elas violaram a lei de direitos autorais ao usar arte online como material de treinamento.

Com informações de Estadão.

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