Um estudo recém-publicado na revista Nature, conduzido por uma equipe de cientistas da Bélgica, EUA, França e Alemanha, revelou uma aceleração surpreendente no movimento rotacional anual de Marte. Tão surpreendente que ninguém consegue explicar.

De acordo com os dados obtidos pela sonda InSight, da NASA, o Planeta Vermelho está girando cerca de quatro milissegundos de arco mais rápido a cada ano. O equipamento foi aposentado em dezembro de 2022, mas as informações coletadas ao longo de seus quatro anos de operação se mantêm disponíveis e têm sido extremamente valiosas.

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A sonda InSight trabalhou por quatro anos, 11 meses e 16 dias em Marte coletando dados da parte interna do planeta. Crédito: joshimerbin – Shutterstock

Embora a variação percebida seja muito pequena, essa aceleração tem diminuído a duração dos dias marcianos (ainda que pouquíssimo). Os cientistas ainda não entendem o que pode estar por trás disso, mas dizem que a descoberta trará melhor compreensão de Marte e de sua evolução passada.

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Como os cientistas identificaram a aceleração na rotação de Marte

A pesquisa foi conduzida com base em comunicações de rádio entre os instrumentos RISE (sigla em inglês para Experimento de Rotação e Estrutura Interna) a bordo da sonda InSight e a Deep Space Network, a rede de receptores de sinais em solo da NASA.

Ao analisarem variações sutis na frequência das ondas de rádio no decorrer de 900 dias, os cientistas obtiveram medições precisas da rotação de Marte, que apontam para uma possível redistribuição de massa no planeta.

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Conforme destaca o site Science Alert, aqui na Terra, acontece o contrário: um processo de desaceleração rotacional é provocado pela Lua, que redistribui a massa do planeta com sua força gravitacional agindo sobre os oceanos. No entanto, Marte não tem oceanos, então deve estar acontecendo algum outro processo, ainda desconhecido pelos astrofísicos.

Isso requer pesquisas mais aprofundadas, mas, por enquanto, algumas teorias tentam explicar a aceleração da rotação de Marte pelo acúmulo de materiais nas calotas polares ou por dinâmicas internas do planeta.

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Segundo o estudo, o RISE também forneceu dados que ajudaram os pesquisadores a refinar as medidas do núcleo de Marte, revelando um raio entre 1.780 e 1.830 quilômetros e uma densidade de 6,2 a 6,3 gramas por centímetro cúbico.

Impressão artística da estrutura interna de Marte. Crédito: IPGP/David Ducros

A nutação do planeta (como é chamada pelos astrônomos essa pequena oscilação periódica do eixo de rotação descoberta) sugere que essa densidade não está distribuída uniformemente, o que precisa ser investigado em análises futuras.

“É um experimento histórico”, diz o astrônomo Sebastien Le Maistre, do Observatório Real da Bélgica. “Gastamos muito tempo e energia nos preparando para o experimento e antecipando essas descobertas. Mas, apesar disso, ainda fomos surpreendidos ao longo do caminho – e não acabou, já que o RISE ainda tem muito a revelar sobre Marte”.

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