Canudinhos de papel podem não ser tão ecológicos

O mundo tem tentado tornar-se mais sustentável, mas trocar canudinho de plástico pelos de papel pode não ser uma boa escolha
Por Mateus Dias, editado por Lucas Soares 25/08/2023 16h36, atualizada em 25/08/2023 16h38
Canudinhos de papel
Canudinhos de papel (Credito: Karlevana/ Shutterstoc)
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Em diversos lugares os canudos de plástico têm sido substituídos por canudos de papel por serem mais ecológicos e supostamente causarem menos danos ao meio ambiente. No entanto, um novo estudo aponta que essa troca pode não ser tão sustentável quanto parece, pois esses produtos podem conter composto químicos que duram para sempre, ou quase, no ambiente e em nossos corpos.

O estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Antuérpia, na Bélgica, complementou uma pesquisa realizada há dois anos nos Estados Unidos. O trabalho de 2021 mostrou que canudinhos à base de plantas continham substâncias como poli e perfluoroalquílicas (PFAS), o mais recente decidiu analisar se o mesmo acontecia na Europa.

Os PFAS também são conhecidos como “Forever Chemicals” (Químicos para sempre em inglês), e são um grupo formado por mais de 12 mil compostos. Por não se decomporem facilmente, eles se acumulam no ambiente e no corpo humano, podendo causar problemas de saúde. 

Somos continuamente expostos a PFAS a partir de alimentos e da água potável. Além disso, eles estão presentes em muitas embalagens e sacos plásticos, podendo ser transferidos para os alimentos envolvidos neles. 

No estudo recente, os pesquisadores analisaram a presença desses compostos em canudinhos feitos de diferentes materiais, como papel, bambu, plástico, vidro e aço inoxidável. Foram testadas 39 marcas enquanto eram analisadas 29 PFAS diferentes.

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No total, foram encontrados 18 tipos de PFAS em 69% das marcas. No entanto, nos canudinhos feitos de papel essa porcentagem subiu para 90%, com concentrações variáveis dos compostos químicos.

  • Bambu: 80% das marcas possuíam PFAS;
  • Plástico 75% das marcas;
  • Vidro: 40% das marcas;
  • Aço inoxidável: nenhuma das marcas testadas apresentaram os compostos.

Os canudos feitos de materiais vegetais, como papel e bambu, são frequentemente anunciados como sendo mais sustentáveis ​​e ecológicos do que aqueles feitos de plástico. No entanto, a presença de PFAS nestes canudos significa que isso não é necessariamente verdade.

Thimo Groffen, autor correspondente do estudo, em reposta a SciMex

O químico mais encontrado foi o ácido perfluorooctanóico (PFOA), proibido em todo mundo em 2020 por causar redução da resposta imunitária, aumento do nível de colesterol, doenças da tireóide e ao aumento do câncer renal e testicular. Além dele, também foi detectado ácido trifluoroacético (TFA) e ácido trifluorometanossulfônico (TFMS), PFAS que podem contaminar as bebidas por serem altamente solúveis em água.

Os níveis de concentração desses compostos são baixos e não causam grandes problemas à saúde. O problema é que eles são bioacumulativos, ou seja, ao serem ingeridos não são mais excretados.

A pesquisa não apontou como os químicos foram parar na composição dos canudinhos. Mas visto que os PFAS foram detectados em quase todas as marcas, acredita-se que eles possam ter sido adicionados como repelente à água. Agora, os pesquisadores sugerem que se escolha os canudinhos de aço (que podem ser usados várias vezes), ou simplesmente abandonem o uso deles.

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Redator(a)

Mateus Dias é estudante de jornalismo pela Universidade de São Paulo. Atualmente é redator de Ciência e Espaço do Olhar Digital

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.