Cientistas criaram um modelo de um embrião humano a partir de células-tronco em laboratório sem usar espermatozóides, óvulos nem útero. O feito da equipe de pesquisadores do Instituto de Ciência Weizmann de Israel oferece um vislumbre único das fases iniciais do desenvolvimento embrionário.

Para quem tem pressa:

  • Cientistas do Instituto de Ciência Weizmann de Israel criaram um modelo de embrião humano a partir de células-tronco em laboratório, sem utilizar espermatozoides, óvulos ou útero;
  • O modelo se assemelha a um embrião no 14º dia de gestação, com estruturas internas formadas, mas sem a base para o desenvolvimento dos órgãos do corpo;
  • A pesquisa foi publicada na revista Nature em setembro e não representa um embrião real ou sintético, mas sim um modelo que demonstra o funcionamento inicial de um embrião;
  • O estudo pode ter aplicações importantes, como testar medicamentos na gravidez, compreender melhor abortos espontâneos e doenças genéticas, e até mesmo crescer tecidos e órgãos para transplantes;
  • No entanto, a pesquisa levanta questões éticas sobre a manipulação do desenvolvimento embrionário humano.

O modelo se assemelha a um embrião no 14º dia de gestação. Neste ponto do processo, ele adquire estruturas internas, mas ainda não estabeleceu as bases para os órgãos do corpo, explicou a equipe para a Reuters.

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O trabalho dos cientistas foi publicado na revista Nature em setembro, após uma pré-publicação em junho, durante a reunião anual da Sociedade Internacional de Pesquisa com Células-Tronco (ISSCR) em Boston (EUA).

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A equipe israelense enfatizou que ainda estão longe de ser capazes de criar um embrião do zero.

A questão é: quando um modelo de embrião passa a ser considerado um embrião? Quando isso acontece, conhecemos as regulamentações. No momento, estamos muito, muito longe desse ponto.

Jacob Hanna, líder da equipe de pesquisadores do Instituto de Ciência Weizmann de Israel

Criando o modelo de embrião

Ilustração digital 3D de modelo de embrião
(Imagem: Instituto de Ciência Weizmann de Israel)

É comum encontrar textos sobre o feito com “embrião sintético” no título. Mas o que os cientistas criaram não é um embrião sintético nem real. Inclusive, a ISSCR e outros cientistas criticam o uso desse termo para se referir ao feito dessa pesquisa. O que eles criaram foi um modelo que mostra como um embrião funciona.

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Dá para resumir o processo em três partes, conforme explicado por Hanna:

  • A equipe usou células-tronco derivadas de células da pele humana adulta, além de outras cultivadas em laboratório;
  • Depois, reverteu as células para um estado inicial com potencial para se desenvolver em diferentes tipos de células;
  • Em seguida, eles as manipularam para formar a base de algo estruturalmente semelhante a um embrião.

Em cerca de 1% dos agregados, podemos ver que as células começam a se diferenciar corretamente, migrando e se organizando na estrutura correta, e o mais longe que conseguimos chegar foi o 14º dia do desenvolvimento do embrião humano.

Jacob Hanna, líder da equipe de pesquisadores do Instituto de Ciência Weizmann de Israel

Magdalena Żernicka-Goetz, professora de desenvolvimento e células-tronco na Universidade de Cambridge (Inglaterra), disse que o estudo se junta a outros seis modelos semelhantes de embriões humanos publicados por equipes de todo o mundo em 2023, incluindo de seu laboratório.

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Assista abaixo um vídeo demonstrativo do modelo de embrião:

Aplicações, questões éticas e próximos passos

Segundo a equipe de cientistas, o trabalho poderia abrir portas para novas maneiras de testar o efeito de medicamentos na gravidez; entender melhor os abortos espontâneos e doenças genéticas; e talvez até mesmo crescer tecidos e órgãos para transplantes.

No entanto, o estudo levanta algumas questões éticas sobre a possibilidade de manipulação futura no desenvolvimento de embriões humanos, observaram Hanna e outros.

O pesquisador fez uma comparação com a física nuclear, na qual argumentou que não se deve interromper toda a pesquisa nesse campo porque alguém poderia optar por fazer uma bomba nuclear. É importante envolver e informar completamente o público, disse ele, sem “nada feito às escuras”.

O próximo objetivo de Hanna, segundo ele, é avançar até o 21º dia e também alcançar um limiar de uma taxa de sucesso de 50%.

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