O Saara é o terceiro maior deserto do mundo, atrás apenas dos gelados da Antártica e do Ártico, mas nem sempre ele foi assim, tomado por dunas de areia e planaltos de pedra. Entre cerca de 15 a 5 mil anos atrás, o norte da África era tomado por florestas. E agora um novo estudo revelou que essa troca entre a areia e as árvores ocorre a cada 21 mil anos.

É estranho pensar que um dos lugares mais secos do planeta algum dia já foi úmido o suficiente para sustentar uma floresta, mas essas transformações fazem parte de uma das mudanças cíclicas mais impressionantes do planeta.

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Em um novo estudo publicado na revista Nature Communications um grupo de pesquisadores simulou modelos de clima que permitissem essas mudanças no Saara. A equipe analisou os Períodos Úmidos Africanos que aconteceram nos últimos 800 mil anos a partir de um modelo climático recentemente desenvolvido e descobriu quais condições possibilitam que o deserto se transforme em florestas e savanas.

Os pesquisadores sugerem que as transformações são impulsionadas por mudanças no eixo da órbita da Terra em torno do Sol, que causa impacto na sazonalidade e altera a quantidade de radiação recebida pela região. Isso muda a força das monções no norte da África e consequentemente a forma como a vegetação se espalha.

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Eras glaciais e as mudanças cíclicas no Saara

Além das mudanças no eixo da Terra, os pesquisadores também relacionam a transformação cíclica do Saara aos eventos de glaciação que aconteceram na Terra. De acordo com eles, os períodos úmidos no norte da África não ocorrem concomitantemente às eras glaciais.

Quando as altas latitudes do planeta, principalmente do Hemisfério Norte, estão cobertas de gelo, a atmosfera terrestre acaba se tornando um grande frigorífico. As temperaturas frias acabam por reduzir a intensidade das monções na África, o que impede o crescimento da vegetação na região.

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Dispersão das espécies

As transformações cíclicas na região do Saara também implicam na forma como nós humanos e outras espécies se espalharam pelo globo. A África é o berço da humanidade e o norte do continente ditou se sairemos dela. 

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Nos milhares de anos em que a região foi um deserto ela era uma barreira quase que intransponível, no entanto, nos períodos de floresta, existia um ambiente acolhedor no local, onde provavelmente era possível encontrar condições agradáveis e comida enquanto o atravessamos. As transformações cíclicas do norte da África acabaram por ser como um portão que controlou a forma como as espécies se espalharam pelo continente e para além dele.

Esta alternância de fases úmidas e áridas [no Saara] teve consequências importantes para a dispersão e evolução das espécies na África. A nossa capacidade de modelar os períodos úmidos do Norte do continente é uma grande conquista e significa que agora também somos mais capazes de modelar as distribuições humanas e compreender a evolução do nosso género na África.

Miikka Tallavaara, coautora da pesquisa, em comunicado

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