Julgamento: Google usou ‘táticas agressivas’ para dominar buscas

O julgamento antitruste que a empresa enfrenta tem trazido à tona detalhes sobre suas estratégias para consolidar seu mecanismo de busca
Pedro Spadoni26/09/2023 12h56, atualizada em 27/09/2023 21h22
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Detalhes das estratégias do Google estão vindo à tona como parte de um julgamento antitruste que começou em setembro nos EUA. O caso ofereceu um vislumbre raro de como o Google solidificou seu status como uma grande porta de entrada para a internet, posição que o Departamento de Justiça estadunidense afirma que a empresa manteve por meio de acordos ilegais e restritivos.

Para quem tem pressa:

  • Mais detalhes sobre as estratégias do Google foram revelados durante um julgamento antitruste nos EUA, oferecendo insights sobre como a empresa mantém sua posição como principal porta de entrada para a internet;
  • As evidências apontam que o Google usou táticas agressivas em negociações com a Apple e a Samsung para garantir que seu mecanismo de busca seja o padrão na maioria dos smartphones em todo o mundo;
  • A empresa argumentou que sua posição de mercado é justificada pela superioridade de seu produto, que atua em cerca de 90% das buscas online;
  • O Departamento de Justiça investiga os contratos do Google com a Apple e outros fabricantes de telefones que direcionam automaticamente os usuários para o mecanismo de busca da empresa.

O Wall Street Journal publicou nesta terça-feira (26) que, de acordo com evidências apresentadas no julgamento, o caminho do Google para dominar as buscas online incluiu táticas agressivas com a Apple e a Samsung, dois parceiros essenciais para tornar o mecanismo de busca padrão na maioria dos smartphones em todo o mundo.

Leia mais:

Google e o julgamento antitruste

Ilustração de barra da busca do Google
(Imagem: Divulgação/Google)

As evidências apontam que o Google aproveitou sua vantagem em conversas com a Apple e outros parceiros, mostrando os tipos de táticas que usou para manter sua participação de mercado nas buscas. A empresa defendeu a posição de mercado de seu mecanismo de busca, argumentando que seu produto é superior.

O Google facilita cerca de 90% de todas as buscas online, o que lhe confere uma visão sem concorrência sobre o comportamento de navegação na internet de bilhões de pessoas. Seu mecanismo de busca suporta um negócio de publicidade que gerou US$ 162 bilhões (aproximadamente R$ 806 bilhões) em 2022, a maior parte da receita da sua controladora, a Alphabet.

O caso do Departamento de Justiça (DOJ, na sigla em inglês) gira em torno dos contratos do Google com a Apple e outros fabricantes de telefones para direcionar automaticamente as pessoas para seu mecanismo de busca.

Confira abaixo uma linha do tempo que resume a trajetória do Google:

  • O Google começou a firmar acordos em 2001, oferecendo-se para dividir a receita gerada quando esses usuários clicam em anúncios;
  • A Apple começou a licenciar o mecanismo de busca do Google para o lançamento de seu navegador Safari em 2003;
  • Em 2005, o Google ofereceu à Apple uma parte da receita de publicidade se tornasse o mecanismo de busca a escolha padrão em computadores desktop;
  • Dois anos depois, a Apple pediu ao Google uma emenda ao contrato que permitisse apresentar aos usuários várias opções para o mecanismo de busca padrão, de acordo com um e-mail apresentado pelo Departamento de Justiça;
  • Em resposta, o Google disse à Apple: “Sem padrão, sem compartilhamento de receita”, de acordo com uma cadeia de e-mails internos que incluía o ex-CEO do Google, Eric Schmidt, e o co-fundador Sergey Brin;
  • A Apple abandonou a ideia e nunca mais a levantou, disse o principal advogado do julgamento do DOJ, Kenneth Dintzer.

Um porta-voz do Google apontou para uma declaração anterior dizendo que a empresa concorre pela posição padrão para que os usuários possam acessar facilmente seus serviços. E a Apple afirmou que escolhe o Google porque é o melhor mecanismo de busca.

O processo

Celular com logotipo do Google e martelo de tribunal de Justiça no fundo
(Imagem: Ascannio/Shutterstock)

O DOJ apresenta as evidências primeiro no caso, que será decidido em um julgamento sem júri pelo juiz distrital dos EUA, Amit Mehta – que poderia, em última instância, ordenar uma divisão ou outras mudanças nas práticas comerciais do Google.

Mehta permitiu censuras e sigilo dos registros do julgamento, o que significa que o público tem apenas uma visão limitada da extensão completa do que foi apresentado ao juiz.

O julgamento recomeça na terça-feira com o depoimento de Eddy Cue, vice-presidente sênior de serviços da Apple. O CEO do Google, Sundar Pichai, deve testemunhar, assim como alguns executivos da Microsoft. O Google vai apresentar sua defesa a partir de outubro.

Pedro Spadoni
Redator(a)

Pedro Spadoni é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Já escreveu para sites, revistas e até um jornal. No Olhar Digital, escreve sobre (quase) tudo.