Em 1º de setembro de 1859, uma explosão no Sol liberou energia equivalente a 10 bilhões de bombas atômicas em direção à Terra, provocando o caos nas máquinas de telégrafo, que apresentaram falhas em várias partes do mundo. O episódio ficou conhecido como Evento Carrington (em referência ao astrônomo amador Richard Carrington, que o descobriu) e, até hoje, é visto como a maior tempestade solar da história.

Um artigo publicado nesta segunda-feira (9) na revista Philosophical Transactions of the Royal Society A, no entanto, revela que um outro evento desse tipo, ocorrido há cerca de 14 mil anos, teria sido ainda mais poderoso.

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O que você precisa saber:

  • Pesquisadores identificaram uma ultrapoderosa tempestade solar pré-histórica;
  • O episódio teria magnitude muito maior que o famoso Evento Carrington;
  • A equipe fez a descoberta analisando anéis de árvores dos Alpes franceses e núcleos de gelo na Groenlândia;
  • Isso porque esses corpos guardam sinais do tempo causados pela variação de radiocarbono;
  • O exame detectou nove tempestades solares colossais em um intervalo de 15 mil anos.
Ilustração mostra uma erupção solar em direção à Terra e a interação dos campos magnéticos. Crédito: NASA

Como a poderosa tempestade solar pré-histórica foi descoberta

Tempestades solares ocorrem quando o Sol libera partículas carregadas de radiação em direção à Terra, provocando tempestades geomagnéticas, que geralmente causam auroras deslumbrantes mas, em casos extremos, podem levar a interferências em comunicações via satélite e rádio ou mesmo derrubar satélites em órbita. 

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Eventos assim também afetam o carbono-14 radioativo que chove constantemente na Terra. Este radiocarbono é produzido na atmosfera superior à medida que partículas cósmicas interagem com partículas atmosféricas.

O carbono-14 é incorporado em organismos, como árvores e animais, e como decai progressivamente a uma taxa conhecida, os cientistas podem usá-lo para determinar quando esses organismos viveram. 

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O isótopo também pode documentar erupções solares, escondidas nos anéis anuais de árvores antigas. A monstruosa tempestade solar pré-histórica, por exemplo, foi descoberta em árvores subfossilizadas nos Alpes franceses e núcleos de gelo da Groenlândia. 

Exemplo de árvore subfossilizada examinada pela pesquisa nos Alpes franceses. Crédito: Cécile Miramont

Agora conhecido como Evento Miyake, o episódio deixou vestígios no aumento acentuado de carbono-14 e concentrações anômalas de isótopos de berílio nas marcas equivalentes a 14.300 anos, mais ou menos.

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Compreender o passado ajuda a se proteger de eventos críticos no futuro

Nove desses Eventos Miyake foram identificados nos últimos 15 milênios, com o mais recente datado do ano de 774. A causa exata dessas ocorrências ainda é um mistério, mas as tempestades solares são as principais suspeitas – embora supernovas próximas também possam ser responsáveis.

Independentemente da origem, se algo semelhante ocorresse hoje, os danos seriam catastróficos. Esses eventos poderiam interromper redes de energia elétrica, danificar transformadores e causar apagões prolongados que poderiam levar meses para serem resolvidos.

“Uma compreensão precisa de nosso passado é essencial se quisermos prever com exatidão nosso futuro e mitigar riscos potenciais”, disse o estatístico Tim Heaton, da Universidade de Leeds, no Reino Unido, um dos autores da pesquisa, em um comunicado. “Ainda temos muito a aprender. Cada nova descoberta não só ajuda a responder às principais perguntas existentes, mas também pode gerar novas”.