A padronização do sistema agroalimentar, além de ser maléfico para os seres humanos, também afeta o meio ambiente. Tanto na forma como cultivamos os alimentos e criamos animais, quanto na produção e consumo baseado em produtos industrializados e ultraprocessados, nosso padrão alimentar tem demonstrado resultados prejudiciais para a saúde, biodiversidade e a crise climática.

É o que a diretora do Instituto Comida do Amanhã, Juliana Tângari, defende. Em entrevista ao Jornal USP ela disse que o problema é que, de um lado, enfrentamos doenças crônicas derivadas dessa alimentação. De outro, há uma seríssima perda de biodiversidade que compromete os limites do planeta e nos impulsiona para a emergência climática.

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Padrão agroalimentar: causa e consequência

  • Após o fim da guerra, o mundo alterou seu padrão alimentar para algo “rápido, à base de produtos industrializados e ultraprocessados, e concentrado em poucos ingredientes”
  • A mudança veio com a ascensão das classes médias, a entrada das mulheres no mercado de trabalho, a globalização e o modelo de crescimento econômico.
  • O novo padrão trouxe consigo a perda da biodiversidade e o impulsionamento da crise climática.
  • Além disso, causou a concentração da produção agrícola em poucas culturas e a dependência de alimentos ultraprocessados.
  • Para se ter uma noção, de acordo com a Organização para Alimentação e Agricultura da ONU, cerca de 38% da superfície terrestre global é dedicada à agropecuária. Um terço desse espaço é destinado à agricultura, sendo dominado por quatro culturas principais: cana-de-açúcar, milho, arroz e trigo.
  • No Brasil, foram produzidas 322.752,8 mil toneladas de grãos em 2022/23. Mais, da metade foi soja (154.617,4 mil toneladas) e milho (131.865,9), conforme dados da Companhia Nacional de abastecimento (Conab).
  • O metano representa 20% da emissão de gases do efeito estufa, sendo liberado 38% pela criação de gado e 8% do cultivo de arroz.

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O que pode ser feito para mudar o padrão agroalimentar?

  • Disseminar informações para conscientizar sobre os desafios da alimentação inadequada.
  • Ampliar a diversidade na produção agrícola, priorizando opções nativas com baixa emissão de carbono e integrar culturas de povos tradicionais.
  • Distribuir o espaço de produção agrícola para mais perto das cidades.
  • Garantir acesso universal à alimentação saudável através de programas públicos e privados.
  • Utilizar incentivos fiscais e tributação para reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados.

Essas foram algumas das sugestões apontadas por Tângar para diminuir as consequências do sistema alimentar atual.

Resgatar, preservar e fomentar culturas alimentares sócio e biodiversas deve ser prioridade de governos, empresas e de organizações que financiam atividades para a saúde pública e para o combate à mudança climática.

Juliana Tângari, diretora do Instituto Comida do Amanhã, para o Jornal da USP