Esta terça-feira (7) entrou para a história da astronomia como o dia em que foram divulgadas as primeiras imagens científicas do Telescópio Espacial Euclid, da Agência Espacial Europeia (ESA).

Os cientistas da missão se reuniram em Darmstadt, na Alemanha, para apresentar ao mundo e debater as cinco primeiras capturas operacionais coloridas do cosmos distante feitas pelo revolucionário equipamento, em uma live que teve início às 10h15 (pelo horário de Brasília), nas plataformas digitais da agência.

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Sobre o telescópio Euclid:

  • Lançado em 1º de julho, o telescópio espacial Euclid foi projetado para investigar o chamado Universo escuro;
  • Ele está posicionado a cerca de 1,6 milhão de km da Terra, orbitando o chamado “Segundo Ponto de Lagrange” (L2) no sistema Terra-Sol (onde também opera o Telescópio James Webb);
  • De forma resumida, o propósito da espaçonave é analisar inúmeras galáxias que residem a cerca de 10 bilhões de anos-luz de distância, construindo o mais extenso mapa 3D do cosmos para explorar a composição e a evolução do Universo sombrio;
  • Sanados alguns problemas enfrentados na fase de comissionamento, as primeiras imagens científicas da missão acabam de ser reveladas. 

Estas são as imagens inaugurais da missão Euclid

Nunca vimos imagens astronômicas como estas antes, contendo tantos detalhes. Elas são ainda mais bonitas e nítidas do que poderíamos esperar, mostrando-nos muitas características inéditas em áreas bem conhecidas do Universo próximo.

René Laureijs, doutor em Astrofísica e cientista do projeto Euclid na ESA

1- Aglomerado de Perseu

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A primeira imagem divulgada pela ESA mostra o aglomerado de Perseu, um grupo de milhares de galáxias localizado a 240 milhões de anos-luz da Terra. As galáxias mais próximas aparecem como estruturas giratórias, enquanto centenas de milhares de galáxias de fundo são visíveis apenas como pontos de luz. Crédito: ESA/Euclid/Euclid Consortium/NASA, processamento de imagens por J.-C. Cuillandre (CEA Paris-Saclay), G. Anselmi; CC BY-SA 3.0 IGO

2- “Galáxia oculta”

Em seguida, foi apresentada esta imagem, que mostra a galáxia espiral IC 342, localizada a cerca de 11 milhões de anos-luz da Terra. Ela abrange a largura de uma lua cheia. Se não fosse obscurecida pelo gás e poeira da Via Láctea, seria um dos objetos mais brilhantes do céu. Crédito: ESA

3- Spray de estrelas na galáxia NGC 6822

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A terceira imagem apresentada é uma captura da galáxia NGC 6822, localizada a 1,6 milhão de anos-luz da Terra. Euclid conseguiu registrar essa visão de toda a galáxia e seus arredores em alta resolução em cerca de uma hora, o que não é possível com telescópios terrestres ou telescópios direcionados (como o James Webb, da NASA) que têm campos de visão mais estreitos. Crédito: ESA/Euclides/Euclid Consortium/NASA, processamento de imagens por J.-C. Cuillandre (CEA Paris-Saclay), G. Anselmi; CC BY-SA 3.0 IGO

4- Aglomerado globular NGC 6397

Depois, foi apresentada esta imagem, que mostra a visão de Euclid de um aglomerado globular – uma coleção de estrelas gravitacionais que não formam uma galáxia – chamado NGC 6397. Segundo a ESA, nenhum outro telescópio pode capturar um aglomerado globular inteiro em uma única observação e distinguir tantas estrelas dentro dele. Crédito: ESA/Euclides/Euclid Consortium/NASA, processamento de imagens por J.-C. Cuillandre (CEA Paris-Saclay), G. Anselmi; CC BY-SA 3.0 IGO

5- Nebulosa Cabeça de Cavalo

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A última imagem divulgada mostra a Nebulosa Cabeça de Cavalo, também conhecida como Barnard 33, que reside na constelação de Orion, a cerca de 1.375 anos-luz de distância. Esta é a região de formação de estrelas gigantes mais próxima da Terra. Crédito: ESA/Euclides/Euclid Consortium/NASA, processamento de imagens por J.-C. Cuillandre (CEA Paris-Saclay), G. Anselmi; CC BY-SA 3.0 IGO

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Lentes gravitacionais fracas

Euclid tem a missão de investigar como o Universo se expandiu e como a estrutura em grande escala está distribuída no espaço e no tempo, revelando mais sobre o papel da gravidade e a natureza da energia escura e da matéria escura. Para atingir esse objetivo, o telescópio está preparado para obter imagens ultranítidas de grandes faixas do céu em comprimentos de onda visíveis e infravermelhos.

Durante seu trabalho, o observatório espacial europeu fará uso de lentes gravitacionais fracas, um fenômeno cósmico que ocorre devido ao alinhamento casual de galáxias ou conglomerações de matéria, o que permite que galáxias em primeiro plano se comportem como uma lente de aumento gigante de objetos que estiverem atrás delas. 

Como a matéria visível compreende apenas 10% ou mais da massa total da maioria dos aglomerados de galáxias, os cientistas suspeitam que partículas invisíveis de matéria escura sejam responsáveis por grande parte desse efeito. 

Assim, as imagens de aglomerados de galáxias podem ajudar a compreender o comportamento e a natureza da matéria escura – no entanto, tais imagens precisam ser de uma altíssima nitidez, o que significa que veremos registros cada vez mais fascinantes obtidos por Euclid.

Segundo a ESA, um comunicado de imprensa contendo versões em alta resolução de todas as imagens será publicado neste link. O conjunto completo desses registros também ficará hospedado no arquivo de imagens espaciais da agência.

Observações científicas de Euclid serão divulgadas anualmente

De acordo com a ESA, os dados captados nessas imagens estão sendo analisados pelo Consórcio Euclid. Um artigo científico combinado será publicado no final do ano revelando detalhes sobre as observações iniciais.

As investigações científicas de rotina começam no início de 2024, e os dados que Euclid coletará ao longo de seis anos no espaço serão divulgados ao mundo em lançamentos anuais.