Astrônomos identificaram, a partir de dados do Telescópio Espacial James Webb, a galáxia espiral mais distante, cujas características se assemelham à nossa Via Láctea. Na época em que o universo tinha apenas dois bilhões de anos, a recém-descoberta galáxia espiral, denominada ceers-2112, exibia uma notável barra de estrelas e gás que cortava seu centro.

Similarmente, a Via Láctea, também uma galáxia espiral, apresenta uma barra comparável. Essa pesquisa é detalhada em um artigo publicado na quarta-feira, 8 de novembro, na revista Nature.

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O que você precisa saber:

  • Os cientistas especulam que a barra da Via Láctea gira de maneira cilíndrica, direcionando gás para o centro da galáxia e desencadeando períodos de formação estelar intensa.
  • Anteriormente, acreditava-se que tal estrutura galáctica marcasse o término dos anos formativos de uma galáxia, sendo esperado encontrá-la apenas em galáxias antigas que atingiram total maturidade — talvez aquelas que existiram na metade da evolução do universo.
  • No entanto, novas descobertas, derivadas de dados do Telescópio Espacial James Webb, desafiam essa suposição.
  • A galáxia espiral ceers-2112 revela que galáxias semelhantes à nossa já existiam há 11,7 bilhões de anos, “quando o universo tinha apenas 15 por cento de sua vida”, de acordo com Luca Costantin, astrofísico do Centro de Astrobiologia em Madrid e autor principal do estudo.
  • O James Webb possui uma capacidade seis vezes superior à do Hubble para coletar luz, permitindo uma visão mais detalhada de características distantes de galáxias.
  • A ceers-2112 é observada em um desvio para o vermelho de 3, quando o universo tinha 2.100 milhões de anos.
  • Isso implica que a luz da galáxia levou surpreendentes 11,7 bilhões de anos para atingir o James Webb.

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Esta descoberta é notável, visto que barras galácticas são observadas em cerca de dois terços de todas as galáxias espirais, enquanto se acreditava que tais barras se manifestaram aproximadamente 4 bilhões de anos após o nascimento do universo.

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Estudar as morfologias detalhadas de galáxias distantes é crucial para compreender sua história, abrindo portas para novas teorias sobre a formação e evolução desses vastos sistemas, afirma Cristina Cabello, coautora do estudo e pesquisadora do Instituto de Física de Partículas y del Cosmos em Madrid, via Space.com.

A presença da barra em ceers-2112 desafia os modelos teóricos atuais, que previam que as condições físicas iniciais do universo impediriam a formação de galáxias barradas em geral, conforme destaca Costantin. “As previsões teóricas de simulações cosmológicas realmente têm dificuldade em reproduzir tais sistemas naqueles períodos”, afirma ele. “Agora precisamos compreender qual ingrediente físico chave está ausente em nossos modelos — se algo está faltando.”

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Além disso, estudos como esse estão moldando nossa compreensão do papel que a matéria escura desempenhou no início do universo. Acredita-se que 85 por cento de toda a matéria no universo seja matéria escura, uma substância misteriosa que escapa às observações telescópicas, pois não interage com a luz. A matéria escura é considerada como tendo influenciado radicalmente a evolução galáctica e a formação estelar desde aproximadamente 380.000 anos após o Big Bang.

No entanto, os resultados do novo estudo indicam que a evolução da galáxia, pelo menos no caso de ceers-2112, foi dominada por matéria ordinária e não matéria escura, quando o universo tinha cerca de dois bilhões de anos. A morfologia da galáxia revela que a contribuição de matéria escura na barra galáctica de ceers-2112 é muito baixa, sendo dominada pela matéria normal, conclui o estudo.

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Esta descoberta confirma que a evolução desta galáxia foi dominada por bárions — a matéria ordinária da qual somos feitos — e não por matéria escura, apesar de sua sobreabundância, quando o universo tinha apenas 15 por cento de sua idade atual.

Jairo Abreu, coautor do estudo e pesquisador da Universidade de La Laguna

“O Telescópio Espacial James Webb, em apenas um ano de observações, está revolucionando nossa compreensão do início do universo”, destaca Cristina Costantin. “Nos próximos 5-10 anos, pretendo continuar explorando suas capacidades extraordinárias, investigando a estrutura detalhada das primeiras galáxias formadas no universo.”