Os últimos dias estão sendo marcados por recordes de calor em praticamente todo o Brasil. 2023 já pode ser considerado um dos anos mais quentes já registrados na história. O super el niño e o aquecimento global são apontados como as principais causa dessas mudanças de temperatura, mas situações como essa podem se tornar mais recorrentes. 

O Inmet colocou 15 estados em alerta vermelho para onda de calor nesta semana, indicando  um fenômeno meteorológico de “intensidade excepcional, com grande probabilidade de ocorrência de grandes danos e acidentes”.

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Em seu mais recente relatório, o órgão cita julho, agosto, setembro e outubro como meses com médias de temperatura acima da média histórica. “Dentre os quatro meses consecutivos mais quentes deste ano, setembro apresentou o maior desvio (diferença entre o valor registrado e a média histórica) desde 1961, com 1,6ºC acima da climatologia de 1991/2020 (média histórica)”, diz o Inmet.

O órgão ainda classifica 2023 como o mais quente registrado desde a década de 1960. “Em 2023, os meses citados foram marcados por calor extremo em grande parte do País e eventos de onda de calor, reflexo dos impactos do fenômeno El Niño (aquecimento acima da média das águas do Oceano Pacífico Equatorial), que tende a favorecer o aumento da temperatura em várias regiões do planeta. Desta forma, o cenário indica que o ano de 2023 será o mais quente desde a década 60”.

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Em entrevista ao Olhar Digital News, a meteorologista do Climatempo, Josélia Pegorim, avaliou a atual onda de calor que está atingindo o Brasil.

Está essa onda de calor, é a quarta que o país vai viver. Ela deve ser mais forte do que a que tivemos em setembro. A onda de calor de outubro, ela foi mais restrita e atingiu mais fortemente a região centro-oeste do país. Agora a gente tem uma situação de uma onda de calor mais extensa sobre o país, então abrangendo mais áreas e também mais forte

Josélia Pegorim

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Mas será que as mudanças serão mais recorrentes?

Uma reportagem da BBC com relatórios do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostra que o número de eventos climáticos extremos desde 1960 aumentaram no Brasil de forma considerável.

Vamos aos números: 

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  • Nos anos 90 as ondas de de calor não ultrapassam um limite de cerca de 1,5 °C em comparação com a média histórica;
  • Mas nos anos 2010 elas atingiram 3 °C a mais em alguns locais do Brasil;
  • Ainda houve uma uma queda na taxa média de chuvas, variando entre 10 e 40%, no Nordeste, em partes do Sudeste e no Brasil central;
  • No Sul do Brasil e em partes do Sudeste, houve um aumento de 10 a 30% nas chuvas.

“As mudanças climáticas estão impactando diversas regiões do mundo de maneiras distintas”, explica Lincoln Alves, pesquisador do Inpe e coordenador do estudo.

Prédios do centro de São Paulo
Prédios do centro de São Paulo (Imagem: Felipe Lange Borges/Flickr)

“Nossas análises revelam claramente que o Brasil já experimenta essas transformações, evidenciadas pelo aumento na frequência e na intensidade de eventos climáticos extremos em várias regiões desde 1961, que irão se agravar nas próximas décadas proporcionalmente ao aquecimento global”, finaliza.

O que causa esse aumento das temperaturas?

O Inmet deu destaque para o El Ninõ, mas segundo o estudo da Climate Central usado pela BBC, isso é apenas o começo. De acordo com o texto, o fenômeno está apenas começando “a aumentar as temperaturas e, com base nos padrões históricos, a maior parte do efeito do fenômeno será sentido no ano que vem. Com base nos registros, é altamente possível que os próximos 12 meses sejam ainda mais quentes”.

O El Niño então deve ter um pico em 2024, indicando um verão forte pela frente. Depois disso, o aquecimento do oceano deve amenizar por um tempo.

“É provável que nem todos os anos sejam tão intensos como 2023. Mas a tendência é que, independentemente do El Niño, continuemos a experimentar eventos extremos relacionados à temperatura ou às chuvas”, explica Karina Lima, doutoranda e pesquisadora de clima na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), à BBC.