Um estudo financiado pela NASA, publicado nesta quarta-feira (22) no periódico científico The FASEB Journal, diz que além dos problemas já conhecidos (como a perda óssea, o enfraquecimento dos músculos, a “síndrome neuro-ocular associada a voos espaciais” (SANS) e a interferência na qualidade do sono), as missões de longa duração ao espaço oferecem uma ameaça específica para os astronautas homens: o aumento do risco de disfunção erétil.

Vamos entender:

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  • Efeitos da radiação cósmica galáctica e microgravidade na fisiologia humana têm sido estudados desde o início da exploração espacial;
  • Apesar dos esforços para proteger a saúde dos astronautas na Estação Espacial Internacional (ISS), os impactos na função erétil nunca haviam sido estudados especificamente;
  • Uma equipe de cientistas financiados pela NASA se dedicou a investigar esse viés, descobrindo como evitar ou tratar essa consequência.

A radiação cósmica galáctica e a microgravidade foram identificadas como possíveis causas desse problema, com efeitos duradouros que podem persistir por décadas. Experimentos em ratos submetidos a condições simuladas de radiação espacial indicaram aumento do estresse oxidativo nos tecidos eréteis.

O astronauta da NASA Chris Ferguson tem seus olhos fotografados com ultrassom enquanto faz um exame oftalmológico. A saúde dos astronautas é sempre monitorada, mas nenhum estudo anterior se dedicou exclusivamente à parte sexual. Crédito: NASA

Como foi o estudo

Os efeitos da microgravidade foram simulados em um grupo de 43 ratos machos. Isso foi feito levantando as patas traseiras dos animais em um ângulo de 30 graus por quatro semanas. Um grupo controle de igual número de ratos foi mantido no solo. Embora a descarga de membros posteriores não seja uma simulação perfeita da microgravidade, pode fornecer informações importantes.

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Depois, os ratos de ambos os grupos foram divididos em três subgrupos e expostos a raios cósmicos galácticos (GCR) no simulador GCR no Laboratório de Radiação Espacial da NASA. GCRs são prótons e íons que se movem em alta velocidade. As cobaias foram expostas a níveis altos, baixos ou sem radiação.

Um ano depois, a equipe analisou sinais de disfunção erétil nos animais. Eles mediram mais estresse oxidativo e um estreitamento dos vasos sanguíneos (disfunção endotelial) nos tecidos ao redor do pênis nos ratos que tiveram exposição à radiação em comparação com aqueles que não tiveram – mesmo em doses baixas. A microgravidade também aumentou esses dois fatores de risco, mas em menor grau.

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Monitoramento da saúde sexual dos astronautas

Embora o estudo tenha suas limitações, os pesquisadores enfatizam que os resultados demonstram a necessidade de monitorar de perto a saúde sexual dos astronautas após futuras missões espaciais profundas. Eles sugerem que antioxidantes específicos podem neutralizar esses efeitos prejudiciais nos tecidos eréteis, abrindo possibilidades para tratamento.

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Justin La Favor, especialista em disfunção neurovascular da Universidade Estadual da Flórida, EUA, e principal autor do estudo, destacou a possibilidade de tratar a disfunção erétil por meio do direcionamento de vias biológicas afetadas pela radiação cósmica.  “Embora os impactos negativos da radiação cósmica galáctica tenham sido duradouros, as melhorias funcionais induzidas pelo direcionamento agudo das vias redox e óxido nítrico nos tecidos sugerem que a disfunção erétil pode ser tratável”.

Esse alerta surgiu em um momento de crescente interesse em missões espaciais profundas, como o Programa Artemis, da NASA, que visa enviar astronautas à Lua, em breve, e a Marte, mais para frente.