Nova análise desafia a idade da arte rupestre mais antiga do mundo

Um novo estudo contesta a alegação de que impressões de mãos e pés no Tibete são a arte rupestre mais antiga já encontrada
Ana Luiza Figueiredo27/11/2023 21h19
pré-histórica
As pegadas foram atribuídas a uma criança de sete anos, enquanto as impressões de mãos foram feitas por uma de 12 anos. Imagem: Zhang et al, Science Bulletin 2021
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As alegações de arqueólogos de 2021, sugerindo que as impressões de mãos e pés em uma parede de calcário nas altas terras do planalto tibetano eram a arte rupestre mais antiga do mundo, agora estão sob escrutínio. Uma análise recente desafia a narrativa, propondo que as impressões pré-históricas — consideradas anteriormente como feitas há cerca de 200.000 anos —, podem não ter mais do que 1.300 anos.

O que você precisa saber:

  • A história começou em 2002, quando um grupo de pesquisadores tropeçou em um painel de impressões perto das fontes termais de Qiusang em Tibet.
  • As impressões, acreditava-se terem sido deixadas intencionalmente por duas crianças hominídeas cerca de 200.000 anos atrás, foram inicialmente datadas de aproximadamente 20.000 anos atrás usando análise de termoluminescência no calcário, conhecido como travertino.
  • Em 2018, a mesma equipe encontrou um segundo conjunto de impressões no mesmo local, usando datação por urânio-tório desta vez.
  • Os resultados, publicados três anos depois, sugeriam uma idade entre 169.000 e 226.000 anos atrás no Pleistoceno Médio, tornando-as potencialmente a arte parietal mais antiga do planeta.

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Agora, um estudo recente, publicado no Journal of Archaeological Science, desafia essas descobertas em vários aspectos. O uso da datação por urânio-tório, considerado controverso, para analisar a arte rupestre tibetana é criticado por potencialmente fornecer estimativas de idade significativamente mais altas do que a datação por radiocarbono.

Os pesquisadores apontam que o painel de travertino, totalmente exposto aos elementos, poderia ter perdido urânio devido à água da chuva, distorcendo os resultados. A omissão de analisar núcleos mais profundos dentro da rocha é destacada como uma falha significativa.

Além disso, o estudo questiona a semelhança inexplicável entre os dois painéis, apesar de um supostamente ter 20 vezes a idade do outro. A suscetibilidade do travertino à erosão adiciona ao enigma.

O golpe mais significativo na narrativa inicial vem da recente descoberta de caracteres da escrita tibetana no mesmo painel de calcário, um sistema de escrita que se acredita ter sido introduzido por volta de 1.300 anos atrás. Isso implica que o painel deve ter cristalizado nos últimos 1.300 anos, desmentindo a noção de que as impressões são antigas.

Os autores do estudo desafiam ainda mais a alegação original, apontando a falta de evidências arqueológicas que sustentem a presença de seres humanos no planalto tibetano há 200.000 anos. Argumentam que as condições adversas na época teriam tornado a região inabitável. A presença suposta de crianças do Pleistoceno Médio vivendo no planalto durante o período glacial é considerada “extraordinária”.

Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.