No dia 17 de novembro, Sam Altman, considerado o “pai do ChatGPT”, foi demitido do cargo de CEO da OpenAI, empresa que ajudou a fundar. O que seguiu o desligamento foi uma das semanas mais turbulentas no mundo da tecnologia, com Altman sendo contratado pela Microsoft, uma revolta entre funcionários, a renúncia do conselho e o retorno do executivo ao comando da companhia.
Altman chegou a falar sobre o assunto em entrevista depois que voltou à liderança da OpenAI, inclusive citando que apoia a investigação independente sobre as razões da demissão, mas se negou a contar sobre por que aquilo teria acontecido em primeiro lugar.
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Agora, Helen Toner, acadêmica e estudiosa da área de inteligência artificial (IA) que integrava o conselho que demitiu Altman, revelou o que esteve por trás do caso em entrevista ao The Wall Street Journal.
Por que Sam Altman foi demitido da OpenAI?
Toner era um dos quatro membros que votou a favor da demissão do CEO da OpenAI. Com o caso, ela virou símbolo do embate entre o progresso da IA e os que defendem a segurança acima da tecnologia.
No entanto, na entrevista, ela explicou que esse não foi o motivo que a levou a votar a favor do desligamento de Altman. Na verdade, ela o fez por falta de confiança.
Segundo Toner, demiti-lo era consistente com o dever do conselho da desenvolvedora de garantir que a IA geral fosse construída de forma responsável. Mesmo durante a revolta dos funcionários, que ameaçaram deixar a OpenAI caso o então ex-CEO não retornasse, ela manteve esse posicionamento.
Nosso objetivo ao demitir Sam era fortalecer a OpenAI e torná-la mais capaz de cumprir sua missão.
Helen Toner, em entrevista ao The Wall Street Journal
Helen Toner, Sam Altman e a IA
- Helen Toner, de 31 anos, defendia a segurança da IA acima do progresso. Sam Altman, do lado oposto, é conhecido por estimular o desenvolvimento da tecnologia;
- Em outubro, Toner, na época diretora de estratégia de um think thank em Washington, co-escreveu artigo sobre a segurança da IA, acendendo alerta em relação às desenvolvedoras do setor;
- De acordo com o jornal estadunidense, isso levou Altman a confrontar a executiva, dizendo que ela havia prejudicado a OpenAI ao criticar a empresa publicamente;
- Então, segundo fontes que não foram identificadas ao WSJ, ele teria agido pelas costas dela e abordado outros membros do conselho tentando convencê-los a demiti-la. Eles descobriram o que havia acontecido conversando entre si, o que os deixou desconfiados acerca das práticas do CEO;
- Outras fontes familiarizadas disseram que diretores da OpenAI também estavam preocupados com a honestidade de Altman, devido a outros episódios semelhantes.

IA geral e o propósito da OpenAI
Ao final, tudo isso levou à demissão de Altman, com a empresa alegando que ele não tinha sido “consistentemente sincero” em suas discussões com os diretores. Pouco antes da decisão, o CEO e Toner também entraram em conflito. Na entrevista, ela se recusou a dar detalhes sobre o que teria acontecido na ocasião.
No entanto, o conselho não estava ciente que os funcionários do setor administrativo ameaçariam abandonar a empresa caso Altman não voltasse. Além disso, havia conflitos jurídicos envolvidos. Ao jornal, Toner disse que um advogado chegou a comentar que a demissão levaria ao colapso da empresa e ela responde que isso “seria consistente com a missão”, assustando alguns executivos. Ela justificou que acreditou se tratar de tática de intimidação.
Vale lembrar que a OpenAI, apesar de ser empresa comercial, é administrada por conselho sem fins lucrativos e que a missão da empresa é criar IA geral que beneficie a humanidade em tudo. Ou seja, ao demitir Altman, o conselho esperava fortalecer o desenvolvimento da IA geral de forma segura e confiável.

Por que a renúncia do conselho?
Ao final do caso, o conselho, incluindo Toner, renunciou. Além dos reveses pelo apoio da equipe a Altman, a executiva contou na entrevista que poderia haver entraves jurídicos.
Um advogado chegou a sugerir que, caso eles não renunciassem e a empresa ruísse, eles estariam violando deveres fiduciários. Isso tem a ver com garantir que os agentes encarregados de gerir o dinheiro (no caso, um posto equivalente ao conselho da OpenAI) o administrasse em prol da missão da companhia, não de interesse próprio.
Agora, a OpenAI está anunciando novos nomes que integrarão o conselho. Ainda não há nenhuma mulher, mas a expectativa é que novos executivos continuem a ser revelados conforme a empresa se recupera do caso.