Vivendo em um período pós-pandêmico, 2023 foi um ano bem importante para o mercado cinematográfico, já que as salas de cinema que ficaram fechadas por dois anos foram finalmente totalmente abertas, aquecendo a retomada da indústria. Para aqueles que duvidaram se o setor resistiria à pandemia da Covid, uma boa notícia: o cinema está ‘vivão e vivendo’. 

Apenas no primeiro semestre do ano, por exemplo, 56, 6 milhões de ingressos foram vendidos, um aumento de 25% em relação ao mesmo período do ano passado, conforme dados da Ancine. Voltando a “respirar”, a bilheteria nacional já segue caminhando (mesmo que lentamente) para os resultados recordes de 2019, ano antes da crise sanitária.  

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Diante desse cenário mais positivo que o registrado nos últimos anos, a pergunta é, quais filmes foram os responsáveis por essa melhora? E dentre eles, qual foi o maior de 2023? 

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Pensando nisso, e baseado nos dados mundiais da Box Office Mojo, o Olhar Digital elaborou uma lista com as maiores bilheterias de 2023 – mas é claro que o primeiro lugar não gera nenhuma surpresa, sendo dono da medalha de ouro a produção da boneca mais famosa do mundo: Barbie

Cinema: maiores bilheterias de 2023 

Cena do filme Barbie
Margot Robbie em Barbie (Imagem: Divulgação/Warner Bros.)

1° Barbie 

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Lançado em julho deste ano, Barbie, de Greta Gerwig, é um live-action dos dois bonecos mais famosos do mundo: Barbie e Ken. Interpretados por Margot Robbie e Ryan Gosling, o filme mostra uma jornada do casal além dos muros da Barbielândia, terra natal da dupla. 

Barbie demonstrou que teria força nas bilheterias ainda nas gravações, quando atiçava a curiosidade do público sobre quem viveria o “sonho Barbie”. Em tom de comédia, o filme fez críticas sociais pertinentes, principalmente no que diz respeito ao machismo e a pressão por perfeição, cenário piorado com as redes sociais. Sutilmente, o longa também fala sobre amadurecimento, saúde mental e todos os aspectos da modernidade.  

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Embora seja, sim, um filme totalmente comercial, Barbie não é uma produção infantil a lá ‘princesa da Disney’, e quem não gostou pode não ter entendido a essência e objetivo do longa, que faz malabarismos com humor e feminismo, o que justifica parte de todo seu sucesso. 

Vamos em pontos: 

  • Já em sua pré-venda, Barbie bateu recordes, alcançando a maior venda de tickets antecipados no Brasil – o filme é agora a produção com a maior venda da história da Warner Bros.; 
  • Com um marketing impecável, o longa ainda impulsionou um hype cor rosa em todo o mundo, de roupas e comidas a redes sociais e decoração, tudo e todos se aproveitaram do boom de Barbie – a ponto de comerciantes de tintas rosa sofrerem com escassez; 
  • Nos cinemas, consolidando seu sucesso e fazendo ainda mais história, o longa faturou mais de US$ 150 milhões já na primeira semana. Em uma estreia simultânea ao lado de Oppenheimer, os filmes conquistaram o título de maiores do ano em lançamento, estabelecendo pela primeira vez uma liderança e vice-liderança com um faturamento de mais de US$ 50 milhões; 
  • Colecionando cada vez mais recordes, Barbie também se tornou o maior sucesso de bilheteria global de 2023, ultrapassando Super Mario Bros. O Filme. Um mês após sua estreia, o longa já havia alcançado os US$ 1,35 bilhões mundialmente; 
  • Com todo esse sucesso, claro que Barbie é um forte candidato ao Grammy 2024. O filme já recebeu 11 indicações ao prêmio. Ele também é líder em indicações no Globo de Ouro 2024 e deve estar na lista do Oscar, que será anunciada em janeiro de 2024;  
  • Vale lembrar que uma das maiores disputas da história do cinema encunhou até um novo termo: Barbenheirmer. A expressão servirá até de título para um novo filme de comédia e terror que deverá satirizar o enredo das duas obras. Dirigido por Charles Band, o projeto busca apenas financiamento para começar as filmagens; 
  • Atualmente, Barbie lidera as bilheterias mundiais com US$ 1,44 bilhões – o filme está em primeiro tanto nas bilheterias domésticas (EUA) quanto nas internacionais. 

De acordo com a AMC Theatres, maior rede de cinemas dos EUA, Barbie e Oppenheimer foram responsáveis por um renascimento significativo dos cinemas pós-pandemia. De acordo com Flávia Guerra, especialista em cinema do podcast Plano Geral e colunista do Splash UOL, em entrevista ao Olhar Digital, no caso de Barbie, o filme foi o pacote perfeito, desde o marketing a qualidade da trama, um caso a ser estuado. 

Barbie foi um fenômeno muito particular e bem-vindo de combinação entre marketing, cinema comercial bem contado e a assinatura de Greta Gerwig. O marketing foi muito bem construído, é um case para ser estudado. Sem contar que o filme é ótimo, é divertido, é feminista. Para o público jovem ele traz questões sobre o feminismo e o mundo invertido que viveríamos se o machismo não fosse tão predominante. Ele é muito interessante e revelador, é um filme que traz muita informação. E tudo em um pacote divertido de comédia, quase um musical. É uma combinação perfeita, do timing, da personagem. É uma produção transmídia. 

Flávia Guerra, especialista em cinema, apresentadora do podcast Plano Geral e colunista do Splash UOL.

Nos EUA, no entanto, o ano vai se encerrando com bons números não apenas pelos fãs da boneca ou curiosidade pela história do físico J. Robert Oppenheimer: The Eras Tour, de Taylor Swift, também contribuiu para um recorde de receita de bilheteria. 

  • Com o lançamento dos três filmes este ano, a AMC comunicou que teve os melhores ganhos trimestrais em 103 anos de história. 

Vale lembrar que Barbie desembarcou oficialmente na HBO Max este mês, dia 15. Com isso, mais recordes e títulos ainda são esperados para a já brilhante trajetória do longa. 

Filme tem cena pós-crédito
Imagem: Divulgação

2° Super Mario Bros. O Filme 

Representando o boom das adaptações de jogos de videogames para o cinema, Super Mario Bros. O Filme impressionou ao se tornar o primeiro filme de 2023 a ultrapassar a marca de US$ 1 bilhão na bilheteria global – não fosse Barbie, ele estaria em primeiro lugar no ranking mundial de maiores bilheterias do ano. 

Lançado em abril, o longa de animação também carrega o título de produção mais bem-sucedida com base em um jogo. Produzido pela Universal, Illumination e Nintendo, Super Mario Bros. O Filme passou décadas em desenvolvimento – parte do atraso ocorreu devido à cautela da Nintendo em retornar ao Reino dos Cogumelos nas telonas após o fracasso da adaptação live-action de 1993, considerada uma das piores produções já feitas.  

Dirigido por Aaron Horvath e Michael Jelenic, o filme teve um orçamento de US$ 100 milhões, o que é considerado econômico para uma animação. Considerado agora o novo blockbuster, Super Mario Bros. O Filme também é a terceira maior animação da história, ficando atrás apenas do remake de O Rei Leão (US$ 1,6 bilhão) e Frozen 2 (US$ 1,4 bilhão).  

Atualmente, o filme acumula US$ 1,3 bilhões na bilheteria mundial, sendo o segundo no ranking global de 2023. 

Cena com J. Robert Oppenheimer em filme homônimo, dirigido por Christopher Nolan
(Imagem: Reprodução/YouTube)

3° Oppenheimer  

Em terceiro lugar no ranking mundial das bilheterias de 2023 está a produção que resistiu firme ao lado do lançamento de Barbie, Oppenheimer. Perto de faturar US$ 1 bilhão, a cinebiografia de J. Robert Oppenheimer desbancou Guardiões da Galáxia Vol. 3 e ocupa, com seus US$ 950 milhões, a terceira posição da lista. 

Colecionando recordes, Oppenheimer é dono da segunda maior bilheteria entre filmes para maiores de idade, perdendo apenas para Coringa (2019), além de ser o terceiro filme mais lucrativo de Christopher Nolan nos EUA (salvo os filmes do Batman).  A produção também é a maior cinebiografia de todos os tempos, superando Bohemian Rhapsody, último recordista da categoria. 

Estrelado por Cillian Murphy, Emily Blunt, Robert Downey Jr., Matt Damon e Florence Pugh, Oppenheimer acompanha a trajetória do cientista que liderou o desenvolvimento da primeira bomba atômica, nos EUA, durante a Segunda Guerra Mundial. 

guardiões da galáxia
Imagem: Marvel Studios/Divulgação

4° Guardiões da Galáxia Vol. 3 

Garantindo o espaço da Marvel (e Disney), Guardiões da Galáxia Vol. 3 é o quarto maior filme em bilheteria de 2023. Superando as expectativas já na estreia, a sequência concluiu a trilogia da franquia com os atores originais.  

Considerando apenas a bilheteria doméstica (EUA), o longa também ficou em quarto na maior estreia do ano, com seus S$114 milhões. Ele fica atrás de Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, que conquistou US$ 381 milhões apenas nos EUA. 

Dirigido por ninguém menos que James Wan, a sequência também foi a única a conquistar um título um tanto quanto importante – e que geralmente passa longe das produções de Hollywood. Por realizar uma emocionante análise crítica sobre o uso de animais em testes, o filme recebeu o prêmio da PETA por ativismo animal. 

Em termos de venda de ingressos global, os dois primeiros filmes dos Guardiões da Galáxia também foram promissores. O original, de 2014, encerrou sua temporada nos cinemas com US$773 milhões mundialmente, enquanto a sequência atingiu a marca de US$863 milhões em bilheteria global. 

Atualmente, Guardiões da Galáxia Vol. 3 acumula US$ 845 milhões em bilheteria mundial. 

Poster de Velozes e Furiosos 10
(Imagem: Divulgação/Universal Pictures)

5° Velozes e Furiosos 10 

Também encerrando uma saga de uma década, Velozes e Furiosos 10 teve uma trajetória interessante. Embora tenha conquistado o quinto lugar no ranking dos maiores filmes do ano, a sequência é dona da menor bilheteria de toda a franquia – um indicativo de que já estava na hora de acabar, não? 

Dirigida por Louis Leterrier, o filme ultrapassou os US$ 300 milhões já no primeiro final de semana de lançamento, e até tirou Guardiões da Galáxia 3 do topo, mas foi perdendo força com o passar dos dias. 

Os números podem ser decepcionantes se comparados a produção anterior, Velozes e Furiosos 9. A sequência de 2021 foi o retorno da saga após a pandemia e teve abertura ainda mais lenta – Velozes 9 acumulou US$ 726 milhões em bilheteria global, Velozes 10 tem o quinto lugar do ano com US$ 709 milhões. Vale pontuar também que o filme mais recente foi o mais caro da franquia, custando US$ 340 milhões. 

A sequência que mais arrecadou na franquia foi Velozes e Furiosos 7, de 2015, que marcou a despedida da estrela Paul Walker. O longa ganhou US$ 1,5 bilhão globalmente.   

No top 10 do ranking das maiores bilheterias de 2023 ainda estão listados: 

  1. Homem-Aranha: Através do Aranhaverso;  
  2. A Pequena Sereia;  
  3. Missão Impossível 7;  
  4. Elementos;  
  5. Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania

Cabe destacar que, apesar dos filmes listados serem os de maior bilheteria, houve muitas outras produções que também chamaram atenção, principalmente da crítica. Para Guerra, por exemplo, sem considerar números, o melhor filme do ano foi Assassinos da Lua das Flores, do icônico Martin Scorsese.  

O longa, estrelado por ninguém menos que Leonardo DiCaprio e Robert De Niro, retrata uma série de crimes brutais contra membros da tribo indígena Osage na década de 1920, em Oklahoma, logo após a descoberta de petróleo em suas terras. Um dos favoritos ao Oscar 2024, o filme já arrecadou mais de US$ 150 milhões.  

Saindo da glamourização de Hollywood, a profissional citou também Folhas de Outono, de Aki Kaurismäki. Comédia dramática finlandesa que estreou em 30 de novembro e recebeu ótimas críticas mundialmente. Entre outros como Anatomia de Uma Queda e, no circuito nacional, Pedágio e Retratos Fantasmas (este último sendo o representante do Brasil no Oscar 2024).

Entre esses filmes grandiosos, oscarizados, eu fico com o filme do Scorsese. Mas o que eu mais gostei este ano foi Folhas de Outono, do Aki Kaurismäki. Ele está em cartaz no Brasil e ganhou um prêmio importante no Festival de Cannes, mas passou um pouco despercebido.  

Imagem: shutterstok/Pressmaster

As decepções de 2023 

Apesar do declínio de Velozes e Furiosos, seus ganhos ainda tiveram força suficiente para o colocar no top cinco dos maiores filmes de 2023, cenário bem diferente de As Marvels, que ocupa o 23° lugar no ranking mundial e é considerada a pior estreia da Marvel em anos. 

  • As Marvels 

A continuação de Capitã Marvel (2019) registrou a maior queda de bilheteria da história do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), indo parar em terceiro lugar na bilheteria dos EUA apenas uma semana após sua estreia, que ocorreu no início de novembro. Em números, o declínio representa uma queda de quase 80% de uma semana para a outra, a maior já registrada — o recorde anterior era de Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania (2023), com 69%. 

Lançado há mais de um mês, na estreia já foi possível observar que a sequência não teria força – arrecadando menos de US$ 47 milhões, o lançamento foi o pior da Marvel em anos. Atualmente, o longa acumula US$ 197 milhões em bilheteria mundial, um número relativamente baixo se comparado a outras produções do estúdio – o valor ainda não paga nem o investimento no filme, que foi de US$ 200 milhões. 

Antes de As Marvels, as piores bilheterias da Marvel eram O incrível Hulk, de 2008, com U$S 55,4 milhões, e Homem-Formiga, de 2015, com U$S 57,2 milhões. 

As Marvels está em 23° no ranking mundial das maiores bilheterias do ano. 

  • Indiana Jones 5 e Missão: Impossível 7 

Outras duas decepções desse ano nos cinemas foram Indiana Jones e o Chamado do Destino, da Disney, e Missão: Impossível 7 (Acerto de Contas – Parte 1). Embora a sequência com Tom Cruise esteja em oitavo lugar na classificação mundial, a estreia foi bem abaixo do que a franquia costumava oferecer. 

Segundo fontes especialistas à Variety, o motivo para a decepção nas bilheterias de ambas as franquias, consagradas nos cinemas, pode ter sido o alto orçamento. O valor gasto nos filmes foi um dos mais altos do cinema, com cada um dos longas custando cerca de US$ 300 milhões, além dos cerca de US$ 100 milhões em marketing. 

Para fins de comparação, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, de 2008, arrecadou US$ 790 milhões (o filme mais recente somou apenas US$ 383 milhões), e Missão: Impossível – Efeito Fallout, de 2018, US$ 791 milhões (o atual arrecadou US$ 567 milhões). 

Importante acrescentar que uma bilheteria abaixo do esperado não significa um filme ruim. Missão: Impossível 7 recebeu críticas positivas, tendo 96% de aprovação no Rotten Tomatoes e uma nota “A” no CinemaScore.

Indiana Jones 5 está em 14° lugar e Missão: Impossível 7 em oitavo no ranking mundial das maiores bilheterias do ano. 

  • Besouro azul, Shazam e The Flash 

Se a Marvel tem pouco para comemorar com As Marvels, a DC tem menos ainda com Besouro Azul. Apesar do apelo nacional no Brasil devido a presença de Bruna Marquezine, o filme de herói é só mais um do pacote do estúdio que decepcionou nas bilheterias este ano. Com investimento de mais de US$ 100 milhões, o filme teve uma estreia abaixo do esperado e arrecadou, até agora, apenas US$ 129 milhões. Ele está em 35° lugar no ranking mundial. 

O resultado se junta aos péssimos números de Shazam! Fúria dos Deuses e The Flash, longas também lançados este ano e que não performaram muito bem. Os US$ 132,19 milhões mundiais de Shazam pagaram apenas o investimento de US$ 125 milhões mais verba de marketing. O filme está em 34° na classificação das maiores bilheterias de 2023. Já o filme do homem mais rápido do mundo, curiosamente caminha lentamente em 17° – ele arrecadou US$ 270 milhões com um investimento de US$ 220 milhões. 

Besouro Azul
Imagem: © 2023 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.

Segundo Guerra, os números têm a ver com a crise do próprio formato do setor. Primeiro ponto, e clichê, é que “as pessoas precisam voltar a ir ao cinema com a mesma frequência que iam antes da pandemia“. Embora soe estranho falar em “crise de setor” após o boom de Barbenheimer, a especialista explicou que o fenômeno duplo (Barbie e Oppenheimer) é “uma exceção, e não a regra do mercado”. 

Oppenheimer pegou essa esteira e também trouxe um tema polêmico por um diretor cultuado que consegue alcançar cinéfilos e um público mais amplo. Fora os fãs de Cillian Murphy, que acham que ele é somente o ator de Pink Blinders, mas que também prestaram atenção no filme. No caso dos outros filmes, eu acho que há um certo cansaço, sim, no gênero de filme de herói. Deu uma esgotada, tem muitos filmes saindo em sequência. O Besouro Azul sofreu e aí entra os lançamentos de blockbuster, que sofreram com a greve dos atores – eles são essenciais para lançarem os filmes e fazer toda a campanha. O mesmo vale para os filmes da Disney, isso prejudicou todo o mercado. 

Flávia Guerra.

Outro ponto importante levantado pela especialista foi a crise estabelecida no cinema brasileiro, bem mais grave que a dos EUA. Embora os dados de público e renda de 2023 já superem os de 2021, e caminhem para bater os de 2022, eles ainda seguem pouco atrás dos registrados nos anos pré-covid, segundo a Ancine. 

  • Em 2019, as salas do país receberam 173 milhões de espectadores e arrecadaram 2,75 bilhões de reais; 
  • Em 2023 (5 de janeiro a 6 de dezembro), 105 milhões foram ao cinema, com arrecadação de 2,07 bilhão de reais; 
  • Da participação do público por nacionalidade da obra, apenas 2,3% assistiram filmes brasileiros. 

A crise do filme brasileiro é muito mais séria e a gente precisa falar disso. O cinema nacional está com muita dificuldade de chegar no grande público por uma questão de distribuição, marketing, lançamento e presença em telas. 

E por falar em Disney… 

Apesar de tantos outros filmes que não viram seus números saltarem nas bilheterias, o maior baque do ano talvez tenha sido para a Disney, considerando a sua importância e espaço no mercado cinematográfico das animações.  

Embora A Pequena Sereia esteja entre os Top 10 das maiores bilheterias globais deste ano, o estúdio teve fracassos significativos, como o caso da animação Wish: O Poder dos Desejos e a própria adaptação de A Pequena Sereia – sem mencionar que Indiana Jones 5 e As Marvels também são do estúdio. 

O maior destaque da gigante das animações neste ano foi Guardiões 3, através da Marvel. 

  • A Disney vem somando lançamentos que não decolaram nos cinemas: Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, Indiana Jones e o Chamado do Destino, Mansão Mal-Assombrada e o recente As Marvels não tiveram as bilheterias esperadas, ficando abaixo das projeções de estreia. Wish: o Poder dos Desejos é mais um a integrar a lista; 
  • A Pequena Sereia e Elementos, que quebrou recordes de bilheterias, talvez tenham sido as únicas empreitadas da empresa no ano que não desapontaram tanto, mas ainda assim os resultados de ambas as produções foram incomuns para a companhia que, em anos anteriores, viu produções live-action ultrapassarem a marca de US$ 1 bilhão – foi o caso de O Rei Leão e A Bela e a Fera
  • Entre todos os lançamentos da Disney no ano, o único sucesso absoluto foi Guardiões da Galáxia Vol. 3. Porém, apesar do número grandioso, as projeções para a estreia novamente eram maiores, com esperança de chegarem a pelo menos US$ 1 bilhão (atualmente tem US$ 845 milhões); 
  • Essa é a primeira vez desde 2014 (sem contar 2020 e 2021, com a pandemia) que a empresa não alcança a marca bilionária. 

Apenas para fins de comparação, em 2019, a Disney emplacou sete lançamentos ultrapassando US$ 1 bilhão, com destaque para Vingadores: Ultimato. O furor com as produções dos estúdios do Mickey deu a entender que qualquer obra com o selo mais famoso dos cinemas faria sucesso, mas não tem sido bem assim. 

Ao divulgar um balanço financeiro trimestral em agosto deste ano, a companhia revelou ainda um prejuízo de US$ 460 milhões entre abril e junho. Segundo especialistas, a produtora vem sofrendo com uma “crise de criatividade”, que também tem afetado seus conteúdos no streaming. 

Vale pontuar que: 

  • As decepções de bilheteria da Disney (e consequentemente sua subsidiária Marvel) não são baseadas apenas na rentabilidade, mas na aceitação do público, comparação com produções anteriores e, principalmente, o investimento realizado. O estúdio plaina hoje em um patamar bem alto, com médias difíceis de superar, ainda mais em um cenário pós-pandêmico, algo incomum para todos no mercado; 
  • Bom destacar que apesar de alguns sucessos, quando falamos em “decepções para a Disney” estamos nos referindo a um investimento maior que seu retorno ou metas não alcançadas; 
  • Wish, por exemplo, custou US$ 200 milhões ao estúdio, mas até agora faturou pouco mais de US$ 80 milhões – o filme ainda será lançado no Brasil, em 4 de janeiro, o que pode dar uma alavancada nos números
  • No mais, cabe destacar ainda que este ano tivemos uma das maiores greves de atores e roteiristas de Hollywood desde 1960. A paralisação, que terminou em novembro, afetou não apenas o desenvolvimento de diversos filmes, como a divulgação e cronograma. Missão: Impossível 8 – Parte Dois, por exemplo, foi oficialmente adiado para 2025, entre tantas outras produções da Marvel (Deadpool 3 será o único filme do estúdio em 2024). 

Na escalada do sucesso – médio 

Jogos Vorazes
Imagem: Divulgação/© 2023 Lionsgate

Na classe dos recém-lançados estão: 

  • Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes muito elogiado pela crítica, o filme estreou como um dos mais assistidos nos EUA e Canadá, arrecadando US$ 44 milhões na estreia, que ocorreu em novembro. Globalmente, em menos de um mês nas telonas a sequência já soma US$ 282 milhões e possui 91% de aprovação no Rotten Tomatoes – isso após quase oito anos de hiato, algo difícil de alcançar ainda mais sendo uma sequência; 

Vale observar, claro, que a franquia Jogos Vorazes já viu dias melhores. Jogos Vorazes – Em Chamas (2013), por exemplo, arrecadou impressionantes US$ 865 milhões, o maior sucesso da franquia. 

  • Napoleão – estrelado por ninguém menos que Joaquin Phoenix, a produção superou expectativas e segue no páreo como um dos sucessos médios de 2023. No Brasil, o longa baseado na história do imperador da França lidera, somando mundialmente mais de US$ 170 milhões; 
  • Wonka – prequel de A Fantástica Fábrica de Chocolate, o filme traz Timothée Chalamet na pele de Willy Wonka, personagem vivido por Gene Wilder em 1971 e Johnny Depp no remake de 2005. Em seu primeiro fim de semana de estreia nos EUA, o longa arrecadou US$ 39 milhões. Globalmente, a produção já possui US$ 151 milhões – um sucesso visto seu orçamento de US$ 125 milhões. 

Embora os três filmes estejam lá embaixo na classificação mundial, tiveram boas estreias nas bilheterias. Importante destacar também o protagonismo de Assassinos da Lua das Flores, que também conquistou o público médio com uma bilheteria de mais de US$ 150 milhões.  

No que diz respeito a essas produções, a especialista em cinema pontuou que, apesar dos números satisfatórios, os filmes não serão fenômenos, alcançando apenas um público médio – mas que é tão importante quanto o grande público. 

Não serão fenômenos, mas o público médio americano já é 10 vezes maior que o melhor filme brasileiro de bilheteria, e tem que ter o filme de público médio para a saúde do circuito. Não dá para ter só fenômeno, porque isso não existe, é uma utopia, mas também não pode ter um fenômeno e o resto todo ter um público ruim. Os filmes de bilheteria média não são ruins de resultado, é bom que seja assim porque mantém o circuito andando. 

Flávia Guerra, do podcast Plano Geral e colunista do Splash UOL.

Importante destacar que os filmes mencionados – salvo Assassino da Lua das Flores, que já está nas plataformas digitais – são os que estão em alta nas bilheterias nacionais e internacionais nessas últimas semanas do ano. Tudo pode (e irá) mudar com a chegada de outras grandes estreias do mês, como Aquaman 2

E os filmes de terror? 

O exorcista: O Devoto
Imaggem: Foto por Universal Pictures – © Universal Studios. All Rights Reserved.

Lembrando dos fãs do gênero, separamos também os maiores filmes de terror de 2023, já que tivemos bastante lançamentos. Nessa classe, uma adaptação curiosa foi eleita o terror do ano, o que deve ter surpreendido (ou não) a geração Exorcista e Jogos Mortais.  

  1. Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo sem Fim é o famoso não prometeu nada, mas entregou tudo, ao menos em bilheteria. Embora fraca para alguns, o efeito novidade com a adaptação da série de videogame de mesmo nome foi eleita o maior terror do ano e está em 15° no ranking das maiores bilheterias de 2023 — com seus US$ 288 milhões, o filme ultrapassou A Freira 2M3gan Pânico VI, segundo dados do Box Office Mojo;  
  1. Em 18° vem A Freira 2. A esperada sequência foi envolta a expectativa dos fãs e, embora tenha decepcionado por trazer mais do mesmo, arrecadou US$ 268 milhões mundialmente. O derivado da franquia Invocação do Mal liderou bilheterias nos EUA e no Brasil, mas não conseguiu superar A Freira (2018), seu maior sucesso; 
  1. Um case de sucesso na divisão dos reboots, Pânico 6 quebrou recordes de bilheteria no Brasil e no mundo. A estreia registrou uma nova marca para a franquia, tomando o posto de maior abertura e maior circuito de um filme de terror no país. Apesar dos títulos, no entanto, o longa segue em 30° com US$ 168 milhões mundialmente; 
  1. Assim como Pânico 6, a sequência A Morte do Demônio: A Ascensão também trouxe recordes para a franquia: o filme teve a maior bilheteria da franquia Evil Dead (versão em inglês). Em 32° lugar, o filme arrecadou US$ 146 milhões; 
  1. Aqui entra, possivelmente, uma das maiores decepções do gênero no ano para os fãs (ao menos para mim). Exorcista: O Devoto, reboot do maior ícone do terror, além de não ter performado tão bem quanto gostaria, ainda recebeu duras críticas (Confira aqui). Contudo, dado a seu baixo orçamento (US$ 30 milhões), seus US$ 135 milhões foram bem-vindos. A franquia deve lançar ainda mais dois filmes, parte da nova trilogia. 
  1. Mais um que, com baixo orçamento, tem muito para comemorar é Jogos Mortais X. A sequência custou apenas US$ 13 milhões e conquistou uma bilheteria mundial de US$ 106 milhões. Dirigido pelo veterano Kevin Greutert, o filme dividiu opiniões, conquistando 80% de aprovação no Rotten Tomatoes. 

Vale observar que, tirando Five Nights at Freddy’s, todos os outros títulos foram sequências de grandes franquias. Há uma tendência no declínio de continuações, principalmente de terror. Muitos, como no caso de Exorcista, ainda pecam em tentar repetir o sucesso de produções originais – é praticamente a receita para o fracasso, sem mencionar o esgotamento da trama (caso de A Freira 2 e A Órfã 2, que não apresentaram muitas novidades nas sequências). 

Para 2024, os fãs do gênero também devem esperar por mais sequências como Pânico 7 e o reboot de Alien, de Ridley Scott, lançado em 1979. Veja aqui mais lançamentos do próximo ano. 

Maior bilheteria de todos os tempos 

Não dá para falar das maiores bilheterias do ano sem citar a maior de todos os tempos, né? Aproveitando o tema, elaboramos também uma lista com os 10 filmes mais lucrativos da história – Barbie e Oppenheimer devem integrar esse ranking em algum momento. 

  • Em primeiro lugar, e com uma grande margem de qualquer outro filme, está Avatar (2009). A produção arrecadou impressionantes US$ 4.03 bilhões;
  • O mais recente filme da franquia, Avatar: O Caminho da Água (2022), também está no ranking, em terceiro lugar com seus US$ 2.320 bilhões;
  • Completando o pódio temos, claro, Vingadores: Ultimato (2019). A produção protagoniza a lista das maiores bilheterias de todos os tempos em segundo lugar, com US$ 2,79 bilhões. Confira aqui o ranking completo!