Por meio de uma técnica molecular, um estudo conduzido por cientistas do Instituto Butantan encontrou uma forte candidata vacinal contra a esquistossomose, também conhecida como barriga d’água.
Publicada na revista NPJ Vaccines, a pesquisa é uma continuação de uma investigação que buscou entender como a espécie de macaco chamada Macaca mulatta desenvolveu uma forte resposta imune contra a doença. Ambos os estudos receberam apoio da FAPESP.
Detalhes sobre o estudo:
- Os cientistas estudaram a resposta imune de dez macacos que desenvolveram resistência à esquistossomose.
- Utilizando a técnica molecular phage display, codificaram 12 mil proteínas do Schistosoma mansoni, verme causador da doença.
- Isso permitiu criar uma “biblioteca” de peptídeos codificados que serviram de base para uma triagem dos anticorpos dos macacos.
- A ideia era isolar e identificar qual era o alvo da resposta imune dos macacos.
- Com ferramentas de bioinformática, conseguiram encontrar entre os peptídeos potenciais candidatos à vacina.
Teste vacinal em camundongos:
A partir dos resultados, a pesquisa avançou para um ensaio de proteção vacinal com camundongos. Os animais foram imunizados com um conjunto selecionado de peptídeos exibidos em fagos – vírus utilizados na técnica phage display – enriquecidos no PhIP-Seq.
O experimento com a vacina resultou em uma redução na carga de vermes que infectaram os camundongos. Segundo Sergio Verjovski Almeida, um dos autores do estudo, o imunizante demonstrou que é possível criar um meio de proteção contra a esquistossomose.
Há quem defenda que não dá para fazer vacina contra a esquistossomose. No entanto, nossas descobertas melhoram a compreensão das respostas imunes e abrem perspectivas promissoras para o desenvolvimento de uma vacina eficaz.
Sergio Verjovski Almeida para a Agência FAPESP
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Como ocorre a contaminação da doença?
A esquistossomose é uma doença parasitária relacionada a condições sanitárias precárias e falta de saneamento básico. Ela é transmitida quando um hospedeiro elimina ovos do verme Schistosoma mansoni nas fezes. Quando esses ovos eclodem na água, liberam larvas que infectam caramujos. Após quatro semanas, as larvas, agora cercárias, deixam os animais e, ao entrar em contato com água contaminada, podem infectar humanos através da pele.
Na corrente sanguínea, as larvas se transformam em esquistossômulos e amadurecem nas veias do intestino. Os sintomas podem surgir entre duas a seis semanas após a contaminação.
A doença é detectada por exames laboratoriais de fezes e é tratada com um medicamento chamado praziquantel. O remédio não oferece proteção contínua, por isso a pessoa pode se reinfectar e desenvolver resistência parasitária.
Além da vacina do Instituto Butantan, existe outra em desenvolvimento. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tem realizado testes com a Schistovac, primeiro imunizante do mundo contra a esquistossomose que visa interromper a proliferação do parasita.